Considerada a principal praga da atualidade na cultura do milho, a cigarrinha-do-milho, espécies (Dalbulus maidis e Leptodelphax maculigera) é o principal vetor de transmissão dos enfezamentos. Os enfezamentos são doenças causadas por microrganismos fitopatogênicos conhecidos como molicutes, capazes de infectar a planta de forma sistêmica, causando perdas de produtividade que podem chagar a 100% em alguns casos (Cota et al., 2021).

Figura 1. Redução do tamanho de espigas e problemas de polinização/granação em plantas afetadas por enfezamentos.
Foto: Felipe Souto

Tendo em vista que a cigarrinha é responsável pela transmissão dos enfezamentos, controlar esse vetor é a principal estratégia de manejo para conter o desenvolvimento dos enfezamentos. Ainda que distintas estratégias de manejo possam ser adotadas visando reduzir a incidência da cigarrinha e a proliferação dos enfezamentos, em escala comercial o controle químico prevalece como medida de controle para combater a cigarrinha.

Contudo, ainda não há nível de ação pré-definida para o controle químico da cigarrinha-do-milho, uma vez que a capacidade em transmitir os enfezamentos está condicionada a indivíduos infectados com os molicutes e não a densidade populacional da praga. Nesse sentido, o uso estratégico de inseticidas contribui para o aumento da acurácia no controle da cigarrinha-do-milho.

Uso estratégico de inseticidas

Para garantir maior eficiência no controle da cigarrinha-do-milho, algumas medidas de manejo são fundamentais para o uso estratégico dos inseticidas. Entre elas destacam-se o monitoramento da praga, a definição adequada do período de controle, o posicionamento dos ingredientes ativos mais eficazes, a rotação de princípios ativos e o correto intervalo entre as pulverizações.

Monitoramento

O monitoramento periódico das áreas de cultivo é determinante para o sucesso no manejo e controle da cigarrinha-do-milho. O monitoramento da praga é  realizado, principalmente, com o uso de armadilhas adesivas responsáveis por capturar os insetos. Essas armadilhas devem ser instaladas antes mesmo da semeadura e acompanhadas periodicamente até o fim da fase crítica da cultura. De acordo com as recomendações técnicas, devem ser posicionadas a cerca de 50 metros da borda da lavoura e mantidas de 20 a 30 cm acima do dossel do milho (figura 2). As cartelas adesivas precisam ser substituídas semanalmente ou, preferencialmente, a cada três dias (Coleagro).

Figura 2. Armadilha adesiva (Yellow Trap) utilizada para o monitoramento da cigarrinha-do-milho.
Fonte: Governo do Estado do Paraná (2022)
Período crítico

Mesmo não havendo nível de ação pré-estabelecido para o controle da cigarrinha-do-milho, sabe-se que há um período no qual o potencial da praga em causar danos é maior. Esse período é conhecido como período crítico, e normalmente varia de VE a V5, podendo se estender até V8 em alguns casos (figura 3). Durante o período crítico, mesmo sem nível de ação pré-estabelecido, a presença da cigarrinha-do-milho já justifica seu controle, tendo em vista o elevado potencial dos enfezamentos em causar danos.

Figura 3. Período Crítico de controle da cigarrinha-do-milho.

Nesse contexto, inseticidas com foco no controle da cigarrinha-do-milho na pós-emergência da cultura devem ser posicionadas apenas durante o período crítico, quando o monitoramento indicar a presença da praga na lavoura. A adoção dessa estratégia permite um uso racional dos inseticidas, aumentando a eficácia no controle e reduzindo os danos em função do desenvolvimento dos enfezamentos.

Posicionamento de princípios ativos mais eficientes

Ao analisar a suscetibilidade da cigarrinha do milho a seis inseticidas (carbosulfan, metomil, acefato, bifentrina, acetamiprido e Imidacloprido), Machado et al. (2024) observaram que algumas populações da cigarrinha do milho (D. maidis), apresentam maior suscetibilidade a determinados inseticidas, o que aumenta a eficácia no controle da praga ao posicionar inseticidas mais eficientes. Conforme resultados observados pelos autores, a maioria das populações de cigarrinha apresenta alta suscetibilidade, com menor taxa de sobrevivência, aos inseticidas metomil, carbosulfan e acefato, exceto uma população da Bahia, que demonstra menor suscetibilidade ao metomil.

Em contrapartida, todas as populações avaliadas exibiram suscetibilidade reduzida à bifentrina, ao acetamiprido e ao imidacloprido.(Machado et al., 2024). Esses resultados comprovam que o posicionamento do inseticida quando ao principio ativo é uma das formas de aumentar a eficiência no controle da cigarrinha-do-milho, reduzindo consequentemente o impacto dos enfezamentos no milho.

Rotação de princípio ativos

Mesmo usando o posicionamento de princípios ativos de maior performance como estratégia no controle químico da cigarrinha-do-milho, é fundamental atentar para o manejo da resistência da praga aos inseticidas. O uso frequente de inseticidas de mesmo mecanismo de ação e/ou princípio ativo é desaconselhado, principalmente o uso consecutivo, mesmo se tratando de inseticidas de elevada efetividade.

O uso consecutivo e frequente de inseticidas similares acelera a seleção de indivíduos resistentes, desencadeando o surgimento de novos casos de resistência da praga a inseticidas. Com isso em vista, a alternância entre inseticidas é crucial não só para a manutenção da efetividade dos inseticidas disponíveis no mercado, como também para o controle eficaz das populações da cigarrinha.

Inseticidas alternativos aos inseticidas de contato, a exemplo dos inseticidas fisiológicos como o Fiera®, podem contribuir para a supressão das populações da cigarrinha-do-milho e ainda para o manejo da resistência da praga a inseticidas. O Fiera® é um inseticida seletivo e regulador de crescimento de insetos, que atua principalmente no controle de ninfas da cigarrinha-do-milho. Pesquisas demonstram um efeito positivo significativo da Buprofezina (Fiera®) no controle das cigarrinhas, além da  influência da molécula na fertilidade da praga, reduzindo a quantidade e a viabilidade dos ovos depositados (Sipcam Nichino, s. d.).

Intervalo residual

Considerando que a cigarrinha-do-milho apresenta um ciclo de ovo a adulto relativamente curto (de 15 dias a 27 dias), e uma alta prolificidade, com capacidade de oviposição de 400 a 600 ovos por fêmea (Ávila et al., 2022), a renovação dos fluxos da praga é intensa, tornando necessário curtos intervalos de reentrada para pulverização durante o período crítico de controle da cigarrinha.

Mesmo optando por inseticidas de maior performance e residualidade, normalmenteo intervalo entre aplicações de inseticidas durante a fase crítica de controle da cigarrinha é de 5 a 7 dias. Logo, o uso estratégico de inseticidas, considerando os aspectos observados anteriormente, é essencial para assegurar a boa produtividade do milho e a menor interferência dos enfezamentos sobre a cultura. Vale destacar que, se tratando de híbridos de milho com maior tolerância, os cuidados devem ser ainda maiores, redobrando a atenção com o monitoramento da praga, especialmente durante o período crítico de controle.

Referências:

ÁVILA, C. J. et al. DESAFIOS AO MANEJO DE ENFEZAMENTOS E VIROSES NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Agropecuária Oeste, Documentos, n. 149, 2022. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1152076/1/DOC-149-2022-ONLINE-1.pdf >, acesso em: 01/10/2025.

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Adapar instala armadilhas para capturar cigarrinhas do milho e ampliar estudo sobre doença. Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, 2022. Disponível em: < https://www.agricultura.pr.gov.br/Noticia/Adapar-instala-armadilhas-para-capturar-cigarrinhas-do-milho-e-ampliar-estudo-sobre-doenca >, acesso em: 01/10/2022.

MACHADO, E. P. IS INSECTICIDE RESISTANCE A FACTOR CONTRIBUTINGTO THE INCREASING PROBLEMS WITH Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae) IN BRAZIL? Society of Chemical Industry, 2024. Disponível em: < https://scijournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/ps.8237?domain=author&token=EFNPXSEM4KUXHHESVXEG >, acesso em: 01/10/2025.

MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1130346/manejo-da-cigarrinha-e-enfezamentos-na-cultura-do-milho >, acesso em: 01/10/2025.

SIPCAM NICHINO. INOVAÇÃO NO CONTROLE DA CIGARRINHA-DO-MILHO: NOVO INSETICIDA DEMONSTRA ALTA EFICÁCIA. Sipcam Nichino Brasil, s.d. Disponível em: < https://www.sipcamnichino.com.br/post/inova%C3%A7%C3%A3o-no-controle-da-cigarrinha-do-milho-novo-inseticida-demonstra-alta-efic%C3%A1cia >, acesso em: 01/10/2025.

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