As cotações da soja chegaram a bater nos mais baixos níveis dos últimos 12 anos em Chicago, quando o primeiro mês cotado atingiu a US$ 7,91/bushel no dia 13/05.

Posteriormente, com a entrada do mês de julho na primeira posição e ajustes técnicos (compra por parte dos Fundos, aproveitando-se dos baixos preços), o bushel se recuperou e fechou a quinta-feira (16) em US$ 8,39, contra US$ 8,00 na semana anterior.

A queda em Chicago se deveu essencialmente a dois fatores: o recrudescimento do litígio comercial entre EUA e China, iniciado ainda na semana anterior (mas as negociações entre os dois países continuam); e a confirmação de que a peste suína africana está cada vez mais forte na China, atingindo a todas as regiões produtoras de suínos daquele país, sendo que alguns analistas internacionais já cogitam a perda de 50% do plantel suinícola chinês até o final do ano (estamos falando do maior plantel do mundo).

Como fatores altistas, que ajudaram a recuperar as cotações no final da semana, além do movimento especulativo, tivemos o clima nos EUA, que continua atrasando o plantio de milho e soja, sendo esta última igualmente bastante atingida nesta semana; e o relatório de oferta e demanda do USDA, anunciado no dia 10/05, que confirmou a redução na futura produção estadunidense. Todavia, em função dos estoques finais anunciados para 2019/20, o efeito da produção acabou sendo largamente absorvido.

Quanto ao relatório propriamente dito, o mesmo indicou uma projeção de produção  nos EUA, para esta safra que está sendo plantada, de 113 milhões de toneladas, contra 123,7 milhões na safra anterior. Este número já era esperado pelo mercado, considerando que não haja modificação na área semeada que está sendo estimada. Ao mesmo tempo, o relatório apontou estoques finais nos EUA, para 2019/20, em 26,4 milhões de toneladas, contra 27,1 milhões no ano anterior. Tais estoques, portanto, são os mais importantes da história recente daquele país. Com isso, o preço médio ao produtor estadunidense, neste novo ano comercial, ficaria em US$ 8,10/bushel, contra US$ 8,55 em 2018/19 e US$ 9,33 em 2017/18.

Já em termos mundiais o relatório apontou uma safra total de 355,7 milhões de toneladas para 2019/20, contra 362,1 milhões no atual ano comercial. Os estoques finais mundiais ficariam, mesmo assim, em 113,1 milhões de toneladas, contra 113,2 milhões em 2018/19. A produção futura do Brasil está projetada em 123 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina ficaria em 53 milhões. E as importações da China seriam de 87 milhões de toneladas neste novo ano, contra 86 milhões no ano que está findando.

Diante da piora no conflito comercial sino-estadunidense, o governo Trump prometeu subsidiar ainda mais seus produtores, fornecendo cerca de US$ 15 bilhões em programas de apoio ainda não definidos. Este anúncio ajudou a recuperar as cotações no final da semana.

Somou-se a ele o forte atraso no plantio da soja nos EUA. Até o dia 12/05 o mesmo chegava apenas a 9% da área, contra 29% na média histórica para esta época e 32% no ano passado. Neste sentido, o mercado do clima naquele país continua sendo fundamental.

Por sua vez, as exportações líquidas de soja pelos EUA, referentes ao ano 2018/19, que se encerra em 30 de setembro, atingiram a tão somente 149.100 toneladas na semana encerrada em 02/05. O recuo é considerável em relação a média das quatro semanas anteriores. Já para 2019/20 o volume ficou em 295.600 toneladas. A soma dos dois anos ficou bem abaixo do que o mercado esperava.

Já as inspeções de exportação somaram 513.375 toneladas para a semana encerrada em 9 de maio, acumulando no atual ano comercial um total de 32,6 milhões de toneladas, contra 44,8 milhões no ano anterior.

Enfim, outro fator baixista veio da Associação Norte-Americana dos Processadores de Óleos Vegetais (NOPA). A mesma informou que o esmagamento de soja nos EUA, em abril, ficou em 4,35 milhões de toneladas, contra 4,63 milhões em março e 4,40 milhões esperados pelo mercado.

No Brasil, apesar de Chicago, os preços médios melhoraram um pouco graças ao câmbio, que voltou a bater próximo dos R$ 4,00 por dólar, e aos melhores prêmios nos portos nacionais a partir da possibilidade de a China vir a comprar mais soja brasileira.

Neste último caso, os prêmios fecharam a semana entre US$ 0,88 e US$ 0,90/bushel, ganhando mais de 200% sobre os valores registrados há duas semanas atrás (antes do recrudescimento da guerra comercial entre China e EUA).

Assim, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 64,76/saco, enquanto os lotes subiram para valores entre R$ 73,50 e R$ 75,00/saco, após terem rompido o piso dos R$ 70,00 há duas semanas. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 71,00 e R$ 73,00 no Paraná; R$ 63,00 em Sorriso (MT); R$ 64,00 em São Gabriel (MS); R$ 66,50 em Goiatuba (GO); R$ 75,00 em Campos Novos (SC); R$ 69,50 em Uruçuí (PI); e R$ 68,00 em Pedro Afonso (TO).

A estimativa para a última colheita brasileira permanece em 117,9 milhões de toneladas, segundo o analista privado Safras & Mercado, enquanto a comercialização da mesma se mantém atrasada, atingindo a 55% da safra, contra 62% na média histórica  até o dia 10/05. No Rio Grande do Sul as vendas chegam a 31%, contra 42% na média, enquanto no Paraná chegam a 46%, contra 48% na média; e no Mato Grosso a 67%, contra 72% na média. (cf. Safras & Mercado) Aliás, de todos os Estados produtores de soja, o que menos vendeu soja até o momento, de longe, é o Rio Grande do Sul, com os produtores adotando uma estratégia que tende a acarretar ganhos bem menores do que se houvesse tido a prática da realização de vendas escalonadas, desde setembro passado, visando a construção de uma média de preços (a melhor estratégia a ser adotada sempre).

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CEEMA

Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

 

 

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