Por que os preços dos produtos agroindustriais caem se os fundamentos intrínsecos do mercado são altistas?
NÃO HÁ FOLGA: Os fundamentos atuais do mercado agrícola global – com a Ucrânia “fora de cena” – são claramente altistas porque a oferta não tem “sobras” para substituir o déficit e a necessidade da demanda. Mas esta semana os preços de todos os futuros de agronegócios listados no mercado norte-americano CME Group desabaram.
SÃO TODAS AS COMMODITIES: Não se trata apenas de matérias-primas agroindustriais, pois o fenômeno baixista abrange também o restante das commodities energéticas e metálicas.
SÓ LUCROS? Embora o evento, de imediato, seja assustador devido às violentas vendas massivas realizadas por administradores de grandes carteiras de investimentos, em erspectiva – levando a cesta de matérias-primas incluída no índice Bloomberg Commodity Index Total Return – o panorama poderá eventualmente ser considerado uma “correção” destinada a garantir lucros diante da incerteza.
CONTEXTO GEOPOLÍTICO TURBULENTO: No entanto, além da ameaça de desaceleração econômica em escala global –promovida pelos EUA e União Europeia com o objetivo de conter as tensões inflacionárias–, o contexto geopolítico parece extremamente turbulento dado o crescimento das tensões existentes entre EUA e China, que poderia levar a uma nova “guerra comercial” entre as duas potências.
TENSÕES CHINA/TAIWAN: As crescentes tensões bélicas entre China e Taiwan – hoje aviões de guerra da nação governada por Xi Jinping invadiram mais uma vez o espaço aéreo da ilha democrática – reforçam o temor do advento de um cenário de grande ruptura no comércio global de matérias-primas básicas.
PREPARAÇÃO DA CHINA: Vale lembrar que, a partir de 2020, por algum motivo que não estava totalmente claro na época, a China passou a importar enormes quantidades tanto de matérias-primas agroindustriais quanto de alimentos. E simultaneamente implementou uma política interna de racionamento de alimentos chamada “pratos limpos”.
PARA ONDE PENDERÁ O EIXO GLOBAL? De alguma forma, a nação asiática se preparava para o cenário atual e esse frenesi importador obviamente se deslocou para os preços das matérias-primas, que hoje sofrem com o temor de um corte abrupto no comércio mundial com posterior reconfiguração de preços para o lado do eixo do poder global que estiveram as diferentes nações do mundo.
FRAGILIDADE DA NOVA SITUAÇÃO: Resumindo: na conjuntura atual, os fundamentos do mercado agrícola e mesmo de commodities – refúgio natural contra a inflação – foram momentaneamente deixados de lado diante de enormes riscos geopolíticos, que, infelizmente, são muito difíceis de prever. Fonte: Valor da Soja
MERCADO CHINÊS: Na China a semana foi de forte queda para os contratos agrícolas, pressionando ainda mais as margens de esmagamento, mas melhorando as margens do suinocultor chinês. A liberação das exportações de óleo de palma pela Indonésia trouxe forte movimento de liquidação para os óleos vegetais na China, jogando o óleo de soja, o óleo de palma e o óleo de canola para as mínimas de três meses.
A queda do farelo nessa semana foi a maior queda semanal desde 2013. As margens no spot caíram $15 por tonelada em média. Falando com traders, a China comprou menos de 10 barcos essa semana contra 18 na semana passada – 18 já era baixo. As vendas de farelo na semana no mercado chinês empacaram. Está chovendo muito no Sul – dilúvio. Essa região é muito importante para o consumo de rações. É o Mato Grosso deles quando se fala em produção de peixes de cativeiro. Problemas logísticos, falta de energia e enchentes foram comentários citados nas mídias chinesas.
A semana encerra com forte crescimento dos estoques de soja e farelo na China. No caso do farelo o crescimento foi de 3,5x o volume de março e da soja quase 4x.
Fonte: T&F Agroeconômica