O déficit hídrico é um dos principais fatores limitantes da produtividade, podendo afetar diferentemente o crescimento e desenvolvimento vegeta, tanto no período vegetativo quanto reprodutivo do desenvolvimento da cultura. Quando as células vegetais ficam submetidas ao déficit hídrico, ocorre a desidratação celular, a qual afeta adversamente muitos processos fisiológicos básicos, podendo entre outros fatores, alterar o fechamento estomático, a expansão foliar, atividades metabólicas e fotossíntese da planta (Taiz et al., 2017).
Além de afetar a cultura cultivada, a deficiência hídrica pode estimular respostas morfológicas das plantas, dificultando inclusive o controle de plantas daninhas. O manejo e controle de plantas daninhas é fundamental para reduzir as perdas produtivas em decorrência da matocompetição. Uma das respostas mais comuns das plantas ao déficit hídrico, principalmente quando associado a elevadas temperaturas é o espessamente da cutícula da folha, característica que em conjunto com o fechamento estomático, dificulta a penetração de herbicidas na folha, reduzindo a retenção da calda de pulverização no limbo foliar e prejudicando a absorção e translocação do herbicida.
Tendo em vista que herbicidas pós-emergentes, em especial o glifosato são as ferramentas de manejo mais utilizadas para o controle de plantas daninhas na soja RR, mudanças morfológicas como o espessamento da cutícula podem implicar em maiores perdas dos herbicidas em virtude a maior exposição a intempéries, evaporação e volatilização. Se tratando do glifosato em específico, por ser considerado um herbicida sistêmico, é fundamental que haja boa absorção do produto pela planta para um controle eficiente da planta daninha.
A absorção do glifosato é basicamente foliar, e sua translocação se dá pelo simplasto até o seu sítio de ação, onde ocorre a inibição da enzima 5-enolpiruvil-chiquimato-3-fosfato- sintase (EPSPs) e, consequentemente, a inibição da síntese de três aminoácidos essenciais: triptofano, fenilalanina e tirosina; além disso, a duração desse processo depende da idade em que a planta se encontra no momento da aplicação, das condições edafoclimáticas durante o seu desenvolvimento e da concentração do herbicida sobre a planta (Martins et al.,2021). Logo, o espessamento da cutícula, em resposta a ocorrência do déficit hídrico, pode dificultar a absorção do produto, prejudicando consequentemente sua eficiência.
Martins et al. (2021) ainda destacam alguns estudos científicos que evidenciam a redução da eficiência do glifosato no controle de plantas daninhas em função do déficit hídrico. Chase e Appleby (1979) observaram que, em plantas de tiririca sob um potencial hídrico do solo de -0,8 MPa, a eficiência do glifosato não foi reduzida, mas à -1,1 MPa o controle foi 50% menor do observado em plantas que se desenvolveram sob capacidade de campo; Ahmadi et al. (1980) verificaram que, em condições de baixa umidade do solo, -3,7 MPa, apenas 15% a 20% do glifosato aplicado foi absorvido por plantas de Echinochloa crus-galli (L.) Beauv. que se desenvolveram nesta condição hídrica do solo.
Dessa forma, fica evidente a influência do déficit hídrico na absorção do glifosato e consequentemente redução da eficiência do herbicida em controlar determinadas plantas daninhas. Logo, além do estádio de desenvolvimento, dose e condições ambientais no momento da aplicação, a eficiente do glifosato no controle de plantas daninhas pode estar condicionada a absorção do produto pelas plantas, sendo menor em espécies com maior espessura da cutícula, em especial as com cera epicuticular das folhas muito hidrofóbica. Além disso, pode-se concluir que o déficit hídrico entre outros fatores pela indução do fechamento estomático e espessamento da cutícula das folhas, pode reduzir a eficiência do glifosato em controlar plantas daninhas.
Referências:
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017.
MARTINS, D. et al. ESTRESSE HÍDRICO NO MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. Matologia: estudos sobre plantas daninhas, Jaboticabal, ed. 1, 2021.
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