Por Meteorologista Jossana Ceolin Cera – CREA-RS 244228
Acompanhe quais foram as condições meteorológicas ocorridas em outubro de 2025 no Estado do Rio Grande do Sul
O volume de precipitação diminuiu em outubro, principalmente na Metade Sul do Estado. Em toda a Campanha e Zona Sul, os acumulados ficaram abaixo dos 80 mm. Nas demais regiões arrozeiras, os acumulados variaram entre 80 e 120 mm, em média, com alguns pontos com valores superiores (Figura 1A). Assim, praticamente toda a Metade Sul ficou com anomalias negativas de precipitação, enquanto a parte Norte ficou com anomalias positivas (Figura 1B). Com o maior predomínio do tempo seco, a semeadura do arroz avançou no Estado, fechando o mês de outubro com 70% da área semeada.

Figura 1. Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, no estado do Rio Grande do Sul, durante o mês de outubro de 2025, em relação aos valores da Normal Climatológica, relativa ao período 1991-2020. Fonte de dados: INMET.
Houve certa frequência nas precipitações, com volumes máximos na casa dos 20 mm/dia. As temperaturas oscilaram bastante, com dias com máximas próximas aos 30°C e dias com mínimas na casa dos 6 a 9°C (Figura 2). A média mensal da temperatura do ar ficou acima da Normal Climatológica (NC) entre a Zona Sul e a Campanha e, dentro da NC, nas demais regiões da Metade Sul.

Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C) e suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas em vermelho e azul) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de outubro de 2025, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos de seis regiões arrozeiras. Fonte de dados: INMET.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas
Segundo a atualização da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), de 13 de novembro de 2025, o sistema acoplado oceano-atmosfera no Oceano Pacífico equatorial refletiu a presença da La Niña. Em outubro, a anomalia mensal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 foi de -0,5°C, sendo o primeiro mês com anomalia em limite de La Niña. A região Niño 1+2, esteve com 0,0°C (Figura 3). A anomalia trimestral, referente a Ago-Set-Out/2025, baixou para -0,5°C, também sendo o primeiro trimestre com anomalia de La Niña.

Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da água da Superfície do Mar no mês de outubro de 2025. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade de distribuição das chuvas, ou seja, sua regularidade de ocorrência no estado do RS. Fonte: Adaptado de CPTEC.
A fase Neutra do ENOS é compreendida por temperaturas entre -0,5 e +0,5°C pelo conceito da NOAA e, de -0,8 a +0,8°C, pelo conceito do Centro Australiano de Meteorologia. Para os australianos, esse limiar de -0,8°C precisa ser sustentado por, pelo menos, três meses, para haver um indicativo de La Niña, além de ser acompanhado por uma resposta atmosférica consistente. O fato de a NOAA ter declarado estado de La Niña tão precocemente, ainda no início de outubro, pode estar atrelado ao índice ONI relativo (RONI), já mencionado no texto de setembro.
Na atualização do início de novembro, a NOAA elevou a probabilidade de estabelecimento da La Niña para 84%, para o trimestre Out-Nov-Dez/2025 e para 69% no trimestre seguinte. Mas, a Neutralidade deve retornar já no trimestre Jan-Fev-Mar/2026, com 61% de probabilidade. Logo, o que parece se desenhar é um evento curto e de fraca intensidade, se o resfriamento no Pacífico prosseguir por mais tempo. Chamou a atenção, a probabilidade de 40% para o desenvolvimento de um El Niño, a partir do trimestre Jun-Jul-Ago/2026. Mas isso é um assunto a ser acompanhado nas próximas atualizações, para ver se vai prosseguir mesmo.
O bolsão de águas subsuperficiais com anomalias negativas se mantem, desde agosto (Figura 4), sustentando o resfriamento em superfície. Como ele não aumentou de tamanho, nem de magnitude, espera-se que o resfriamento m superfície, também não aumente muito.

Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de agosto a novembro de 2025. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Previsão de Precipitação – trimestre dezembro de 2025, janeiro e fevereiro de 2026 no RS
Para este trimestre, o consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) indica déficit de chuvas para todo o RS. Da mesma forma, o modelo CFSv2 (Climate Forecast System), da NOAA, também prevê precipitações abaixo da NC para o trimestre em questão, havendo possibilidade da precipitação ficar mais próxima da NC na parte Leste mas, apenas em fevereiro. Por sua vez, a previsão do modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) indica precipitações abaixo da NC em dezembro para todo o RS, devendo ser mais pronunciada entre o Oeste e o Noroeste. Para janeiro, a previsão é de chuvas abaixo da NC, com exceção da parte Norte das Planícies Costeiras Interna e Externa. A previsão de chuvas abaixo da NC segue para fevereiro, com exceção da Zona Sul (Figura 5).

Figura 5. Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para dezembro de 2025, janeiro e fevereiro de 2026 no estado do RS. Fonte: adaptado de INMET.
O resfriamento no Oceano Pacífico Equatorial começou antes nesse ano, em outubro mais precisamente, comparado ao ano anterior, que começou em dezembro. Com isso, espera-se que os períodos de deficiência hídrica também comecem mais cedo. E já se percebe isso, ainda em novembro, as chuvas já estão mais espaçadas, e quando chega uma frente fria, a chuva dura um ou dois dias apenas. Independentemente de caracterizar uma La Niña, ou não, o pico do resfriamento deverá ocorrer entre o final de 2025 e o início de 2026. Depois disso, a atmosfera volta a se encaminhar para a neutralidade. O risco de déficit hídrico será maior durante o verão, potencializado pelas altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar.
Diante desse prognóstico, cresce a atenção para a restrição hídrica durante o ciclo das culturas de primavera-verão no RS, pois independentemente do cenário, se sob Neutralidade ou uma La Niña de fraca intensidade, sempre há risco de estiagem durante o verão.
A tendência geral é de que as chuvas diminuam mais significativamente a partir de novembro, devendo prosseguir por dezembro e janeiro. Há a expectativa de que as chuvas retornem a partir de fevereiro, pelo menos nas áreas mais ao Leste. Lembrando que as chuvas no período do verão são irregulares (mal distribuídas) e, com isso, pode ocorrer de chover mais em alguns locais, que outros.
O RS segue em fase de semeadura do arroz e da soja, sendo necessário manter a atenção quanto à umidade do solo e à previsão do tempo, para não correr riscos e garantir o adequado estabelecimento inicial da lavoura.
Diante desse cenário, recomenda-se o acompanhamento contínuo das previsões meteorológicas de curto prazo (sete a 15 dias), como estratégia para melhorar a eficiência na execução das atividades agrícolas e apoiar a tomada de decisão no manejo das lavouras, assim como da previsão climática, para saber o quanto o Oceano Pacífico irá resfriar e impactar nas chuvas do RS nos próximos meses.
Fonte: IRGA




