Thomas Altmann1, Bruno Balbino Altmann2, Laércio Hoffmann3, Manoela Andrade Monteiro1, Tiago Zanatta Aumonde1, Tiago Pedó1 

  • 1 PPG Ciência e Tecnologia de Sementes, FAEM/UFPel.
  • 2Acadêmico da Universidade Filadélfia – Unifil.
  • 3Syngenta Proteção de Cultivos.

INTRODUÇÃO

A cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) é a principal espécie agrícola do Brasil, tanto em área cultivada, quanto em volume de produção. É uma importante fonte de proteína, consumida em quase todo o mundo. No entanto, nos últimos anos tem-se aumentando os patógenos de lavoura e espécies nocivas a soja, que causam competição por recursos ambientais, gerando reduções de produtividade (AGOSTINETTO et al., 2017).

Com vista de minimizar este problema, a operação de semeadura deve ser realizada com a máxima eficiência técnica.  Contudo, para o adequado desempenho das plantas a campo, as sementes devem apresentar boa qualidade física, fisiológica e sanitária. Sendo assim, o tratamento de sementes pode colaborar para a manutenção da qualidade das sementes (Karam et al., 2007) até o completo estabelecimento a campo.

O uso de produtos com função bioprotetora e bioestimulante no tratamento de sementes tem aumentando nos últimos anos, principalmente por exercerem ação na morfologia e no metabolismo das plantas (ALMEIDA et al., 2013). Para a soja, podem incrementar na germinação, no vigor, na atividade enzimática e no crescimento das plantas (CASTRO, 2006).

Os possíveis ganhos em crescimento inicial das plantas podem colaborar para reduzir a população de plantas de daninhas na cultura e assim minimizar a competição com a soja. No entanto, são escassas as informações referentes à influência destes produtos sobre o fechamento da entre linha da soja.

Dessa forma, o trabalho objetivou avaliar o fechamento das entre linhas na cultura da soja sob influência do tratamento de sementes com bioestimulantes.

METODOLOGIA

O trabalho foi conduzido em propriedade rural no município de Passo Fundo, RS, localizada na Estrada do Trigo km 2, coordenadas 28°13’02.3″S 52°23’15.0″W, clima subtropical Cfa e solo do tipo Latossolo Vermelho Distrófico sob condições de plantio direto.

As sementes de soja utilizadas foram das cultivares SYN 1363 e TMG 7063, produzidas na safrinha de 2018/19. A semeadura foi realizada em 22 de janeiro de 2019 e os produtos utilizados no tratamento de sementes foram:

  1. A) Cruiser 350 FS – Tiametoxam 350 g L-1, formulação SC, inseticida do grupo químico neonicotinoide (I).
  2. B) Maxim XL – Fludioxonil 25 g L-1 e Metalaxyl-M 10 g L-1, formulação SC, respectivamente fungicidas dos grupos químicos fenilpirrol e acilalaninato (F).
  3. C) Epívio Vigor – Bioestimulante à base de hormônios, vitaminas, glicosídeos e nutrientes em suspensão heterogênea, proveniente do processo fermentativo de extratos vegetais (BE).

As sementes de soja foram tratadas com um volume de calda de 600 mL 100 kg-1 de sementes. A calda para o tratamento das sementes de soja foi preparada nas concentrações comerciais de cada produto (Tabela 1) calculadas para 100 kg de e aplicada isoladamente, sendo distribuídas em sacos plásticos individuais para cada tratamento. A calda foi distribuída no fundo de cada saco plástico e adicionado às sementes, seguido de agitação manual. Após homogeneização, as sementes foram transferidas para sacos de papel pardo para a secagem das sementes a temperatura ambiente por 24 horas.

Tabela 1. Tratamentos utilizados nas sementes e suas respectivas dosagens

Produto Dosagem para 100 kg de sementes
Epívio Vigor 200 mL 100 kg-1
Cruiser 350 FS 300 mL 100 kg-1
Maxim XL 100 mL 100 kg-1

Os tratamentos estão descritos na tabela 2 e as avaliações foram realizadas no fechamento das linhas em 26 de fevereiro e 15 de março de 2019, aos 29 e 46 dias após a emergência respectivamente, usando um aparelho smartphone marca Samsung J5 e através do aplicativo Canopy Cover Area.

Tabela 2. Cultivares e combinações de tratamentos de sementes

Nr Cultivar Tratamentos Sigla
1 SYN 1363 Sem tratamento de sementes TS
2 SYN 1363 Epívio Vigor B
3 SYN 1363 Epívio Vigor + Cruiser 350 FS B + I
4 SYN 1363 Epívio Vigor + Maxim XL B + F
5 SYN 1363 Epívio Vigor + Cruiser 350 FS + Maxim XL B + I + F
6 TMG 7063 Sem tratamento de sementes TS
7 TMG 7063 Epívio Vigor B
8 TMG 7063 Epívio Vigor + Cruiser 350 FS B + I
9 TMG 7063 Epívio Vigor + Maxim XL B + F
10 TMG 7063 Epívio Vigor + Cruiser 350 FS + Maxim XL B + I + F

 

O delineamento experimental foi de blocos casualizados, em esquema fatorial 5 x 2 (5 tratamentos de semente x 2 cultivares) totalizando 10 tratamentos com 4 repetições. A interpretação dos resultados foi baseada na análise visual das imagens das parcelas, capturadas sempre na mesma posição e altura e transformadas em percentagem de cobertura de área verde calculada pelo software.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O fechamento das entre linhas mostrou-se diferenciado entre os produtos para cada cultivar (Figura 1). Para a cultivar SYN 1363 o fechamento da entre linha, na avaliação de aos 26 dias de fevereiro, observou-se que as sementes tratadas somente com BE + inseticida e com BE + I +F apresentaram superior fechamento em relação aos demais tratamentos, embora aos 15 dias de março não foram observadas diferenças entre os tratamentos das sementes, sendo maiores ao controle (sem TS) (Figura 1a). Com base na figura 2, observa-se a evolução da cultivar ao longo do tempo.

 

 Figura 1. Fechamento das entre linhas de cultivares de soja submetidas ao tratamento de sementes, sendo: sem TS, com bioestimulantes, com BE + inseticida, com BE + fungicida, com BE + I + F.

O fechamento das entre linhas para a cultivar TMG 7063 foi similar ao observado para a cultivar SYN 1363, sendo importante destacar que a TMG 7063 apresentou maior potencial para o fechamento das entre linhas com o uso de bioestimulantes aos 26 dias de fevereiro e aos 15 dias de março (Figura 1b). Estes resultados podem estar relacionados com a arquitetura das plantas da TMG 7063 e pelo grupo de maturação, com elevado potencial para o fechamento em épocas de semeadura não preferencias (Figura 3).

O crescimento inicial das plantas da soja demonstrou resultados distintos entre os tratamentos de sementes e as cultivares nas duas épocas de avaliação. O aumento do comprimento da parte aérea e por consequência maior fechamento da entre linha, pode ser devido ao efeito estimulante dos produtos comparativamente ao controle. Contudo, algumas pesquisas têm evidenciado que alguns produtos utilizados para o tratamento de sementes, podem ocasionar redução na germinação destas e na sobrevivência das plântulas (KUNKUR, 2007; DAN et al., 2011).

Desse modo, estudos baseados no comprimento e a massa seca de parte aérea são fundamentais e determinantes para o fechamento das entre linhas da soja. Ao observarmos os resultados obtidos neste trabalho, fica evidente que a utilização de bioestimulantes entregaram maiores resultados, comparativamente ao controle (sem TS), podendo estar relacionado com o aumento e síntese de enzimas.

A utilização dos bioestimulantes pode intensificar a produção (Brandão Junior et al., 1999) ou fornece energia para o ciclo de Krebs e ao embrião em desenvolvimento (CHAUHAN et al., 1985; TUNES, 2010; SATTERS et al., 1994). Produtos com ação estimulatória podem favorecer o desempenho de processos fisiológicos relacionados ao desempenho de crescimento das plantas, assim, proporcionar o fechamento mais rápido das entrelinhas e a favorecer a planta cultivada na competição por recursos ambientais da lavoura.

CONCLUSÕES

O fechamento da entre linha é dependente da cultivar a ser utilizada e da interação com o Tiametoxam.

Para a cultivar SYN 1363 os tratamentos fecharam a entre linha 9,1 e 12,3 % para BE + inseticida e com BE + I + F, comparativamente ao sem TS, respectivamente, na avaliação aos 26 dias de fevereiro.

O fechamento das entre linhas para a cultivar TMG 7063 foi de 2,6 e 9,8% para BE + inseticida e com BE + I + F, sendo maiores que o sem TS, respectivamente, aos 26 dias de fevereiro.

REFERÊNCIAS

AGOSTINETO, D.; SILVA, D.R.O.; VARGAS, L. Soybean yield loss and economic thresholds due to glyphosate resistant hairy fleabane interference. Plant Science, v.84, p.1-8, 2017.

ALMEIDA, A. S.; VILLELA, F. A.; NUNES, J. C.; MENEGHELLO, G. E.; JAUER, A. Thiamethoxam: An Inseticide that Improve Seed Rice Germination at Low Temperature. INTECH- open science/open mind. Cap.3, p.417-426, 2013.

BRANDÃO JUNIOR, D. S.; CARVALHO, M. L. M.; VIEIRA, M. G. G. C. Variações eletroforéticas de proteínas e isoenzimas relativas à deterioração de sementes de milho envelhecidas artificialmente Revista Brasileira de Sementes, v. 21, n.1, p.114-121, 1999.

CASTRO, P.R.C. Triametoxam: Uma revolução na agricultura brasileira. São Paulo, 2006, 410p.

CHAUHAN, K.P.S.; GOPINATHAN, M.C.; BABU, C.R. Electrophoretic variations of proteins and enzymes in relation to seed quality. Seed Science and Technology, v.13, p. 629-41, 1985.

DAN, L.G.M.; DAN, H.A.; BRACCINI, A.L.; ALBRECHT, L.P.; RICCI, T.T.; PICCININ, G.G. Desempenho de sementes de soja tratadas com inseticidas e submetidas a diferentes períodos de armazenamento. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.6, p.215-222, 2011.

KARAM, D.; MAGALHÃES, P.C.; PADILHA, L. Efeito da adição de polímeros na viabilidade, no vigor e na longevidade de sementes de milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2007. 5p. (Embrapa Milho e Sorgo. Circular Técnica, 94).

KUNKUR, V.; HUNJE, R.; PATIL, N.K.B.; VYAKARNHAL, B.S. Effect of Seed Coating with Polymer, Fungicide and Insecticide on Seed Quality in Cotton During Storage. Karnataka Journal of Agricultural Sciences, v.20, p.137-139, 2007.

SATTERS, J.R. et al. Soybean seed deterioration and response to priming: changes in specific enzyme activities in extracts from dry and germinating seeds. Seed Science, v.4, p. 33-41, 1994.

TUNES, L.M. et al. Perfil enzimático em sementes de cevada em resposta a diferentes concentracões salinas. Interciência, v.35, p. 369-373, 2010.

 

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