O florescimento (R1-R2) da soja começa com o aparecimento da primeira flor aberta na haste principal e se estende até o pleno florescimento dessa haste. Durante esse período, ocorrem mudanças significativas na planta: aumenta rapidamente a taxa de fixação de nitrogênio pelas bactérias nos nódulos, bem como o acúmulo de matéria seca e nutrientes nas partes vegetativas. Além disso, a planta começa a direcionar parte dos fotoassimilados, antes destinados às folhas e hastes, para a produção de flores.

Essa fase é altamente sensível à falta de água. O déficit hídrico pode levar ao abortamento de folhas, flores e futuros legumes, reduzindo o número de legumes por planta, um dos principais componentes de produtividade (Figura 1). Por isso, é essencial planejar a semeadura de forma que o florescimento e o enchimento de grãos coincidam com o período de maior disponibilidade hídrica, caso a lavoura não seja irrigada.

Figura 1. Rácemo de soja com o abortamento de flores provocado por deficiência hídrica no solo.
Fonte: Equipe FieldCrops.

Para maximizar a interceptação de luz solar, todas as folhas da planta devem estar verdes durante o florescimento. Problemas como escolha inadequada da cultivar, densidade de semeadura ou espaçamento entre linhas podem causar a senescência precoce das folhas inferiores, formando a chamada “canela” na planta (Figura 2). Nessa fase, a planta depende de uma relação equilibrada entre a folha (fonte de energia) e os órgãos reprodutivos (drenos). Sob estresse hídrico, salinidade ou altas temperaturas, as flores e legumes recebem menos fotoassimilados, levando ao abortamento de algumas estruturas reprodutivas devido à formação de hormônios do estresse, como ácido abscísico e etileno.

Figura 2. Senescência precoce de folhas em soja (A) causando redução na fixação de legumes no tercil inferior da planta, ou seja, formando “canela” na planta de soja (B).
Fonte: Equipe FieldCrops.

Essas condições também tornam a planta mais vulnerável a pragas e doenças. Pragas como tripes, que se alojam nas flores, podem causar abortamento, enquanto o mofo-branco (causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum) encontra nas flores uma fonte de energia. Essa doença é mais severa em áreas de altitude acima de 600 metros, mas seu impacto tem crescido em várias regiões do Sul e Centro-Oeste do Brasil.

Além disso, doenças como antracnose, ferrugem asiática e outras de final de ciclo (DFC) ganham importância a partir do florescimento, exigindo monitoramento constante. A antracnose, por exemplo, pode impedir a fertilização das flores, resultando em legumes deformados e sem grãos. Para o controle, recomenda-se o uso de fungicidas combinados, dependendo da pressão da doença.

Na fase seguinte, de formação de legumes (R3-R4), que começa com o aparecimento do “canivete” (legume com 0,5 cm de comprimento), a planta prioriza a alocação de fotoassimilados para os legumes. Essa fase é crítica para a definição do número de legumes por planta. Deficiência ou excesso de água pode levar ao abortamento dos legumes, afetando o equilíbrio fonte-dreno e causando problemas como retenção foliar e maturação desuniforme (Figura 3).

Fatores como ataques de percevejos, deficiência de potássio, desequilíbrio nutricional e condições climáticas adversas também podem influenciar negativamente essa fase. Além disso, o nematoide-da-haste-verde-da-soja (Aphelenchoides besseyi) tem sido associado a problemas como retenção foliar, deformações nas folhas e abortamento de flores e legumes.

Figura 3. Haste verde e retenção foliar na planta de soja após a maturação.
Fonte: Equipe FieldCrops.

As fases de florescimento e formação de legumes são momentos decisivos para o sucesso da cultura da soja. A interação de fatores como água, nutrição, radiação solar, controle de pragas e manejo de doenças determina a eficiência do desenvolvimento reprodutivo e o número de legumes formados. Ações preventivas e corretivas, como a escolha de cultivares, monitoramento da lavoura e aplicação de defensivos no momento correto, podem fazer a diferença nos resultados finais. Ao entender as demandas específicas de cada fase e manejar os fatores que impactam diretamente na produtividade, os produtores conseguem garantir lavouras mais sustentáveis e produtivas.

Referências bibliográficas

Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. 2. ed. Santa Maria, 2022.

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