O objetivo do trabalho foi avaliar o controle de Phakopsora pachyrhizi e de percevejos, bem como a produtividade da cultura soja em função da pulverização de fungicidas e inseticidas por diferentes métodos de aplicação.
Autores: GUSTAVO P. DE ANDRADE1, CAIO A. F. MOREIRA2, JADER J. FRANCO3, LAERCIO L. HOFFMANN4, WENDEL C. SILVEIRA5, DIONATAN D. M. ARAÚJO6

Introdução
A área nacional cultivada com soja é de aproximadamente 35,8 milhões de hectares, com produção estimada em 113,8 milhões de toneladas do grão na safra 2018/19 (CONAB, 2019). A ferrugem‑asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada a doença mais severa da cultura da soja (GODOY et al., 2016) e, dentre os insetos pragas, os percevejos são considerados o principal problema entomológico (PANIZZI et al., 2012). Diante disso, a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários é uma ferramenta que pode ser usada para maximizar a produtividade (CUNHA et al., 2010). Fazer com que as gotas atravessem a camada superior das plantas de soja é o principal desafio para a tecnologia de aplicação, visando garantir uma adequada deposição e distribuição das gotas, cobrindo todo o dossel da cultura (FERRREIRA; OLIVEIRA, 2008). Dentre os principais métodos de aplicação disponíveis no mercado, destaca-se a aplicação aérea com atomizadores rotativos de tela e com bicos defletores e a aplicação tratorizada com bicos cônicos. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar o controle de Phakopsora pachyrhizi e de percevejos, bem como a produtividade da cultura soja em função da aplicação de fungicidas e inseticidas por diferentes métodos de aplicação.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em lavoura comercial de soja na safra agrícola 2018/19, no município de Jaguarão – RS, latitude 32°29’59.71’’ S e longitude de 52°15’53.97’’ O. Foi utilizada a cultivar TEC IRGA, densidade de semeadura de 13 sementes por metro e espaçamento entre linhas de 0,45 m, semeada no dia 01/11/2018. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (Tabela 1) e cinco repetições. Para os tratamentos aéreos foi utilizada aeronave agrícola modelo Ipanema EMB 202A, equipada em dois tratamentos com oito atomizadores rotativos de tela, calibrados para produção de gotas médias e dois volumes de aplicação (10 e 15 L ha-1) e em um tratamento, utilizando barra equipada com 32 bicos defletores, calibrados para produção de gotas médias e um volume de aplicação (30 L ha-1).
Para o tratamento terrestre foi utilizado pulverizador tratorizado, modelo Fenix 300, equipado com barra de vinte e um metros e 42 pontas de jatos cônicos cheios modelo Magno CH 100, calibrado para produção de gotas médias com pressão controlada por fluxômetro em 4,1 bar, velocidade de 9 km/h e volume de aplicação de 100 L ha-1. As unidades experimentais para os tratamentos aéreos e terrestre constaram de 10 ha garantindo desta forma a sobreposição adequada com vento de “través” (lateral ao sentido de deslocamento). As testemunhas foram obtidas através da demarcação de 10 pontos na lavoura, cobertos com lonas plásticas de 24 m2 (6,0 m de comprimento x 4,0 m de largura) antes das aplicações dos tratamentos. As aplicações foram efetuadas nos estádios R2 e R2+15 dias da cultura da soja, com os seguintes produtos e doses aplicados em R2: fungicida Elatus (0,2kg ha-1); fungicida Cypress (0,3 L ha-1); inseticida Engeo Pleno (0,25 L ha-1); inseticida Nomolt (0,15 L ha-1), adjuvante à base de óleo mineral Nimbus (0,5 L ha-1). Já em R2+15 foram: fungicida Vessarya (0,6 L ha-1); fungicida Cypress (0,3 L ha-1); inseticida Platinum Neo (0,25 L ha-1) e inseticida Nomolt (0,15 L ha-1).
De modo complementar ao manejo fitossanitário, a área experimental recebeu aplicações em V7 e R2+35, nas condições do produtor, seguindo recomendações técnicas. As condições meteorológicas foram monitoradas em todas as aplicações e mantiveram-se dentro dos limites ideais. Foram avaliadas a deposição de gotas por meio da coleta em cartão hidrossenssível e posterior análise no software Stain Master (Figura 1), a severidade de ferrugem no estádio R6 através da escala diagramática (GODOY et al., 2006), o controle do percevejo Dichelops furcatus (espécie predominante na área) aos dez dias após a aplicação (DAA) e a produtividade da cultura, obtida através da colheita manual de área útil de 2,7 m2. Após a colheita, foi realizada trilha, limpeza e pesagem dos grãos e, posteriormente, os dados foram corrigidos para 13% de umidade e convertidos em kg ha-1.
Tabela 1. Equipamentos e calibração para aplicação dos tratamentos em R2 e R2+15 na cultura da soja. Jaguarão, RS, 2018/19.
Resultados e Discussão
As aplicações com tratamento terrestre (T5), em ambos os estádios de aplicação, proporcionaram, em números absolutos, maiores densidades de gotas nos diferentes terços avaliados comparados às aplicações aéreas (Figura 1). Ainda, em relação a aplicação terrestre em R2+15 dias, a densidade de gotas coletadas no terço superior foi 56,4% superior ao coletado no mesmo terço em R2 e, 31,3% e 72,7% inferiores no terços médio e inferior, respectivamente. O mesmo comportamento foi observado para o tratamento aéreo com atomizador rotativo de telas e volume de aplicação 10 L ha-1. Essa desuniformidade de cobertura, principalmente no estádio R2+15, ocorre pela barreira física do dossel da cultura (NASCIMENTO et al., 2018), resultando em maior captura de gotas no terço superior da soja. Para o controle do percevejo Dichelops furcatus, em números absolutos, todos os tratamentos resultaram em redução populacional aos 10 DAA, com destaque para o T2, que praticamente zerou a população de adultos e ninfas da espécie.
Os percevejos, em geral, são responsáveis por redução no rendimento e na qualidade dos grãos de soja, em consequência das picadas e da transmissão de moléstias (MULLER et. al., 2017). De modo geral, observa-se que os tratamentos com aplicação de fungicidas em R2 e R2+15, a severidade da ferrugem foi inferior em todos os terços avaliados em comparação à testemunha e, não foram observadas diferenças entre esses. A produtividade da cultura da soja foi significativamente superior nos tratamentos que receberam aplicação de fungicidas e inseticidas, independente do método de aplicação, comprovando a importância do manejo fitossanitário da cultura da soja.
Figura 1. Densidade de gotas nos terços superior (S), médio (M) e inferior (I) no dossel da cultura da soja nas aplicações em R2 e R2+15. Jaguarão, RS, 2018/19.
Figura 2. Controle de percevejo Dichelops furcatus na cultura da soja 10 dias após a aplicação dos tratamentos. Jaguarão, RS, 2018/19.
Tabela 2. Severidade de ferrugem asiática no estádio R6, nos terços superior, médio e inferior e produtividade da cultura da soja em função dos tratamentos com fungicidas e diferentes equipamentos. Jaguarão, RS 2018/19.
Conclusões
Os tratamentos com aplicação de fungicidas e inseticidas, nos diferentes métodos avaliados, foram eficientes e resultaram na redução da severidade da ferrugem asiática, na redução populacional de percevejos Dichelops furcatus e no aumento de produtividade da cultura da soja.
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Referências
CONAB, Companhia Nacional de abastecimento. Acompanhamento da Safra Brasileira – Grãos, Safra 2018/19, N.7. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acessado em 25 abr. 2019.
CUNHA, J. P. A. R.;SIVA, L.L. da; BOLLER, W.; RODRIGUES, J. F. Aplicação aérea e terrestre de fungicida para o controle de doenças do milho. Revista Ciência Agronômica, v.41, n.3,p.366-372, 2010.
FERREIRA, M.C.; OLIVEIRA, J.R.G. Di. Aplicação de fungicidas na cultura da soja com pulverizador costal pressurizado e manual elétrico com bico rotativo para baixo volume. Parte 1. Cobertura. In: Sintag, 4., 2008. Ribeirão Preto, SP. Artigos…Instituto Agronômico de Campinas, SP, 2008.1 CD ROM.
GODOY, C.V.; SEIXAS, C.D.S.; SOARES, R.S.; MARCELINO‑GUIMARÃES, F.C.; MEYER, M.C.; COSTAMILAN, L.M. Asian soybean rust in Brazil: past, present, and future. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.51, n.5, p.407-421, 2016.
MULLER. D.; LAMERS, N.; GNIECH, L.; SAUSEN, D.; MAMBRIN, R.B. Controle de percevejo-marrom em soja com o uso de produtos químicos e biológicos. RN: ll Congresso Internacional das ciências agrárias, 2017. disponível em: https://cointer-pdvagro.com.br/wp-content/uploads/2018/02/controle-de-percevejo-marrom-em-sojacom-o-uso-de-produtos-qu%c3%8dmicos-e-biol%c3%93gicos.pdf acesso 29 abr. 2019.
NASCIMENTO, J.M.; GAVASSONI,W.L; BACCHI, L.M.A., OLIVEIRA, J.L.; LABORDE, M.C.; PONTIM, B.C.A.; MARCIEL PEREIRA MENDES, M.P. Manejo da ferrugem asiática da soja com aplicações de fungicidas iniciadas na detecção do patógeno ou posteriores. Revista Agrarian, v.11, n.39, p.42-49, 2018.
PANIZZI, A. R.; BUENO, A. F.; SILVA, F. A. C. Insetos que atacam vagens e grãos. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Eds). Soja: manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga. Brasília: Embrapa, 2012. Cap. 5, p. 335-420
Informações dos autores
1Eng. Agr. M. Sc., Fitossanidade, Andrade Consultoria – Tecnologia de Aplicação, Rua Guilherme Navarini, 15 – Pelotas, RS., gustavopda@yahoo.com.br;
2Eng. Agr. Dr., Sustainable and Resposible Business Brazil – Syngenta;
3Eng. Agr. M. Sc., Fitossanidade;
4Eng. Agr. Dr., Desenvolvimento Técnico de Mercado – Syngenta;
5Graduando em Agronomia – Unopar;
6Graduando em Engenharia Agrícola – UFPel.