Visando um adequado estande de plantas e o bom estabelecimento da lavoura, o controle de pragas iniciais é essencial na cultura do milho. Além das tradicionais lagartas que atacam às plântulas de milho, algumas pragas como percevejos e a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) necessitam de atenção especial no início do desenvolvimento da cultura.
Dentre os principais percevejos que acometem o milho no período inicial do seu desenvolvimento, podemos destacar o percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus/Diceraeus melacanthus). Segundo Rodrigues et al (2011), dependendo do estádio em que a praga acomete o milho e da densidade populacional do percevejo, perdas de produtividade de até 43% podem ser observadas.
A presença da praga é comum em áreas de milho safrinha (milho segunda safra), sucedendo a cultura da soja. Normalmente as populações desses percevejos são observadas em reflexos de falhas de controle do percevejo na cultura da soja, e/ou na dessecação da área sem a utilização de inseticidas associados aos herbicidas.
Figura 1. Monitoramento e período crítico de interferência do Dichelops melacanthus/ Diceraeus melacanthus no milho safrinha.

Por coincidência, o período crítico da presença do barriga-verde em milho é similar ao período crítico para a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), que vai da emergência do milho até aproximadamente V5 (VE a V5). Até então, a cigarrinha-do-milho é o principal vetor de transmissão dos enfezamentos para a cultura do milho, sendo que, os maiores danos em decorrência dessas doenças são observados quando a infecção da planta ocorre durante o período crítico (VE a V5). Segundo Lobato (2021), em lavoura afetadas, os danos ocasionados pelos enfezamentos no milho podem chegar a 70%.
Levando em consideração os danos e períodos críticos da ocorrência dessas pragas, alternativas de manejo devem ser pensadas visando o controle do percevejo barriga-verde e da cigarrinha-do-milho nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura, mais especificamente, durante o período crítico.
Uma das principais e mais eficazes estratégias para isso é o tratamento das sementes com inseticidas. Embora a grande maioria dos produtos disponíveis para o tratamento de sementes (TS) apresentem um limitado efeito residual, de maneira geral o TS promove boa proteção inicial para a cultura do milho, demonstrando resultados satisfatórios no controle de pragas.
Dentre os principais inseticidas utilizados no TS do milho, o grupo químico dos neonicotinóides concentra uma grande parcela dos produtos com registro para o milho. Avaliando o controle do percevejo barriga-verde na cultura do milho, pelo tratamento de sementes com diferentes inseticidas, Fernandes; Ávila; Silva (2019) observaram que o tratamento contendo imidacloprido + tiodicarbe (45 g i.a./ha + 135 g i.a./ha) apresentou bom nível de controle do percevejo apenas aos 7 DAE (97,5%), demonstrando efeito de choque para o controle da praga, e baixo residual.
Tabela 1. Tabela 1. Número médio de insetos mortos (N) e porcentagem (%) de controle (C) de adultos do percevejo Dichelops melacanthus em diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes de milho, aos 7 dias após as infestações realizadas aos 7, 14, 21 e 28(1) dias após a emergência das plantas (DAE) em casa de vegetação. Dourados, MS.

Atrelado ao bom desempenho de controle e efeito residual, Fernandes; Ávila; Silva (2019) observaram que os tratamentos contendo tiametoxam (42 g i.a./ha) e clotianidina (60 g i.a./ha) foram os que demonstraram menor nota de danos em plântulas de milho (figura 2), demonstrando a importante contribuição desses produtos para a manutenção do estande de plantas e também controle dos percevejos.
Figura 2. Valores médios de notas de danos, observados nas plantas de milho aos 35 dias após a emergência das plantas, nos diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes de milho, visando ao controle de Dichelops melacanthus, em casa de vegetação. Dourados, MS(1).

Cabe destacar que ambos os princípios ativos analisados por Fernandes; Ávila; Silva (2019) para o controle do percevejo barriga-verde (tiametoxam; clotianidina e imidacloprido + tiodicarbe) apresentam registro junto ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) para o controle da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Com isso em vista, o tratamento de sementes no milho contribui não só para o controle do percevejo barriga-verde, como também da cigarrinha (Dalbulus maidis), sendo uma ferramenta indispensável nos dias de hoje.
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Referências:
FERNANDES, P. H. R.; ÁVILA, C. J.; SILVA, I. F. CONTROLE DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus POR MEIO DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES DE MILHO. Embrapa, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 82, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/202048/1/BP-82-2019-CREBIO.pdf >, acesso em: 10/02/2023.
LOBATO, B. CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS DO MILHO DESAFIAM PRODUTORES, QUE DEVEM SEGUIR RECOMENDAÇÕES DE MANEJO. Embrapa, News, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/65316124/cigarrinha-e-enfezamentos-do-milho-desafiam-produtores-que-devem-seguir-recomendacoes-de-manejo >, acesso em: 10/02/2023.
MADALOZ, J. C; POLICERA, A. 3 ESTRATÉGIAS DE MANEJO PARA CONTROLE DE PERCEVEJOS NAS CULTURAS DO MILHO E DA SOJA. Blog Agronegócio em Foco. Disponível em: < http://www.pioneersementes.com.br/blog/176/3-estrategias-de-manejo-para-o-controle-de-percevejos-nas-culturas-do-milho-e-da-soja > acesso em: 10/02/2023.
RODRIGUES, R. B. DANOS SO PERCEVEJO-BRASSIGA-VERDE Dichelops melacanthus (DALLAS, 1851) (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) NA CULTURA DO MILHO. Universidade Federal de Santa Maria, fev. 2011.Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/5048/RODRIGUES%2c%20RODRIGO%20BORKOWSKI.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 10/02/2023.