Algumas espécies de plantas quando presentes de forma indesejada em um sistema de produção agrícola podem ser consideradas plantas daninhas por matocompetirem com plantas cultivadas por recursos como água, nutrientes e radiação solar. Dependendo da espécie de daninha e densidade populacional, perdas produtivas superiores a 50% podem ser observadas na lavoura.
Dessa forma, o manejo e controle eficiente de plantas daninhas é indispensável em uma produção com interesse comercial. Além disso, algumas espécies de plantas daninhas podem atuar como ponte verde para a sobrevivência e manutenção de populações de pragas e doenças.
Contudo, para um manejo eficiente das plantas daninhas, não basta apenas realizar a aplicação de herbicidas, é preciso integrar práticas que permitam reduzir a população das plantas daninhas e os fluxos de emergência delas. Algumas plantas a exemplo da buva (Conyza spp.) e o caruru (Amaranthus sp.), possuem elevada capacidade de produzir sementes, as quais são facilmente dispersas, dando origem a novas populações de plantas daninhas quando encontram condições adequadas de umidade, temperatura e luz pra germinar.
Conforme Dauer et al. (2007), uma planta de buva é capaz de produzir mais de 100.000 sementes. Já se tratando do caruru, Penckowski et al. (2020) destacam que a produção de sementes por planta pode variar de 200.000 a 600.000 dependendo da espécie. Essa elevada produção de sementes, possibilita o incremente das sementes do banco de sementes do solo, refletindo em grandes fluxos de emergência das plantas daninhas.
Visando um manejo eficiente de plantas daninhas, trabalhar com práticas de manejo que alterem a dinâmica de germinação das sementes do banco de sementes do solo é de suma importância. Conforme destacado por Barroso & Murata (2021), o número de sementes no banco de sementes do solo pode variar de acordo com o sistema de produção (plantio direto ou convencional), espécies e populações de daninhas presentes na área, podendo chegar a mais de 30 mil sementes por metro quadrado nas camadas mais superficiais do solo.
O banco de sementes do solo depende do acúmulo de sementes dispersas e da disseminação de sementes pelas plantas daninhas presentes na área de produção, sendo assim, evitar com que plantas daninhas completem seu ciclo de desenvolvimento, especialmente as que produzem sementes é de suma importância para reduzir o banco de sementes do solo.
Figura 1. Dinâmica do banco de sementes de plantas daninhas no solo.

De forma interligada, além do controle eficiente de planta daninhas, o uso de herbicidas pré-emergentes e a boa cobertura do solo contribui significativamente para a redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas. Os herbicidas pré-emergentes atuam diretamente no banco de sementes do solo, inibindo a germinação ou causando a morte das sementes durante o processo germinativo.
Já a boa cobertura do solo, com palhada residual, restringe a chegada de luz no solo, impossibilitando a germinação das sementes fotoblásticas positivas (necessitam de luz para germinar). Barroso e Murata (2021) destacam que ao menos metade das espécies de plantas daninhas anuais são fotoblásticas positivas, logo, a boa cobertura do solo é uma interessante alternativa para reduzir os fluxos de emergência de plantas daninhas, especialmente se tratando do sistema plantio direto.
No que diz respeito as formas de controle, embora em situações mais severas, o controle mecânico possa ser uma alternativa em cultivos onde não se tem o sistema plantio direto consolidado, cabe destacar que conhecer a forma de propagação da planta daninha e espécies presentes na área é de suma importância para a eficácia do controle.
Algumas espécies se reproduzem por meio de estruturas vegetativas, tais como bulbos, rizomas, tubérculos ou estolões. O corte dessas estruturas pode em algumas situações, resultar no aumento do número plantas daninhas pelo aumento da quantidade de estruturas viáveis em decorrência do corte. Além disso, dependendo da forma como é realizado o controle mecânico, a exemplo da gradagem, o revolvimento do solo pode movimentar sementes presentes em camadas mais profundas do solo, viabilizando a germinação delas, refletindo em novos fluxos de emergência.
Além do método químico para controle de daninhas, é possível fazer uso do controle culturas, mecânico, físico entre outros, sendo interessante integrar medidas de controle para maior eficiência no manejo de plantas daninha. Além dos métodos de controle, uma das principais alternativas visando a redução das populações de plantas daninhas em lavouras é “evitar a entrada da planta daninha”.
Áreas de bordadura, assim como sementes contaminadas com sementes e/ou propágulos de plantas daninhas podem servir como fonte de inserção de algumas espécies nas áreas de produção. Em sistemas onde há a integração lavoura/pecuária, a quarentena de animais oriundos de outras áreas é de suma importância para a redução disseminação de sementes de plantas daninha. Da mesma forma a limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas quando realizada a troca de talhão pode contribuir significativamente para o não aumento das sementes no banco de sementes do solo.
Logo, evitar situações que possam resultar no aumento do banco de sementes do solo é essencial para reduzir os fluxos de emergência de plantas daninhas, contribuindo para o manejo da lavoura, podendo inclusive reduzir a necessidade do controle químico de plantas daninhas.
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Referências:
BARROSO, A. A. M.; MURATA, A. T. MATOLOGIA: ESTUDOS SOBRE PLANTAS DANINHA. Fábrica da palavra, 2021.
DAUER, J. T. et al. TEMPORAL AND SPATIAL DYNAMICS OF LONG-DISTANCE Conyza canadensis SEED DISPERSAL. Journal of Applied Ecology 2007. Disponível em: < https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-2664.2006.01256.x >, acesso em: 17/11/2021.
OLIVEIRA, M. F.; BRIGHENTI, A. M. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS MÉTODOS FÍSICO, MECÂNICO, CULTURAL, BIOLÓGICO E ALELOPATIA. Embrapa, 2018. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1103281/controle-de-plantas-daninhas-metodos-fisico-mecanico-cultural-biologico-e-alelopatia >, acesso em: 17/11/2021.
PENCKOWSK, L. H. et al. ALERTA! CRESCE O NÚMERO DE LAVOURAS COM Amaranthus hybridus RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO NO SUL DO BRASIL: O PRIMEIRO PASSO É SABER IDENTIFICAR ESSA ESPÉCIE! Revista FABC – Abril/Maio 2020. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/ebook/REVISTA-Fabc.pdf >, acesso em: 17/11/2021.