O trigo (Triticum aestivum L.) constitui-se na principal cultura de inverno na Região Sul do Brasil. Em algumas situações, pode ocorrer competição no tempo de cultivo entre as culturas de inverno e as culturas de verão, pois o final do ciclo das culturas de inverno e o início do ciclo das culturas de verão se sobrepõem no mesmo período do ano.
Visando a semeadura de soja em sucessão ao trigo, cada vez mais cedo os agricultores estão optando pela antecipação da colheita do trigo, por vezes com uso de dessecantes (Pires, 2016). A dessecação antecipa a colheita do trigo em até seis dias, pelo efeito do herbicida que literalmente mata a planta após esta ter atingido estádio de maturação fisiológica das sementes.
Os riscos da dessecação na cultura do trigo estão associados à redução da germinação, contaminação dos grãos com o herbicida e redução da produção. A antecipação da colheita do trigo pode ser uma prática importante em locais onde o final do ciclo da cultura do trigo sobreponha o período de instalação da cultura cultivada em sucessão, como a soja e o milho, bem como pode ser alternativa para reduzir a germinação pré-colheita deste cereal em condições de ambiente favoráveis à ocorrência desse estresse abiótico.
A aplicação de herbicidas dessecantes acelera o processo de perda de água pelas plantas e, consequentemente, das sementes, antecipando a colheita e o período de exposição prolongada a fatores bióticos e abióticos após a maturidade fisiológica (Hamer & Hamer, 2003).
No Brasil, o herbicida Finale (amônio-glufosinato) é o único produto comercial com registro no Ministério da Agricultura para ser aplicado como dessecante na pré-colheita do trigo com objetivo de antecipar a colheita (Agrofit, 2020). Na dessecação pré-colheita, o herbicida Finale deve ser aplicado quando o trigo estiver no estádio vegetativo de grãos amarelos/massa mole a grãos dourados/massa dura, na dose de 1,75 L/ha + 0,5 L de óleo vegetal (0,25% v/v) com volume de calda de 200 L/ha (Agrofit, 2020).
É conveniente observar o momento certo da aplicação de dessecantes em pré-colheita, pois aplicações realizadas antes das culturas atingirem a maturidade fisiológica podem interferir negativamente no enchimento dos grãos, no vigor e na germinação de sementes, podendo levar a perdas na produtividade e na qualidade do produto colhido (Sirotti, 2012). Além disso, a dessecação em fase pré-colheita pode ocasionar acúmulo de resíduo de herbicidas nos grãos.
O nível de resíduo depende de diversos fatores, tais como o momento da aplicação, a dose aplicada, as condições ambientais, o período de carência e as características físico-químicas do herbicida, principalmente aquelas relacionadas à persistência no ambiente (Midio & Martins, 1997).
Assim, a dessecação pré-colheita é uma prática que pode ser viável, contudo deve ser realizada com acompanhamento de profissional habilitado, com uso de produtos registrados para esse fim e seguindo as indicações de uso constantes na bula dos produtos.
- Leandro Vargas – Pesquisador da Embrapa Trigo
- Osvaldo Vasconcellos Vieira – Chefe-Geral Interino da Embrapa Trigo
Para saber mais:
AGROFIT. Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>
MIDIO, A.F.; MARTINS, D.I. Herbicidas em Alimentos. São Paulo, Editora Varela, 1997. 109pp
PIRES, J. L. F.; STRIEDER, M. L.; MARSARO JÚNIOR, A. L.; PEREIRA, P. R. V. da S.; COSTAMILAN, L. M.; MACIEL, J. L. N.; DE MORI, C.; CAIERAO, E.; GUARIENTI, E. M.; CARRÃO-PANIZZI, M. C.; DALMAGO, G. A.; SANTOS, H. P. dos; FAE, G. S.; SILVA JUNIOR, J. P. da; SANTI, A.; CUNHA, G. R. da; VARGAS, L.; PASINATO, A. Estratégias de sucessão trigo/aveia preta-soja para sistemas de produção de grãos no Planalto Médio do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2016. 24 p. (Embrapa Trigo. Circular técnica online, 30). https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/144792/1/ID43667-2016CTO30.pdf
SIROTTI, S.R. Dessecantes químicos em pré-colheita da soja na produtividade e qualidade de sementes. 2012.46f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste Paulista, 2
Fonte: Embrapa Trigo