O manejo de doenças fungicas na cultura da soja é essencial para reduzir perdas quantitativas e qualitativas, oriundas principalmente de danos a planta, que implicam na redução da produção e translocação de fotoassimilados, bem como na depreciação dos grãos ou sementes produzidas. Em casos mais extremos, determinadas doenças podem causar reduções de produtividade de até 90% ou até mesmo comprometer a viabilidade da lavoura.
Com isso em vista, o manejo eficiente das doenças em soja é essencial para a obtenção de boas produtividades. Infelizmente, uma série de doenças podem acometer a soja durante seu ciclo de desenvolvimento. Algumas, se destacam por se desenvolver no período inicial do desenvolvimento da soja, enquanto outras são observadas normalmente nas fases finais do desenvolvimento da cultura, conhecidas como DFCs – Doenças de Final de Ciclo da Soja.
Ainda existem algumas doenças que podem acometer a soja em qualquer estádio do seu desenvolvimento, como é o caso da ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), fato que dificulta o manejo e controle eficiente dessas doenças. Como principal ferramenta de manejo, podemos destacar o uso dos fungicidas químicos, empregados normalmente de forma preventiva a ocorrência das doenças.
Figura 1. Período de ocorrência das principais doenças da soja.
Embora seja conhecido que alguns fungicidas possam atuar de forma “curativa”, esse efeito é muito restrito ao estádio de desenvolvimento da doença, sua severidade e condições ambientais. Além disso, normalmente quando observados os primeiros sintomas da doença na planta, (geralmente no terço inferior), o patógeno já infectou significativamente a planta, logo, a ação curativa de um fungicida pode não exercer o efeito desejado.
Dessa forma, o manejo preventivo é uma das principais estratégias adotadas para o manejo de doenças em soja, especialmente se tratando de doenças com elevado potencial em causar danos. Para tanto, é preciso atentar para o momento de aplicação de fungicidas e posicionamento de produtos.
A nível comercial, normalmente aconselha-se a uma primeira aplicação de fungicidas (aplicação zero) no momento da “capina”, que é a aplicação de herbicidas destinada ao controle de plantas daninhas. Nesse momento, aconselha-se utilizar fungicidas de menor efeito residual, dando preferencia para fungicidas protetores e/ou multissítios.
Já em um segundo momento, deve-se realizar a segunda aplicação de fungicidas (primeira verdadeira), utilizando produtos mais premium, com maior efeito residual, conferindo maior proteção pra as plantas. Essa aplicação deve ser realizada no pré-fechamento das entre linhas da soja, não sendo recomendado ultrapassar o intervalo de 12 dias entre a aplicação zero e a primeira verdadeira.
A aplicação no pré-fechamento das entre linhas visa proporcionar a boa proteção das plantas, especialmente do terço inferior, reduzindo o desenvolvimento de doenças, já que esse é um dos terços da planta mais propícios ao desenvolvimento de patógenos, especialmente pela proximidade ao solo, que confere maior suscetibilidade ao desenvolvimento inicial de doenças, algumas delas disseminadas principalmente por respingos de solo causados pela gota da chuva.
Embora seja possível afirmar que para a maior parte das cultivares, o terço médio apresenta maior produtividade em relação aos terços inferiores e superiores (Müller 2017; Turra et al., 2018), o terço inferior da planta é responsável por uma significativa parcela da produção, além disso, é por onde começam as infecções de grande parte das doenças.
Figura 2. Planta de soja dividida em: terço inferior, terço médio e terço superior.
Logo, a aplicação no pré-fechamento das entre linhas é uma importante estratégia de manejo para reduzir o desenvolvimento de doenças no terço inferior da planta, devendo-se para tanto, optar por produtos “premium”, com maior efeito residual proporcionando maior proteção para a cultura da soja.
Veja mais: Qual o intervalo entre a aplicação zero e a primeira verdadeira de fungicidas?
Confira abaixo as dicas do Pesquisador da CCGL, Carlos Augusto Pizolotto.
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Referências:
MÜLLER, M. ARQUITETURA DE PLANTAS DE SOJA: INTERCEPTAÇÃO DE RADIAÇÃO SOLAR, DEPOSIÇÃO DE PRODUTOS FITOSANITÁRIOS E PRODUTIVIDADE. Universidade de Passo Fundo, Dissertação de mestrado, 2017. Disponível em: < http://tede.upf.br/jspui/bitstream/tede/1371/2/2017MarieleMuller.pdf >, acesso em: 16/01/2023.
TURRA, F. V. et al. RENDIMENTO E PROPRIEDADES FÍSICAS DE GRÃOS DE SOJA EM FUNÇÃO DA ARQUITETURA DA PLANTA. Anais – VII Conferência Brasileira de Pós-Colheita, 2018. Disponível em: < http://eventos.abrapos.org.br/anais/paperfile/910_20181103_02-53-41_847.pdf >, acesso em: 16/01/2023.