Os percevejos estão entre as principais pragas da soja, por atacarem diretamente as vagens e grãos das plantas. A injúria ocasionada pela alimentação desses insetos leva ao atrofiamento dos grãos, reduzindo seu peso e, em muitos casos, causando o aborto dos mesmos. Além dos danos quantitativos, a qualidade dos grãos também é afetada, ocorrendo redução no teor de óleo, na germinação e no vigor quando destinados ao uso como semente.

A picada do percevejo no grão também pode servir como porta de entrada para microorganismos patogênicos. Adicionalmente, os percevejos podem se alimentar de outras partes da planta, como hastes, ramos e folhas. Nesse caso, a injeção de saliva (para a degradação dos tecidos que serão sugados) ocasiona distúrbios fisiológicos, como atraso na maturação e retenção foliar, prejudicando a colheita mecânica.

Espécies de percevejos da soja

Existem pelo menos 54 espécies de percevejos associados à soja no mundo todo, embora poucas sejam consideradas pragas. Dentre as 25 espécies encontradas em soja no Brasil, destacam-se pela sua importância econômica as espécies Nezara viridula (percevejo-verde-da-soja), Euschistus heros (percevejo-marrom) e Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno), além de Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus (percevejo-barriga-verde), anteriormente denominados Dichelops spp. (Figura 1). Em menor frequência, ocorrem as espécies consideradas secundárias, como Edessa meditabunda (percevejo-edessa), Chinavia sp. (percevejo-acrosterno) e Neomegalotomus simplex (percevejo-formigão).

Figura 1. Principais espécies de percevejos da soja no Brasil.

Créditos da imagem: Henrique Pozebon.

A frequência e distribuição geográfica das diferentes espécies têm se alterado ao longo dos anos, em resposta a fatores que favorecem algumas espécies em detrimento de outras, além da própria ampliação da área cultivada com soja (que favorece indistintamente todas as espécies). O percevejo-verde, por exemplo, já foi uma das espécies de maior ocorrência nas lavouras de soja da Região Sul, por ser mais adaptado ao clima frio. Já o percevejo-marrom prefere regiões mais quentes, sendo abundante desde o norte do Paraná até o Centro Oeste do país, embora sua ocorrência no Rio Grande do Sul tenha aumentado consideravelmente.

Por sua vez, o percevejo-verde-pequeno apresenta ampla distribuição no Brasil, sendo considerada a espécie mais nociva para a cultura da soja. Por fim, os percevejos-barriga-verde (anteriormente considerados pragas secundárias na soja) têm aumentado sua ocorrência em função da rotação da soja com gramíneas, atingindo populações elevadas em milho safrinha e, durante o inverno, em trigo. Esse percevejo altera seus hábitos alimentares ao longo do ano, passando de um sugador de sementes na soja a um sugador de tecidos vegetativos em gramíneas (PANIZZI, 2000) e tornando-se, assim, uma praga de sistema.

A capacidade de dano também varia de acordo com a espécie, sendo que o percevejo-verde-pequeno causa maiores danos na qualidade das sementes e maior perda de rendimento do que os percevejos verde e marrom. Além disso, essa espécie tem maior capacidade de induzir retenção foliar em plantas de soja (SOSA-GÓMEZ; MOSCARDI, 1995), sendo que o percevejo-marrom praticamente não ocasiona esse distúrbio fisiológico. Segundo Corrêa-Ferreira e Azevedo (2002), essas diferenças de dano entre as espécies estão relacionadas às características bioquímicas da saliva injetada, frequência de atividade alimentar de cada espécie e presença de toxinas do fungo N. corily, inoculado durante a punctura dos grãos.

Proporção das espécies nas lavouras

Embora os percevejos marrom, verde e verde-pequeno sejam as espécies mais frequentemente encontradas em lavouras de soja no Brasil, a proporção de cada espécie varia de acordo com o local de cultivo e de uma safra para outra. Em Santa Maria/RS, por exemplo, em uma área monitorada com cerca de seis hectares, a espécie P. guildinii (percevejo-verde-pequeno) representou 76% do total de percevejos na safra 2006/07, mas apenas 30% na safra seguinte (Tabela 1). Além disso, a espécie E. heros (percevejo-marrom) passou de 4% para 12% do total de percevejos, de uma safra para outra; atualmente, essa espécie seguramente representa uma porcentagem muito maior, especialmente devido ao seu perfil de resistência a vários inseticidas.

Tabela 1. Proporção das espécies de percevejos da soja, da emergência à colheita, nas safras agrícolas 2006/07 e 2007/08, em Santa Maria, RS.

Fonte: Guedes et al., 2008.

De modo geral, tem sido observada uma redução na população dos percevejos verde (N. viridula) e verde-pequeno (P. guildinii) nas últimas safras, com aumento proporcional na ocorrência dos percevejos marrom (E. heros) e barriga-verde (D. furcatus e D. melacanthus). Além de sofrer alterações de uma safra para outra, essa proporção de espécies pode variar ao longo do ciclo de desenvolvimento da soja.

Na safra 2006/07, por exemplo, na mesma área monitorada em Santa Maria/RS, a espécie predominante durante a fase vegetativa da soja (pré-emergência até o florescimento) foi D. furcatus, com ocorrência esporádica de E. meditabunda. No início do período reprodutivo, a espécie N. viridula cresceu em ocorrência, mas foi rapidamente superada por P. guildinii, que predominou desde o enchimento de grãos (R5) até a colheita da soja (Figura 2).

Figura 2. Proporção das espécies de percevejos ao longo do desenvolvimento da soja, na safra agrícola 2006/07, em Santa Maria, RS.

Fonte: Guedes et al., 2008.

Considerações finais

A importância dos percevejos cresce concomitantemente ao aumento na área cultivada com soja no Brasil. A capacidade de dano dessa praga é potencializada por fatores como constantes re-infestações durante o enchimento de grãos e dificuldades no controle, principalmente quando o índice de área foliar é elevado. Nesses casos, é comum que o ingrediente ativo não atinja completamente o alvo, levado o produtor a elevar as doses utilizadas e o número de aplicações durante o ciclo da cultura.

Embora a proporção das espécies de percevejos varie consideravelmente de uma safra para outra e mesmo ao longo do ciclo da soja, invariavelmente irão ocorrer populações elevadas dessa praga durante a fase reprodutiva da cultura, trazendo riscos econômicos para o produtor. Nesse sentido, merecem especial atenção as espécies que atuam como pragas de sistema (percevejo-verde-pequeno), sobrevivendo durante o ano todo na mesma área; bem como as espécies com alto nível de resistência a inseticidas (percevejo-marrom), exigindo rotação dos mecanismos de ação utilizados para seu controle.

Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

CORRÊA-FERREIRA, B.S.; AZEVEDO, J. Soybean seed damage by different species of stink bugs. Agricultural and Forest Entomology, v.4, p.145-150. 2002

CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PANIZZI, A.R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: Embrapa CNPSo, 1999. 45p.

GUEDES, J.V.C.; KUSS-ROGGIA, R.C.R.; STÜRMER, G.R.; ARNEMANN, J.A. Percevejos da soja: proporção de espécies e distribuição espaço-temporal. Revista Plantio Direto, 2008.

PANIZZI, A.R. Suboptimal nutrition and feeding behavior of Hemipterans on less preferred plant food sources. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.29, n.1, p.1-12. 2000.

SOSA-GÓMEZ, D.R.; MOSCARDI, F. Retenção diferencial em soja provocada por percevejos (Heteroptera: Pentatomidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.24, p.401-404. 1995.

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