O manejo e controle de plantas daninhas em soja é indispensável para a obtenção de boas produtividades em lavouras comerciais. Além de matocompetir por água, radiação solar e nutrientes, as planta daninhas servem como hospedeiras para a sobrevivência de pragas e doenças que podem acometer a soja, afetando negativamente a produtividade e qualidade dos grãos produzidos.

Dependendo da espécie daninha, da densidade populacional e do período de matocompetição com a soja, perdas de produtividade superiores a 70% podem ser observadas, chegando em alguns casos, a inviabilizar a colheita (Gazziero & Silva, 2017). Além de elevadas habilidade competitiva, algumas espécies de plantas daninhas apresentam grande capacidade reprodutiva, o que atrelado a alguns casos de resistência a herbicidas, dificultam o controle efetivo das populações infestantes e contribui para a persistência das plantas daninhas nas áreas de cultivo.

Figura 1. Perda de grãos planta-1 de soja (%) em função de populações de Amaranthus hybridus (caruru) com resistência múltipla a EPSPs e herbicidas inibidores de ALS nos experimentos realizado em 2018/19 (A) e 2019/20 (B).
Adaptado: Zandoná et al. (2022)

Embora diferentes estratégias de manejo possam ser empregadas na supressão de populações de plantas daninhas, o manejo pós-semeadura da soja é determinante para reduzir o impacto da matocompetição. Ainda que a dessecação sequencial e o emprego de herbicidas pré-emergentes possibilitem o bom controle inicial das plantas daninhas no sistema plantio direto, novos fluxos de emergência ao longo do ciclo da cultura podem ser observados, tornando necessário adotar medidas de controle na pós-semeadura da soja.

Do ponto de vista técnico, o manejo de plantas daninhas na pós-emergência da soja é dividido em diferentes períodos. O primeiro deles, denominado período anterior à interferência (PAI), corresponde ao intervalo em que a cultura pode conviver com plantas daninhas sem que haja impactos significativos sobre sua produtividade. Esse período ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja e sua duração pode variar em função da cultivar utilizada, das espécies infestantes presentes e da densidade de plantas daninhas na área.

Para a cultura da soja, estima-se que, considerando 5% de perda de produtividade, o PAI varie normalmente entre 25 a 26 dias após a emergência (Benedetti et al., 2009; Franceschetti et al., 2018). Por sua vez, o período total de prevenção da interferência (PTPI) corresponde ao intervalo a partir da emergência da cultura em que ela deve permanecer livre da competição com plantas daninhas, garantindo que sua produtividade não seja comprometida (Agostinetto et al., 2008). A diferença entre o período anterior à interferência (PAI) e o PTPI define o período crítico de prevenção da interferência (PCPI), ou seja, a janela em que as práticas de manejo devem ser adotadas para o controle das plantas daninhas, a fim de evitar perdas de produtividade.

Figura 2. Produtividade de grãos da soja (kg ha-1) cv. Elite IPRO, em função dos períodos de convivência (●) e de controle (○) de papuã (Urochloa plantaginea).
PAI: período anterior a interferência; PTPI: período total de prevenção a interferência e PCPI: período crítico de prevenção a interferência. Barras verticais correspondem ao desvio padrão da amostra. * Significativo a p≤0,05.
Adaptado: Franceschetti et al. (2018)

Para minimizar os efeitos da matocompetição na soja, é fundamental realizar o controle das plantas daninhas no período crítico de prevenção da interferência (PCPI). Nessa janela de manejo, o uso de herbicidas seletivos em aplicações pós-emergentes é a principal estratégia de controle. No entanto, para garantir eficiência e segurança, é indispensável considerar a tolerância genética da cultivar de soja, a composição e densidade das populações infestantes, bem como o período em que o controle deve ser realizado.

Normalmente, o controle pós-emergente de plantas daninhas na cultura da soja ocorre após o período anterior a interferência (PAI), quanto a cultura encontra-se em estádio V3 – V4 de desenvolvimento. Essa prática é popularmente conhecida como capina, e para que um controle eficiente seja observado, além de posicionar os herbicidas com base na seletividade à cultura e espécies infestantes, é necessário atentar para o estádio de controle das plantas daninhas.

Figura 3. Plantas daninhas na entrelinha da soja.

De modo geral, plantas daninhas em estádios iniciais de desenvolvimento, com 3 a 4 folhas, apresentam maior susceptibilidade ao controle químico. Nessa fase, a área foliar disponível favorece a absorção dos herbicidas e, ao mesmo tempo, a planta possui menor capacidade de tolerar seus efeitos. Conforme destacado por Schneider; Rizzardi; Bianchi (2019), plantas daninhas de menor estatura são mais facilmente controladas por herbicidas seletivos aplicados em pós-emergência, como o glifosato, o glufosinato de amônio, o 2,4-D e o dicamba, empregados no manejo de cultivares de soja com tecnologias RR, Liberty Link, Enlist e Xtend, respectivamente.

Ferramentas como os herbicidas residuais, também conhecidos como pré-emergentes, podem ser utilizadas de forma integrada no manejo de plantas daninhas, contribuindo para um melhor controle na pós-semeadura da soja. Conforme observado por Sanchotene et al. (2017) e corroborado por Borsato & Silva (2024), o emprego de herbicidas pré-emergentes na cultura da soja reduz os fluxos de emergência das plantas daninhas, além de controlar populações infestantes durante o período residual do produto, reduzindo a necessidade de aplicações sequenciais na pós-emergência da soja, para um controle efetivo das planta daninhas, além de contribuir para o manejo da resistência a herbicidas e melhor estabelecimento inicial da cultura no campo.

Borsato & Silva (2024) destacam ainda que, resultados ainda melhores são observados quando os pré-emergentes utilizados apresentam mais de um ingrediente ativo em sua composição, possibilitando assim um maior espectro de ação (Figura 4). Além disso, o uso dos herbicidas pré-emergentes tende a aumentar a uniformidade de emergência das plantas daninhas remanescentes, o que contribui para o melhor posicionamento dos herbicidas pós-emergentes, aumentando a eficácia do controle.

Figura 4. Efeito residual no controle de folhas-estreita (FE) e de folha-larga (FE) e de folha-larga (FL) aos 34 dias após a aplicação de herbicidas na pré-emergência da soja com 1, 2 ou 3 ingredientes ativos (n = número de safras).
Fonte: Borsato & Silva (2024)

Além dos fatores supracitados, é fundamental destacar que, para alcançar um controle eficiente de plantas daninhas na pós-semeadura da soja, devem ser rigorosamente seguidas as recomendações técnicas da cultura, bem como as orientações descritas na bula dos herbicidas, a fim de minimizar o risco de efeitos fitotóxicos. Mesmo quando herbicidas seletivos são aplicados em cultivares de soja tolerantes, sintomas de fitotoxicidade podem ocorrer, sobretudo em condições adversas de ambiente ou em situações de pulverização inadequada.

Para reduzir esses riscos, torna-se indispensável atentar às condições climáticas no momento da aplicação, à qualidade da pulverização e ao preparo correto da calda, sempre em conformidade com as recomendações técnicas previamente estabelecidas para o manejo de plantas daninhas em soja. Assim, a integração entre o correto posicionamento dos herbicidas e as boas práticas de aplicação constitui um dos pilares para garantir seletividade, eficiência de controle e segurança no manejo de plantas daninhas em soja.

Referências:

AGOSTINETTO, D. et al. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS COM A CULTURA DO TRIGO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 26, n. 2, p. 271-278, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pd/v26n2/a03v26n2.pdf >, acesso em: 18/08/2025.

BENEDETTI, J. G. R. et al. PERÍODO ANTERIOR A INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM SOJA TRANSGÊNICA. Scientia Agraria, Curitiba, v.10, n.4, p.289-295, 2009. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/agraria/article/download/14801/10003 >, acesso em: 18/08/2025.

FRANCESCHETTI, M. B. et al. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA. Anais da VIII Jornada de Iniciação Cientifica e Tecnológica – VIII JIC, 2018. Disponível em: < https://portaleventos.uffs.edu.br/index.php/JORNADA/article/view/8650 >, acesso em: 18/08/2025.

GAZZIERO, D. L. P.; SILVA, A. F. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE Amaranthus palmeri. Embrapa Soja, Documentos, n. 384, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1069527/1/Doc384OL.pdf >, acesso em: 18/08/2025.

SCHNEIDER, T.; RIZZARDI, M. A.; BIANCHI, M. A. DESEMPENHO POR ESTATURA: NO CONTROLE QUÍMICO DA BUVA RESISTENTE AO GLIFOSATO, O RESULTADO DA APLICAÇÃO DE HERBICIDAS PODE VARIAR DE ACORDO COM O TAMANHO DA PLANTA DANINHA. Revista Cultivar, 2019. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/desempenho_por_estatura.pdf >, acesso em: 18/08/2025.

ZANDONÁ, R. R. et al. ECONOMIC THRESHOLD OF SMOOTH PIGWEED ESCAPED FROM A HERBICIDE PROGRAM IN ROUNDUP READY® SOYBEAN. Adv Weed Sci. 2022. Disponível em: < https://awsjournal.org/wp-content/uploads/articles_xml/2675-9462-aws-40-spe2-e20210011/2675-9462-aws-40-spe2-e20210011.pdf >, acesso em: 18/08/2025.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.