Os solos brasileiros são ácidos em sua maioria. A acidez, representada basicamente pela presença de dois componentes: íons H+ e Al+3 tem origem pela intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo, pela retirada dos nutrientes catiônicos pela cultura sem a devida reposição e, também, pela utilização de fertilizantes de caráter ácido.
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O cálcio estimula o crescimento das raízes e, portanto, com a calagem ocorre o aumento do sistema radicular e uma maior exploração da água e dos nutrientes do solo, auxiliando a planta na tolerância à seca.
O pH ideal para as plantas varia de 5,5 a 7, onde são disponibilizados os nutrientes essenciais para elas. Para se ter ideia da importância da calagem, observe na figura abaixo como o pH do solo interfere da disponibilidade dos nutrientes para as plantas.
Pensando nisso, na terceira temporada do Dicas Mais Soja, o Dr. Tadeu Tiecher, do IFRS – Campus Restinga, comentou sobre o momento de realização da prática da calagem do solo, destacando a época de aplicação, as reações que ocorrem no solo e principalmente como se dá o comportamento do Alumínio após a prática da calagem.
O pesquisador destacou que o que é preconizado hoje pela pesquisa é de que a calagem seja realizada antes dos cultivos de inverno, isso em virtude dos seguintes fatores:
- Se for necessário revolvimento do solo e incorporação do calcário, corrigindo até uma camada mais profunda, é o momento mais adequado. Além disso, logo depois provavelmente será implantado uma gramínea, cujo sistema radicular fasciculado se desenvolve mais rapidamente, facilitando a agregação do solo novamente, mantendo a qualidade do manejo e prevenindo o solo contra a erosão, lixiviação e outros fatores que possam vir a trazer perdas de solo;
- Durante o período do inverno a evapotranspiração geralmente é menor, consequentemente a disponibilidade de água no solo é maior, facilitando o processo de dissolução do insumo que foi aplicado no solo;
- Além disso, como o calcário leva cerca de 3 meses para se dissolver completamente no solo, até a implantação da cultura de verão boa parte das reações de dissolução já ocorreram, precipitando o alumínio e elevando o pH para a instalação da cultura de verão, cujo interesse econômico no sul do país é o principal.
Mas e após a aplicação do calcário, o que acontece com o solo, qual o efeito do calcário?
Na imagem abaixo, pode-se observar uma situação antes de o solo ser corrigido.
Observa-se, na imagem, um pH baixo, já com a presença de Alumínio trocável, que é prejudicial às plantas. Além disso, boa parte da CTC desse solo está sendo ocupada por íons de Hidrogênio, o que não é bom pensando-se em nutrição de plantas, somado ao fato de a soma de bases se apresentar muito baixa, que é o que realmente auxilia na nutrição das plantas.
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Com isso, após a aplicação do calcário no solo, seja ele incorporado ou em superfície, a partir da dissolução do calcário temos as seguintes consequências:
- Elevação do pH;
- A partir de um pH de 5,5 o Alumínio é precipitado e não se encontra mais presente nesse solo;
- Redução da quantidade de Hidrogênio;
- Melhora a condição da fertilidade do solo;
- Fornecimento de cálcio e magnésio;
- Incremento na CTC efetiva;
Veja, na figura abaixo, um exemplo de um solo após a aplicação do calcário e os efeitos desse insumo.
Para isso, o pesquisador enfatiza que é importante mantermos uma proporção da quantidade de cálcio e magnésio que é ocupada pela CTC do solo, sendo importante mantermos uma relação de aproximadamente 4:1, de cálcio e magnésio, respectivamente.
Essa relação é importante pois, em solos que há muito mais cálcio que magnésio, pode ocorrer o efeito da ação de massas, onde o magnésio é lixiviado no solo, ocorrendo deficiência de magnésio.
Para isso, uma ferramenta que o produtor pode adotar para equilibrar a saturação por bases é a utilização de diferentes tipos de calcário. Atualmente temos três tipos diferentes de calcário disponíveis no mercado:
- Calcítico: apresenta menos de 5% de óxido de magnésio na sua composição;
- Magnesiano: possui entre 5 e 12% de óxido de magnésio na composição;
- Dolomítico: possui acima de 12% de óxido de magnésio.
Dessa forma, cabe ao produtor verificar a viabilidade econômica de cada um deles para a melhor utilização dessa ferramenta, devendo-se sempre atentar para a quantidade de magnésio que está sendo aportada ao solo para garantir uma boa fertilidade da lavoura.
Para ouvir a conversa do pesquisador com o Mais Soja, assista o vídeo abaixo.
https://www.facebook.com/maissoja/videos/998669853813287/?t=418