A eficácia dos herbicidas no manejo de plantas daninhas depende de uma série de fatores, bióticos e abióticos, os quais podem interagir entre si, reduzindo a eficiência no controle das plantas daninhas e/ou limitando a eficácia dos herbicidas. Dentre os principais fatores limitantes da eficácia dos herbicidas, especialmente se tratando dos pré-emergentes (residuais), destacam-se as condições físicas do solo.

A dissipação de herbicidas no ambiente é influenciada por uma combinação de fatores, incluindo as propriedades físico-químicas do produto e do solo, as condições climáticas, o manejo adotado e o sistema de cultivo utilizado. Após a aplicação, esses compostos podem passar por diferentes processos, como retenção no solo (sorção, envolvendo adsorção e absorção), transformação (por degradação química e/ou biológica) e transporte (via deriva, volatilização, lixiviação ou escorrimento superficial). A interação entre esses mecanismos define o destino final do herbicida no ambiente (Mancuso; Negrisoli; Perim, 2011).

Figura 1. Dinâmica dos herbicidas no solo.
Fonte: Appleby & Dawson (1994), apud. Mancuso; Negrisoli; Perim (2011).

Nesse contexto, a compactação do solo se destaca como fator limitante do desempenho desses herbicidas residuais. Considerando que os herbicidas pré-emergentes atuam diretamente no banco de sementes do solo, reduzindo os fluxos de emergência das planta daninhas (figura 2), a diminuição da macroporosidade do solo e o aumento da densidade de partículas por conta da compactação, tendem a limitar a movimentação do herbicida na solução do solo, reduzindo a capacidade do defensivo em atingir o alvo, limitando a zona de atuação do pré-emergente, o que pode resultar em um controle insatisfatório.

Figura 2. Fluxos de emergência de plantas daninhas.

Além disso, a compactação do solo limita a dissipação do herbicida via lixiviação. Essa condição pode ocasionar efeitos indesejados como o aumento o período residual do herbicida na subsuperfície do solo, afetando o desenvolvimento da cultura subsequente a aplicação do herbicida, efeito popularmente conhecido como carryover.

O carryover é o efeito residual prolongado no solo, que consiste na persistência do produto em níveis que podem prejudicar o desenvolvimento de culturas subsequentes. Esse efeito é indesejado e pode ser acentuado em solos compactados.  Corroborando, Vian et al. (2022) destacam que a seletividade dos herbicidas pré-emergentes pode ser alterada em função do comportamento da água no solo, o qual é influenciado pela compactação do solo.

Avaliando a seletividade de herbicidas aplicados em pré-emergência da soja cultivada em solo com diferentes condições físicas, os autores observaram que a compactação do solo impacta negativamente no estande de plantas e acúmulo de massa nos grãos de soja, demonstrando que, quando aplicados em solos compactados, os herbicidas pré-emergentes podem inclusive prejudicar o desenvolvimento e produtividade da soja.



Além da influência da compactação do solo sobre a mobilidade e eficácia dos herbicidas residuais, a textura do solo também desempenha influência sobre a residualidade e eficácia desses herbicidas. Ao analisar a atividade residual de diferentes doses dos herbicidas alachlor, oxyfluorfen, prometryne e S-metolachlor em solos com texturas contrastantes (argilosa e arenosa), aplicadas em pré-emergência, Inoue et al. (2011) observaram que dependendo do herbicida e dose, a textura do solo pode influenciar na residualidade do herbicida.

Figura 3. Porcentagem de controle em plantas de C. sativus, em relação à testemunha, em função da aplicação de alachlor aos 0, 25, 50, 75 e 100 dias antes da semeadura. Nos símbolos vazios e linhas tracejadas, os triângulos equivalem aos dados observados para a dose de 3,36 kg ha-1 e os quadrados para a dose de 2,40 kg ha-1 no Neossolo Quartzarênico (textura arenosa). Os círculos sólidos e linhas cheias equivalem à média dos dados observados para ambas as doses (2,40 e 3,36 kg ha-1 ) no Latossolo Vermelho (textura argilosa).
Fonte: Inoue et al. (2011)

Considerando os aspectos observados, é possível afirmar que tanto a compactação quanto a textura do solo podem influenciar, de forma isolada ou combinada, a performance dos herbicidas aplicados ao solo. Esses fatores impactam diretamente a eficácia no controle das plantas daninhas e a residualidade dos produtos. Tal comportamento é particularmente crítico para herbicidas pré-emergentes, pois pode reduzir sua eficiência no controle inicial das plantas infestantes e, ao mesmo tempo, aumentar o risco de efeitos adversos sobre o estabelecimento de culturas subsequentes. Assim, as características físicas do solo, sobretudo o grau de compactação e a textura, devem ser levadas em consideração no posicionamento de herbicidas residuais em aplicações de pré-emergência.


Veja mais:  Uso dos herbicidas pré-emergentes: como potencializar a ação desses herbicidas e por quanto tempo podem ajudar no estabelecimento da soja?


Referências:

COMPACTAÇÃO DO SOLO: INTERAÇÕES NA SELETIVIDADE DE HERBICIDAS PARA A CULTURA DA SOJA. Universidade de Rio Verde, Anais XVI CICURV, 2022. Disponível em: < http://revistas2.unirv.edu.br/index.php/cicurv/article/download/191/40 >, acesso em: 24/09/2025.

INOUE, M. H. et al. ATIVIDADE RESIDUAL DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES APLICADOS EM SOLOS CONTRASTANTES. Revista Brasileira de herbicidas, 2011. Disponível em: < https://www.rbherbicidas.com.br/index.php/rbh/article/viewFile/124/pdf >, acesso em: 24/09/2025.

MANCUSO, M. A. C.; NEGRISOLI, E.; PERIM, L. EFEITO RESISUAL DE HERBICIDAS NO SOLO (“CARRYOVER”). Revista Brasileira de Herbicidas, 2011. Disponível em: < https://www.weedcontroljournal.org/wp-content/uploads/articles_xml/2236-1065-rbh-S2236-10652011000100020010400172/2236-1065-rbh-S2236-10652011000100020010400172.pdf >, acesso em: 24/09/2025.

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