Dentre os assuntos mais discutidos na agricultura mundial as questões que envolvem práticas de conservação de solo e a sustentabilidade dos sistemas de produção têm ganhado a atenção de técnicos e produtores. Em um mundo cada vez mais globalizado a produção com menos impacto sobre o ambiente tem sido uma exigência do mercado consumidor cada vez mais preocupado com a questão ambiental. Isso tem instigado, pesquisadores, produtores e técnicos, a entender e projetar ações futuras dentro das unidades de produção. Mudanças climáticas associado ao aumento nos custos da produção agrícola, mais especificamente da soja,tem levado produtores a buscarem, manejos que vão de encontro a uma agricultura mais sustentável que visa manter, restaurar e/ou recuperar os recursos naturais com o manejo integrado do solo, da água e da biodiversidade, que demonstra um caminho viável ao produtor rural para garantia de produção e preservação do meio ambiente.

O que é a técnica de sobressemeadura?

Uma maneira eficaz de preservar e melhorar a biodiversidade e as propriedades físicas do solo é ter plantas vivas envolvidas com a ciclagem de nutrientes durante todos os dias do ano. Nesse sentido, antes mesmo da colheita da cultura de interesse econômico, é possível implantar plantas de cobertura, prática essa denominada de sobressemeadura, que consiste no estabelecimento de uma cobertura de solo quando a cultura principal se encaminha para seu final de ciclo. Dessa forma, objetiva-se adiantar o estabelecimento das plantas de cobertura na lavoura, permitindo-as ter um maior tempo para se desenvolver e entregar para o sistema aquilo pela qual foi semeada, como produção de  palhada, descompactação, ciclagem de nutrientes, entre outros diversos fatores.

Muitas são as implicações quando se trabalha com um modelo de agricultura que não dá a devida importância para a proteção do solo, sendo que, tais sistemas são atingidos por problemas como erosão, compactação, lixiviação, entre outras problemáticas que corroboram para a degradação do ambiente de produção. Assim, o manejo de sobressemeadura na soja vem como alternativa para proteção e maximização de manejos nas lavouras brasileiras. No entanto, há alguns pontos que devem ser analisados para o sucesso desta prática, sendo que, é necessário selecionar espécies que apresentem boa adaptação ao cultivo consorciado, que não prejudique a cultura principal e que sejam tolerantes à deficiência hídrica para seu adequado estabelecimento na lavoura.

Como realizar este manejo?

No caso da soja, a prática da sobressemeadura ocorre da seguinte maneira: as sementes da cultura escolhida para cobertura são lançadas sobre a lavoura quando a soja começa a desfolhar, logo, com as sementes já no solo, e a intensificação da desfolha da soja, as sementes são cobertas por estas folhas, aumentando a retenção de umidade na relação solo/semente, favorecendo assim, a germinação das plantas de cobertura. De maneira geral, o momento ideal para este manejo é no estádio R7 (PACHECO et al.,2013).

Existem algumas formas de realizar este manejo, alguns exemplos são: adaptando caixas distribuidoras de sementes na barra do pulverizador, sendo que alguns pulverizadores já vêm de fábrica com caixas distribuidoras para esta operação; pode-se também acoplar distribuidores a lanço na parte frontal do trator, ou ainda, realizar a sobressemeadura utilizando aviões agrícolas, que possuem larga capacidade operacional.

Algumas culturas para utilização em sobressemeadura:

Dentre as principais coberturas de solo  que a literatura cita como alternativa para esta prática, encontra-se: O centeio, ervilhaca, aveia, milheto, centeio, capim-sudão, nabo e braquiária.

Aveia Preta (Avena strigosa)

Esta gramínea da família Poaceae é bastante presente nas áreas do sul do Brasil, sendo utilizada como adubação verde, cobertura de solo e também serve como alimentação animal. Tem um sistema radicular fasciculado, e atua como uma cultura de reciclagem de nutrientes, melhorando suas condições físico-químicas e promovendo um equilíbrio microbiológico (CHERUBIN, 2022).

Braquiária (Urochloa sp.)

A utilização de braquiárias é amplamente conhecido principalmente em sistemas de integração lavoura-pecuária, entretanto, cada vez mais tem-se difundido a ideia da utilização desta cultura como planta de cobertura, uma vez que propicia alta produção de biomassa, redução do risco de erosão, supressão de plantas daninhas e a entrada de matéria orgânica no solo devido a periódica renovação do seu sistema radicular, o qual propicia a formação de bioporos que abrem espaço para o desenvolvimento das raízes da cultura principal que suceder a cobertura. Na sobressemeadura, a época correta de semear a brachiaria é entre a R7 e R7.3

Capim-sudão (Sorghum sudanense)

O capim-sudão é utilizado como planta de cobertura graças a boa formação de folhas e perfilhamento que geram alta produção de palhada no sistema, além disso, o sistema radicular agressivo com raízes longas e fibrosas lhe confere rusticidade, resistência à seca e boa performance em solos pobres em nutrientes. o excesso de água logo após a semeadura diminui a germinação em até 30% (CHERUBIN, 2022).

Centeio (Secale cereale)

O centeio é uma gramínea resistente ao frio, apresenta elevada produção de biomassa, sistema radicular profundo e agressivo, tendo como uma das principais características o crescimento inicial vigoroso que lhe confere alta capacidade de supressão de plantas daninhas e rápida cobertura do solo, além de proporcionar aumento da matéria orgânica do solo e redução da erosão.

Ervilhaca (Vicia sativa)

A ervilhaca é uma leguminosa de clima temperado e subtropical utilizada como planta de cobertura no período do inverno, por ela tolerar a geada, seu desenvolvimento ocorre mais aceleradamente no fim do inverno, nos meses de setembro e outubro. Promovendo associações simbióticas com bactérias a planta tem uma elevada capacidade de fixação de nitrogênio.

Milheto (Pennisetum glaucum)

O milheto é uma cultura utilizada como planta de cobertura que apresenta baixa exigência hídrica, rusticidade, alta capacidade de produção de massa seca, e qualidade na estruturação do solo. Além disso, possui amplo período de semeadura, feita a lanço ou em sulco, sendo que o método a lanço pode ser feito com alguma cultura já instalada em fase de colheita (sobressemeadura). Apresenta destaque na produção de massa seca e ciclagem de nutrientes proveniente do sistema radicular agressivo.

Nabo Forrageiro (Raphanus sativus)

Cultura muito presente nas áreas de rotação de cultura por ser de uma família que difere das de interesse econômico mais cultivadas, com isso ela tem um estabelecimento rápido, com raízes agressivas que são capazes de explorar solos compactados. A cultura tem grande capacidade de ciclagem de nitrogênio em profundidade além de promover a população e diversidade de bactérias no solo.

Indicações finais:

Cultura Kg/ha¹ * Época
AVEIA PRETA (Avena strigosa) 68 R7
BRAQUIÁRIA (Urochloa sp.) 17,5 R7
CAPIM-SUDÃO (Sorghum sudanense) 32,5 R6
CENTEIO (Secale cereale) 60 R6
ERVILHACA (Vicia sativa) 14,6 R7
MILHETO (Pennisetum glaucum) 35 R6
NABO FORRAGEIRO (Raphanus sativus) 9,7 R7

Tabela 1: Épocas e quantidades de sementes de culturas em sobressemeadura em soja.

* A quantidade de kg ha-1 dependerá exclusivamente da germinação do lote da determinada semente. Dados descritos acima têm germinação de 100%.

Por: Dyeferson dos Reis Rocha e Pedro Rockenbach, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membro do Programa de Educação Tutorial- PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.



REFERÊNCIAS

CHERUBIN et al. – Guia Prático de Plantas de Cobertura. Aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf. Acesso em: 10/09/2023.

PACHECO, Leandro. Desempenho de plantas de cobertura em sobressemeadura na cultura da soja. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pab/a/RXfvRj58Bbp7f5XdKGcHxFC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10/09/2023.

CANDIOTTO, Lucas. CARACTERÍSTICAS DE PASTOS DE MILHETO OU CAPIM SUDÃO SOBRESSEMEADOS NA CULTURA DA SOJA. Disponível em: http://riut.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/25348/1/sobressemeaduramilhetosudaosoja.pdf. Acesso em: 11/09/2023.

DE MARIA, Isabella. Sobressemeadura de Braquiária em Soja para Produção de Palha em Sistema Plantio Direto na Região do Médio Paranapanema, SP. Disponível em: https://www.iac.sp.gov.br/media/publicacoes/iacbc17.pdf. Acesso em: 11/09/2023.

JÚNIOR, Alfredo. Plantio – Portal Embrapa. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/135361/1/COT89online.pdf. Acesso em: 12/09/2023.

SILVEIRA, Marcia et al. Aspectos Relativos à Implantação e Manejo de Capim-Sudão BRS Estribo. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/135361/1/COT89online.pdf. Acesso em: 12/09/2023.

KICHEL, Armindo et al. USO DO MILHETO COMO PLANTA FORRAGEIRA. Disponível em: https://old.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/divulga/GCD46.html#:~:text=No%20caso%20de%20sobressemeadura%20em,%2C%20mais%20recentemente%2C%20BR%201501. Acesso em: 12/09/2023.

DOMINGUES, Leonardo. Manejos de segunda safra: Sobressemeadura. Disponível em: https://www.gea-esalq.com/informativo-gea-sobressemeadura#:~:text=H%C3%A1%20algumas%20maneiras%20de%20realizar,a%2040m%20de%20largura%20geralmente. Acesso em: 12/09/2023.

NOGUEIRA, Lucas. Brachiaria ruziziensis: como essa espécie pode te ajudar na agricultura. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/brachiaria-ruziziensis/. Acesso em: 12/09/2023.



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