Os herbicidas pré-emergentes, também conhecidos como herbicidas residuais, desempenham um papel fundamental no manejo e controle de planta daninhas, reduzindo os fluxos de emergência das plantas infestantes e também, contribuindo para o aumento da uniformidade da emergência das plantas remanescentes, possibilitando um melhor posicionamento dos herbicidas pós-emergentes para o controle pós-semeadura.

Diversos estudos comprovam a eficiência e eficácia dos herbicidas pré-emergentes na supressão da emergência de plantas daninhas nos estádios iniciais do desenvolvimento da soja, possibilitando o estabelecimento da lavoura livre da matocompetição inicial. Conforme observado por Ikeda et al (2025), dependendo do herbicida pré-emergente utilizado e das populações infestantes, a supressão na emergência das plantas daninhas pode chegar a 100% (figura 1).

Figura 1. Controle de vassourinha-de-botão (Borreria spinosa) em pré-emergência com a aplicação de atrazine (2.500 g ha-1) (A), flumioxazin (75 g ha-1) (B), flumioxazin + S-metolachlor [63+1.260 g ha-1] (C), pyroxasulfone + flumioxazin [120+80 g ha-1] (D), S-metolachlor (1.680 g ha-1) (E) e terbutilazina (1.500 g ha-1) (F) aos 21 dias após a aplicação. Sinop, MT, 2024.
Fonte: Ikeda et al. (2025)

No entanto, por atuarem no banco de sementes do solo, para um controle eficiente das plantas daninhas seja observado em função do uso dos herbicidas pré-emergentes, algumas condições necessitam ser seguidas. No geral, alguns erros comuns na aplicação dos pré-emergentes tendem a reduzir drasticamente a eficácia desses produtos, e adotar medidas que reduzam esses erros, é determinante para o sucesso do manejo.

A eficiência dos herbicidas pré-emergentes é condicionada entre outros fatores, às condições físico e químicas do produto, às condições físico, químicas e biológicas do solo, bem como às condições climáticas e ambientais no momento da aplicação. Características do herbicida como a solubilidade, se ele é iônico ou não iônico, ácido fraco ou não e a sua lipofilicidade, podem variar de acordo com a molécula e interagir com o ambiente, exercendo influência sobre a eficiência do controle.

O pH do solo por exemplo, é um fator determinante na eficiência dos herbicidas pré-emergentes, sobretudo daqueles que apresentam caráter ácido ou de base fraca. Em condições de maior alcalinidade, como ocorre em solos naturalmente básicos ou após aplicações sucessivas de calcário em doses elevadas, esses compostos tendem a se ionizar com maior intensidade. Esse processo aumenta sua mobilidade no perfil do solo, favorecendo a lixiviação e reduzindo o tempo de permanência na camada superficial, onde se localiza o banco de sementes, o que pode comprometer a eficácia do controle (Hartzler, s. d.).

Nesse sentido, além de conhecer as características do produto, é fundamental atentar para as condições do solo, especialmente no que diz respeito a suas condições químicas e físicas, adequando o controle químico às prática de manejo do sistema de produção. Além do pH do solo, a cobertura vegetal também exerce influência sobre a eficiência dos herbicidas pré-emergentes.

A palhada serve como uma barreira física, limitando a chegada do produto ao banco de sementes do solo (figura 2). A palhada, em especial se tratando de resíduos vegetais verdes (com alto teor de umidade), pode aumentar a adsorção dos herbicidas sobre esses resíduos, reduzindo consequentemente a concentração de ingrediente ativo no solo, limitando a eficiência do herbicida.

Figura 2. Representação gráfica do efeito da palhada da superfície do solo na aplicação de herbicidas pré-emergentes.

Nesse contexto, a aplicação de herbicidas residuais sobre resíduos vegetais ainda verdes constitui um equívoco que reduz a eficácia do controle e deve ser evitada. Da mesma forma, é fundamental considerar as práticas de correção do solo ao posicionar aplicações de herbicidas pré-emergentes, uma vez que o pH exerce influência direta sobre seu desempenho. Não menos importante, a umidade do solo representa um fator decisivo para a eficiência desses produtos.

A presença de umidade no solo é indispensável para que o herbicida alcance a solução do solo e possa agir sobre as sementes de plantas daninhas presentes no banco de sementes. No entanto, embora o efeito residual seja desejável até certo ponto para garantir o controle, é necessária cautela na utilização de herbicidas pré-emergentes, pois a persistência excessiva de alguns produtos pode gerar efeitos residuais indesejados, prejudicando o estabelecimento e o desenvolvimento das culturas subsequentes.

Dependendo do herbicida utilizado, a aplicação deve ser realizada pelo menos 30 dias antes da semeadura da soja, como ocorre com produtos a base da associação entre imazapic + imazapyr. Além disso, nesse caso, são necessários ao menos 100mm de chuva para evitar o residual indesejado sobre a cultura.

Logo, aplicar herbicidas residuais com baixa umidade do solo ou elevada umidade, é um erro comum que pode prejudicar a performance do produto, além de reduzir a residualidade do herbicida e também causar efeitos fitotóxicos à cultura sucessora, dependendo do herbicida utilizado.

Além dos fatores supracitados, temperatura e umidade do ar influenciam na eficácia dos herbicidas pré-emergentes e na qualidade da aplicação desses herbicidas. Visando aplicações eficientes, não se recomenda a pulverização de herbicidas com temperaturas acima de 32°C ou abaixo de 15°C, bem como umidade relativa do ar inferior a 50% e velocidade do vento inferior a 2 km/h ou superior a 10 km/h, sendo o ideal, entre 3,2 a 6,5 km/h (Azevedo & Freire, 2006).



A condução de pulverizações sob condições ambientais consideradas inadequadas, é mais um dos erros que compromete a eficiência do controle de plantas daninhas pelos herbicidas pré-emergentes, e deve ser evitada. Além das condições climáticas e ambientais, é necessário atentar para a tecnologia de aplicação utilizada. De acordo com Santos (2006), diâmetro de gotas, e densidade de gotas (gotas/cm²) são fatores a se considerar na aplicação de pré-emergentes, e o erro no posicionamento desses parâmetros pode reduzir a eficiência da pulverização.

Se tratando da pulverização de herbicidas pré-emergentes no sistema plantio direto, o ideal é que se trabalhe com gotas de diâmetro mediano volumétrico variando entre 450 a 550, enquanto que no sistema de plantio convencional, esse valor deva variar entre 420 a 480. Já com relação ao número de gotas por centímetro quadrado, recomenda-se trabalhar com o mínimo de 20 gotas/cm² independentemente do sistema de cultivo (Santos et al., 2006). Logo, a calibração do pulverizador é crucial para reduzir erros na aplicação.

Outro erro comum na utilização de herbicidas pré-emergentes, que compromete a qualidade e a eficiência do controle, é o preparo inadequado da calda de pulverização. Como esses produtos precisam apresentar boa solubilidade em água para garantir uma distribuição uniforme e adequada adsorção no solo, problemas de incompatibilidade na calda podem prejudicar a pulverização e, consequentemente, reduzir a eficácia dos herbicidas.

Além de seguir as orientações técnicas presentes na bula, como volume de calda, uso de óleos e adjuvantes, é necessário atentar para a ordem de adição dos produtos durante o preparo da calda de pulverização. Tendo em vista que dificilmente pulverização agrícolas sejam realizadas para a aplicação de um produto isolado e não da associação entre produtos, a ordem de diluição dos defensivos deve ser seguida com rigor para evitar problemas de diluição na calda.

Figura 3. Ordem de adição de produtos no tanque de pulverização.

De modo geral, a maior parte dos erros associados à aplicação de herbicidas pré-emergentes pode ser evitada com o cumprimento das recomendações técnicas da cultura, das orientações específicas de cada produto e da devida atenção às condições climáticas e ambientais no momento da pulverização. Nesse contexto, aspectos como as propriedades físico-químicas do solo e do herbicida, a umidade do solo e do ar, a temperatura e os parâmetros relacionados à tecnologia de aplicação constituem fatores determinantes para o sucesso do manejo. Assim, o cuidado com esses elementos é essencial para evitar falhas na aplicação, que comprometam a eficácia do controle das plantas daninhas.

Referências:

HARTZLER, B. ABSORPTION OF SOIL-APPLIED HERBICIDES. Iowa State University: Extension and Outreach, s. d. Disponível em: < https://crops.extension.iastate.edu/encyclopedia/absorption-soil-applied-herbicides?utm_source=chatgpt.com >, acesso em: 20/08/2025.

IKEDA, F. S. et al. MANEJO DE VARROURINHA-DE-BOTÃO (Borreria spinosa) NA SUCESSÃO SOJA-MILHO. Embrapa Agrossilvipastoril, Documentos, n. 11, 2025. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1174732/1/2025-cpamt-doc-11-fsi-manejo-vassourinha-de-botao-sucessao-soja-milho.pdf >, acesso em: 20/08/2025.

SANTOS, J. M. F. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS. Visão Agrícolas, n. 6, 2006. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va06-fitossanidade08.pdf >, acesso em: 20/08/2025.

ZEVEDO, F. R.; FREIRE, F. C. O. TECNOLOGIA DE APLCIAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS. Embrapa, Documentos, n. 102, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/426350/1/Dc102.pdf >, acesso em: 20/08/2025.

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