O milho (Zea mays) é uma gramínea pertencente à família Poaceae, se destaca como um dos cereais mais cultivados no mundo, devido a sua versatilidade, possui grande importância econômica, sendo utilizado desde a alimentação humana, animal até seu uso na indústria e na produção de biocombustíveis. De acordo com dados da CONAB (2023), a área cultivada com milho no Brasil durante a safra 2022/23 abrangeu 22.267,4 milhões de hectares, registrando uma produtividade média de 5.922 Kg por hectare, representando um aumento de 13% em comparação com a safra anterior.

A ocorrência de doenças durante o ciclo de desenvolvimento da cultura pode causar prejuízos por perdas de produtividade, além de comprometer a qualidade dos grãos produzidos. Os danos causados por doenças foliares resultam na redução da eficiência fotossintética, à medida que a área afetada por essas lesões aumenta, ocorre necrose nas folhas.

A mancha branca é considerada, atualmente, como uma das principais doenças foliares que afetam a cultura do milho no Brasil, a sua presença é verificada em praticamente todas as regiões produtoras do país (Costa et al., 2011). Quando as folhas atingem uma severidade de doença entre 10 e 20%, pode-se observar uma redução substancial na taxa de fotossíntese líquida, que pode chegar a aproximadamente 40%, especialmente em variedades de plantas suscetíveis (Godoy et al., 2001).

A mancha branca, cujo principal agente etiológico é a bactéria Pantoea ananatis, além de espécies fúngicas associadas, como a Phaeosphaeria maydis, representa uma doença que está resultando em notáveis ​​reduções na produtividade do milho. Essa redução pode ser significativa, atingindo até 60% quando utilizados híbridos suscetíveis em condições ambientais adequadas para o desenvolvimento da doença (Borsoi et al., 2018).

As lesões iniciais apresentam uma aparência de encharcamento, assemelhando-se a anasarca, e com o tempo, tornam-se necróticas, adquirindo uma coloração palha. Estas lesões assumem uma forma circular a oval, com diâmetros variando de 0,3 a 2 centímetros. Em casos mais severos, é comum ocorrer a coalescência das lesões, resultando em danos mais extensos nas folhas.

Figura 1.  Sintomas típicos da mancha branca do milho. Detalhes das lesões em fase inicial (anasarca) e lesões velhas com aspecto necrótico e coloração branca.

Fonte: Costa et al. (2011).

Em condições de alta severidade, a doença também pode afetar as brácteas da espiga. Geralmente essa doença, tem seu ponto de partida nas folhas localizadas no terço inferior da planta próximas ao solo, progredindo rapidamente para a as folhas do terço médio e superior (Custódio et al., 2020).Conforme destacam Grigolli & Grigolli (2020), sob condições de ataque severo, os sintomas da doença também podem ser observados na palha da espiga, geralmente os sintomas não ocorrem em plântulas de milho.  Borsoi et al. (2018), afirma que os sintomas se tornam mais severos após o pendoamento do milho.

O inóculo da mancha branca provém principalmente de restos culturais, e até o momento não foram identificados hospedeiros intermediários, a propagação do patógeno ocorre através do vento e dos respingos de chuva. A condição ideal para o desenvolvimento da mancha branca inclui temperaturas noturnas amenas, variando entre 15 e 20°C, uma alta umidade relativa do ar e elevada precipitação pluviométrica.

É importante ressaltar que os plantios tardios tendem a favorecer a severidade da doença, isso ocorre porque essas condições climáticas muitas vezes coincidem com o período de florescimento da cultura, durante o qual as plantas são mais suscetíveis ao ataque do patógeno, resultando em sintomas mais graves (Grigolli & Grigolli, 2020).

Plantas infectadas precocemente pela mancha branca podem sofrer uma redução na produtividade quando as condições climáticas são adequadas, isso inclui uma alta umidade relativa ao ar, preferencialmente com a presença de água livre na superfície da folha, e temperaturas moderadas, tais condições climáticas são frequentemente observadas em regiões localizadas a uma altitude acima de 600 metros. Além disso, em condições de campo, as plantas de milho tendem a apresentar um aumento acentuado na severidade da mancha branca após o período de florescimento, com a progressão da doença se intensificando durante a fase de enchimento de grãos (Costa et al., 2017).

De acordo com pesquisas realizadas por Carson (2007), o aumento de 1% na severidade de mancha branca no milho, causa a perda de 0,23% na produtividade de grãos. Para o controle da mancha branca no milho, algumas estratégias de manejo são recomendadas, como a rotação de culturas que não sejam suscetíveis a doença, uma vez que uma palhada remanescente de cultivos anteriores pode servir como um meio propício para a sobrevivência e disseminação do fungo causador da mancha branca. Além disso, o uso de sementes de qualidade, juntamente com tratamento adequado de fungicidas, é importante para o crescimento de plântulas mais saudáveis e previne a ocorrência de doenças nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura.



Nesse sentido, o manejo de resistência, a antecipação de semeadura e evitar as condições favoráveis para incidência da doença, é fundamental. O manejo genético é considerado a abordagem mais recomendada, com a escolha de variedades de milho que sejam geneticamente resistentes à mancha branca. No entanto, o controle químico é ainda o método mais utilizado, apresentando melhor eficácia com os ingredientes ativos do grupo das estrobirulinas (Borsoi et al., 2018).

De acordo com Pegoraro et al. (2001), o cultivo do milho na Região Sul do Brasil após o mês de outubro pode ser arriscado em termos de produtividade, uma vez que a severidade da mancha-foliar de Phaeosphaeria tende a aumenta com o atraso na semeadura. Os autores destacam ainda, que para semeaduras realizadas a partir de novembro, torna-se especialmente importante a escolha de híbridos resistentes a essa doença.


Veja mais: Carvão do milho (Ustilago maydis)



Referências:

BORSOI, F. T. et al. MANCHA BRANCA NO MILHO: ETIOLOGIA E CONTROLE. Agropecuária Catarinense, Informativo técnico, v.31, n.3, p.31-34, Florianópolis – SC, 2018. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/view/191/268 >, acesso em: 18/09/2023.

CARSON, M. L. YIELD LOSS POTENTIAL OF PHAEOSPHAERIA LEAF SPOT OF MAIZE CAUSED BY PHAEOSPHAERIA MAYDIS IN THE UNITED STATES. The American Phytopathological Society, 2007. Disponível em: < https://apsjournals.apsnet.org/doi/10.1094/PD-89-0986 >, acesso em: 18/09/2023.

CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GRÃOS, SAFRA 2022/23. Companhia Nacional de Abastecimento, 12° levantamento, 2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/49098_b2d232d2b5fbe4da1a15d9e457cde081 >, acesso em: 18/09/2023.

COSTA, R. V. et al. MEDIDAS DE CONTROLE DA MANCHA BRANCA EM MILHO. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 220, 2017. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/medidas-de-controle-da-mancha-branca-em-milho >, acesso em: 18/09/2023.

COSTA, R. V. et al. RECOMENDAÇÕES PARA O CONTROLE QUIMICO DA MANCHA BRANCA DO MILHO. Embrapa, Circular técnica 167. Sete Lagoas – MG, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/50969/1/circ-167.pdf >, acesso em: 18/09/2023.

CUSTÓDIO, A. A. P. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DA MANCHA BRANCA DO MILHO segunda safra 2020. Boletim técnico n° 96, IDR – Paraná. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://www.idrparana.pr.gov.br/sites/iapar/arquivos_restritos/files/documento/2021-01/bt96_-_idr-parana_-_29-01-2021.pdf >, acesso em: 18/09/2023.

GODOY, C. V. et al. ALTERAÇÕES NA FOTOSINTESE E NA TRANSPIRAÇÃO DE FOLHAS DE M ILHO INFECTADAS POR Phaeosphaeria maydis. Fitopatologia brasileira 26 (2), 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/QS37wLdvDNHhDyPrB78wTnM/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 18/09/2023.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. DOENÇAS DO MILHO SAFRINHA. Tecnologia e Produção: Safrinha 2019, Fundação MS. Maracaju – MS, 2020. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Milho-Safrinha-2019.pdf >, acesso em: 18/09/2023.

PEGORARO, D. G. et al. EFEITO DA ÉPOCA DE SEMEADURA E ADUBAÇÃO NA MANCHA-FOLIAR DE Phaeosphaeria EM MILHO. Pesquisa agropecuária brasileira, v. 36, n. 8, p. 1037-1042. Brasília – DF, 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/dV3XHrKNzf7RGynV9PvbsHK/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 18/09/2023.

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