O uso de substâncias biológicas, empregadas com bioinsumos na agricultura, tem crescido em lavouras comerciais, impulsionado pelos benefícios proporcionados por essas substâncias, tanto no crescimento e desenvolvimento vegetal, quanto no manejo fitossanitário das culturas agrícolas.

Quando inseridos no manejo integrado de pragas e/ou doenças, os bioinsumos tendem a demonstrar efeitos positivos, contribuindo para a redução das populações de pragas e evolução de doenças. Entretanto, por ser tratar de organismos vivos, a eficiência de controle desses bioinsumos esta fortemente condicionada ás condições ambientais, assim como a tecnologia de aplicação.

Quando aplicados, os produtos biológicos devem apresentar boa cobertura sobre o alvo, para garantir eficácia de controle, e atenção deve ser tomada a respeito do tamanho de gotas escolhida na pulverização, assim como a distribuição do espectro de gotas sobre o alvo (Oliveira et al., 2022). Os cuidados começam ainda na aquisição, transporte e armazenamento dos bioinsumos, devendo-se respeitar as orientações técnicas frente a resistência térmica e á radiação dessas substâncias biológicas, a fim de evitar perda de eficiência dos produtos por morte dos organismos ou microrganismos.

Além disso, deve-se destinar atenção especial para o preparo da calda de pulverização. Existe uma grande variedade de formulações de produtos biológicos disponíveis no mercado, mas a grande maioria consiste em formulações pó-molhável (WP) e solução concentrada (SC). Com isso em vista, uma um dos fatores a se considerar é o preparo da calda de pulverização.

Segundo Oliveira et al. (2022), é muito importante a preparação imediata da calda no ato do reabastecimento do pulverizador, pois quando interromper a agitação da calda, é alta a probabilidade de iniciar o processo de separação de fases da calda.

Figura 1. Relação do tipo de formulação com a solubilidade em água e a atenção necessária com o sistema de agitação de calda e componentes do sistema de pulverização.

Fonte: Oliveira et al. (2021), apud. Oliveira et al. (2022).

O preparo inadequado da calda de pulverização pode entre outros efeitos, resultar na incompatibilidade física da mistura, reduzindo a eficiência da aplicação ou até mesmo comprometendo-a. Além da incompatibilidade física da calda de pulverização, em algumas situações pode ocorrer a incompatibilidade da mistura entre grupos químicos e biológicos, especialmente se tratando de misturas de tanque.



De modo geral, recomenda-se que ao estabelecer uma estratégia de introdução conjunta dos microbiológicos com produtos fitossanitários químicos, deve-se dar prioridade ao uso dos produtos que mostrem menos efeitos deletérios, tais como inibição do crescimento vegetativo, reprodução, germinação, conidiogênese e mutação do patógeno ou seja, dar preferência por produtos mais seletivos ou compatíveis (Oliveira et al., 2022).

Com relação ao uso de fungos no controle biológico, associados a inseticidas químicos, Oliveira et al. (2022) destacam que o efeito inibitório do inseticida irá depender da espécie de fungo, e do produto químico utilizado. A exemplo Khun et al. (2020), que verificou que os inseticidas acefato, triclorfom, indoxacarbe, sulfoxaflor e espinetoram, testados em diferentes concentrações foram todos compatíveis com B. bassiana (isolado B50); entretanto diazinon foi incompatível com B. bassiana e M. anisopliae (isolado QS155) sendo observada a toxicidade do ingrediente ativo e da maior concentração testada (Oliveira et al., 2022).

Levando em consideração que a dose do defensivo químico também exerce efeito sobre a eficiência dos produtos biológicos, estratégias como reduzir a dose do produto químico associado ao biológico podem mitigar os efeitos de inibição de microrganismos. Vale destacar que dentre o grupo dos produtos químicos mais utilizados em culturas agrícolas (inseticidas, fungicidas e herbicidas), os fungicidas são os que apresentam maior capacidade em causar efeitos negativos sobre produtos biológicos a base de fungos Entomopatogênos.

Conforme observado por Loureiro et al. (2002) e posteriormente destacado por Oliveira et al. (2022), os fungicidas a base de tiofanato metílico, paratiom metílico, tebuconazol e tetraconazol inibiram o crescimento de Isaria fumosorosea (Syn. Paecilomyces fumosoroseus). Mancozebe e metalaxil causam efeitos negativos para todos os fungos B. bassiana, M. anisopliae, Lecanicillium lecanii (Syn. Verticillium lecanii) e I. fumosorosea, levantando a necessidade de cautela a se trabalhar com esses produtos.

Logo, pode-se dizer que uma série de produtos químicos podem interferir na eficiência e viabilidade de bioinsumos aplicados no manejo fitossanitário das culturas agrícolas. Em tese, o ideal é que a aplicação do bioinsumo seja realizada de forma isolada, sem a mistura com defensivos químicos. Entretanto, quando essa não é uma opção, deve-se atentar para os casos de incompatibilidade, assim como o preparo da calda.


Veja mais: Associação de inseticidas químicos e biológicos no controle de pragas da soja



Referências:

KHUN, K. K. et al. COMPATIBILITY OF METARHIZIUM ANISOPLIAE AND BEAUVERIA BASSIANA WITH INSECTICIDES AND FUNGICIDES USED IN MACADAMIA PRODUCTION IN AUSTRALIA. Pesticide Management Science, v. 77, p. 709-718, 2020.

LOUREIRO, E. S. et al. EFEITO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS QUÍMICOS UTILIZADOS EM ALFACE CRISÂNTEMO SOBRE FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS. Neotropical Entomology, v. 31, n. 2, p. 263-269, 2002.

OLIVEIRA, R. B. et al. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO FOLIAR DE BIOINSUMOS. Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 6, Embrapa, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 09/02/2023.

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