Foto de capa: Jonas Arnemann

As pragas de início de ciclo podem comprometer o potencial produtivo da cultura da soja, atacando-a quando se encontra altamente sensível e com pouca área foliar. Por isso, o monitoramento rigoroso e manejo assertivo das pragas nessa fase da cultura são cruciais. Na semana passada, abordamos em detalhes a bioecologia e o manejo do tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus). Hoje, trataremos de uma praga invasiva com ocorrência crescente no Brasil e América do Sul: a mosca-da-haste (Melanagromyza sojae).

Ocorrência e bioecologia

Nativa da Ásia, a mosca-da-haste apresenta infestações mais expressivas em cultivos de soja de segunda safra (soja safrinha), embora sejam relatadas ocorrências também na safra principal. O dano é ocasionado pela larva do inseto, que perfura o interior da haste (broqueamento), causando redução de crescimento e perdas severas de produtividade. O hábito alimentar da larva, associado à ausência de sintomas externos nas plantas, dificulta o seu monitoramento e manejo.

Os adultos são moscas pequenas de coloração preta e abdômen verde. As fêmeas depositam seus ovos em furos na face superior dos folíolos jovens (postura endofítica), e após 2 a 4 dias, eclodem deles as larvas de coloração amarelada. Em seguida, elas perfuram o mesófilo foliar e o pecíolo até penetrar na haste principal da planta, onde passam por três ínstares em um período de 7 a 12 dias. Cada fêmea pode ovipositar até 170 ovos. 

Figura 1. Ciclo biológico de Melanagromyza sojae e período crítico como praga (vermelho).

Crédito da figura: Tiago Colpo.

A fase de pupa ocorre dentro das galeiras, no interior da planta, e dura de 7 a 12 dias. Após esse período, os adultos emergem e abandonam a planta através de um orifício feito pela larva, antes de pupar. A duração do ciclo de ovo a adulto varia de 16 a 26 dias, ocorrendo três a quatro gerações por ciclo da cultura da soja. Na mesma planta podem ser encontrados insetos em todas as fases do ciclo, ao mesmo tempo. 

Sintomas e danos

A larva consome o interior da haste das plantas (medula), produzindo galerias de coloração avermelhada que podem ocupar até 70% do comprimento da haste principal. Ramificações laterais também podem ser atacadas. As galerias são produzidas tanto no sentido descendente quanto ascendente, comprometendo a capacidade de translocação de água e fluidos da planta. Como resultado, a área foliar pode ser reduzida em mais da metade e, sob altas infestações, as plantas murcham e aceleram a maturação. 

Figura 2. Adulto de Melanagromyza sojae ovipositando em folha de soja.

Crédito da foto: Jonas Arnemann.

O potencial de redução de produtividade é maior na soja safrinha, quando o ciclo mais curto da cultura restringe a capacidade das plantas de recuperarem-se da injúria ocasionada pela larva. Embora as infestações possam ocorrer ao longo de todo o ciclo da cultura, apenas ataques nos estádios iniciais de desenvolvimento (quatro a cinco semanas após a emergência das plântulas) resultam em perdas significativas na produtividade, pois em plantas já estabelecidas as galerias não atingem os tecidos condutores do xilema.

A detecção da praga é dificultada pela ausência de sintomas nas plantas, com exceção de eventuais alterações morfológicas, como encurtamento dos entrenós, ramificação excessiva e engrossamento na base do caule. Tampouco é possível verificar a presença de ovos com facilidade. Recomenda-se o monitoramento por meio da visualização de larvas, pupas e/ou galerias de alimentação na haste principal e nas ramificações das plantas de soja (Figura 3). 

Figura 3. Túneis de alimentação e pupa de Melanagromyza sojae em haste de soja.

Crédito da foto: Henrique Pozebon. 

Controle

A rotação de culturas com gramíneas, como o milho, é recomendada para o controle dessa praga, uma vez que a mosca-da-haste desenvolve-se apenas em algumas espécies de leguminosas. Outras possibilidades de controle preventivo incluem a semeadura antecipada, de modo a alongar o ciclo da cultura; e a eliminação de plantas voluntárias na entressafra, reduzindo a pressão populacional para a safra subsequente.

O manejo curativo de mosca-da-haste é dificultado pelo hábito alimentar da larva, devendo ser realizado antes da entrada desta na haste principal e/ou após a emergência do adulto. No intervalo compreendido entre esses dois momentos, as chances de controle são muito pequenas. Atualmente, há somente um inseticida químico registrado para o controle de mosca-da-haste no Brasil, que é a clotianidina (neonicotinoide). 

Entretanto, os ingredientes ativos clorantraniliprole, fipronil, imidacloprido e tiodicarbe apresentam eficácia de controle via tratamento de sementes, bem como clorantraniliprole, imidacloprido, bifentrina e clorpirifós, via aplicação foliar, até 10 dias após a emergência das plântulas. De forma geral, inseticidas com ação sistêmica e/ou translaminar, como os neonicotinoides, proporcionam maiores chances de controle das larvas quando estas encontram-se dentro do folíolo da soja, em deslocamento para a haste; ao passo que piretroides e outros inseticidas de choque são mais eficientes no controle dos adultos.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.

Referências:

AGROFIT. Consulta de Produtos Fitossanitários. MAPA, 2023. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>

CURIOLETTI, L. E. et al. First insights of soybean stem fly (SSF) Melanagromyza sojae control in South America. Australian Journal of Crop Science, v. 12, p. 841-848, 2018.

GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

POZEBON, H. et al. Highly diverse and rapidly spreading: Melanagromyza sojae threatens the soybean belt of South America. Biological Invasions, v. 23, p. 1405–1423, 2021.

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