Elevadas produtividades de grãos de milho são possíveis a partir do conhecimento da fisiologia, da fenologia e do manejo dessa cultura. Dentre os aspectos ligados a construção e manutenção da produtividade, destaca-se a adubação nitrogenada, onde o nitrogênio (N) é considerado o nutriente de maior limitação na produtividade de grãos na cultura do milho.
Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, com cerca de 35 milhões de toneladas, estando atrás da China e dos Estados Unidos. Apesar da grande produção, o rendimento brasileiro por hectare é baixo, sendo de 5.718 kg/ha, quando comparado ao líder do ranking, com rendimento médio de 8.670 kg/ha. Vale citar que, dentre os fatores responsáveis pela alta produtividade norte americana do cereal, destaca-se o uso de adubos nitrogenados.
Rendimentos elevados de milho demandam a aplicação de adubos nitrogenados. Os solos, de maneira geral, não suprem a exigência da cultura em termos de N nas diferentes fases de desenvolvimento da planta. Segundo Ubart & Andrade (1995) e Ecosteguy et al. (1997), o N é fundamental ao desenvolvimento das plantas de milho, permitindo um significativo aumento na área foliar e na produção da massa de matéria seca, resultando em uma maior produtividade de grãos.
Por ser um elemento essencial para as plantas, o N possui papel essencial na constituição de biomoléculas e inúmeras enzimas. O N é constituinte importante de amidos, ácidos nucleicos, nucleotídeos, ATP, NADH, clorofila e proteínas. A clorofila, por exemplo, exerce funções regulatórias de sínteses, as quais, se encontradas em escassez, afetarão diretamente a capacidade fotossintética da planta.
De acordo com as suas propriedades biológicas, químicas e físicas, o N pode ser perdido pela lixiviação, ser absorvido pelas plantas ou fixado por microrganismos no solo. A disponibilidade de nitrogênio no solo dependerá dos processos de mineralização e imobilização, cujo balanço pode variar com o tempo. A maior quantidade de nitrogênio absorvida pela cultura do milho é na forma de Nitrato (NO3), e em menor quantidade na forma de Amônia (NH3), estando disponível apenas após a liberação na solução no solo.
Porém, a quantidade de N absorvida pelo milho varia conforme o ciclo da planta. A quantidade dependerá da taxa de absorção pela unidade de massa, da quantidade de raízes, dos condicionadores do ambiente e do estágio fenológico. A quantidade aumenta durante o estadio vegetativo, chega ao seu máximo no estádio reprodutivo, ocorrendo decréscimo durante o estádio de enchimento de grãos.
Podem ser obtidos melhores rendimentos da cultura do milho quando a aplicação de adubo nitrogenado acontece de maneira parcelada. Entretanto, essa técnica exige conhecimento e bom planejamento, onde não se recomenda um manejo generalizado e único. Nesse caso, é necessário considerar a quantidade essencial a ser aplicada, atentando a aspectos como fertilidade do solo, época de semeadura, rotação de culturas e o retorno econômico.
Por conta desses fatores, não é recomendada a aplicação completa do adubo na época de semeadura, em virtude dos problemas causados pelos excessos do nutriente. Independente da variação da quantidade de adubo para diferentes áreas de plantio, é permitido considerar doses de até 30 kg/ha em adubações de base. Adubações que excedam esses valores podem resultar na redução do número de plantas por área, tornando, assim, o N tóxico para a planta devido ao acúmulo de nitrato no solo. Isto pode ocorrer pois nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, a planta exige pouca quantidade do nutriente.
Somado a isso, realizar aplicações em grandes quantidades podem resultar em perdas econômicas, pois a planta tem uma capacidade limitada de assimilar o nutriente aplicado. Sendo assim, esta quantidade excedida poderá ser perdida por processos biológicos, físicos e químicos. Por conta disso, é necessário priorizar duas aplicações por cobertura. A primeira deverá, preferencialmente, ser feita quando a planta dispor de três a quatro folhas verdadeiras. Já a segunda quando a planta apresentar cerca de oito folhas verdadeiras. Estas duas fases são recomendadas pois é justamente nelas que a absorção de nitrogênio é mais intensa.
Além disso, a rotatividade de culturas também apresenta significativa influência na produção de milho, tendo como exemplo a rotação com a cultura da soja (Bundy et al., 1993). Ressalta-se que, neste modo de cultivo, a gramínea já tem a disposição certa porção do nutriente, pois altas quantidades de N podem ser encontradas nos resíduos de soja, os quais formam uma camada superficial de palha, com alta relação C/N. Sendo assim, recomenda-se o parcelamento das aplicações do adubo nitrogenado de cobertura em menores quantidades, realizadas em três fases diferentes, que seguem as etapas de expansão das folhas do milho.
Portanto, o manejo do N para a cultura do milho deve ser realizado considerando o sistema de cultivo, a fertilidade e o tipo do solo, a rotatividade cultural na área, o retorno econômico e a operacionalidade. As aplicações carecem de atenção aos estados fenológicos, assim como na possibilidade de acúmulo de N nas diferentes fases de desenvolvimento da planta. Ademais, por ser um elemento extremamente dinâmico e facilmente influenciado por fatores climáticos, é necessário conciliar seu manejo com o potencial de produtividade e as condições locais onde será implementada a cultura do milho.
Referências:
ESCOSTEGUY, P.A.V; RIZZARDI, M.A.; ARGENTA, G. Doses e épocas de adubação de nitrogênio em cobertura na cultura do milho. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v21, p.71-77, 1997.
COELHO, A.M; FRANÇA, G.E. Nutrição e adubação do milho. Disponível em:<https:www.embrapa.br/milho/deficiência.htms> Acesso em: 12 ago. 2019.
MARTIN, THOMAS.N; CUNHA, VINÍCIUS.S; BULCÃO, FABRÍCIO.P. Oferta adequada. Disponível em:<https://www.grupocultivar.com.br/acervo110> Acesso em: 12 ago. 2019.
ARAÚJO, LUIZ. A.N; FERREIRA, MANOEL.E; CRUZ, MARA.P.C. Adubação nitrogenada. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/pab/v39n8/21738.pdf> Acesso em: 14 ago. 2019.
Texto: Otávio Eckhardt – Bolsista do grupo PET Agronomia/UFSM.