O Brasil entra no último mês do ano ainda sem registrar o retorno das chuvas regulares esperadas para o período. A avaliação é do agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, que alerta para a persistência de volumes irregulares e a manutenção de riscos para as lavouras de soja e, sobretudo, de milho.
Uma frente fria que cruzou o Rio Grande do Sul no fim de semana trouxe apenas precipitações dispersas, insuficientes para reverter o quadro. “Foram chuvas muito irregulares, como a gente já havia comentado, e isso trouxe uma preocupação gigantesca, já que várias regiões registraram volumes baixos”, explica Santos. Segundo ele, o impacto pode atingir áreas já sensíveis pelo excesso de calor e pela deficiência hídrica acumulada desde novembro.
Para o início desta semana, havia expectativa de alguma instabilidade, impulsionada por sistemas meteorológicos que se formam entre Argentina, Paraguai e Uruguai, além de áreas de instabilidade espalhadas sobre o Brasil. Entretanto, os volumes continuam desuniformes.
Esse padrão deve se repetir ao longo dos próximos dias. O sistema que avança pelo Paraguai nesta terça-feira deve manter o tempo estável no Rio Grande do Sul, mas ainda pode gerar chuva pontual em regiões de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e até no Matopiba. O reforço da instabilidade deve ocorrer apenas na quarta-feira, quando o sistema ganha força sobre a faixa central do país. “Na quarta-feira esse sistema ganha força sobre a região central e deixa o tempo bastante instável”, afirma.
O contraste permanece evidente: enquanto o sul volta a secar a partir de quarta-feira, o Sudeste, o Centro-Oeste e parte do Norte devem registrar precipitações, ainda que sem distribuição uniforme. “Não serão chuvas generalizadas. São pipoquinhos de chuva, manchas irregulares”, detalha Santos.
No Sul, a situação é mais crítica. A previsão aponta retorno das chuvas apenas no início da próxima semana, entre os dias 9 e 10, com possibilidade de dois a três dias consecutivos de instabilidade. Até lá, a região deve enfrentar um período prolongado de estiagem. O cenário, segundo o especialista, confirma projeções feitas desde agosto sobre os efeitos do desenvolvimento da La Niña. “A gente deixou muito claro que, quando a La Niña ganhasse intensidade no final de novembro e início de dezembro, haveria possibilidade de estiagem no Rio Grande do Sul. Dito e feito.”
Apesar da irregularidade no mês, Santos afirma que o padrão não deve se manter por todo o verão. Segundo ele, há tendência de retorno gradativo das chuvas ao Sul a partir da segunda quinzena de dezembro, embora ainda de forma não uniforme. Modelos europeu e americano mostram o mesmo comportamento.
Para o agrometeorologista, o mês de dezembro será marcado por precipitações frequentes, porém distribuídas de maneira errática, o que exige monitoramento constante das condições climáticas e de campo.
Paraguai
As imagens de satélite indicam áreas de instabilidade entre o norte da Argentina e o Paraguai, que devem avançar entre hoje e amanhã e provocar chuvas em grande parte da região, indica o alerta agroclimático da Rural Clima. Os volumes serão irregulares, com destaque para o extremo sul do Paraguai, onde devem variar entre 5 e 20 milímetros, mas ainda assim são considerados fundamentais para manter as lavouras até o retorno mais significativo das chuvas previsto para 9 e 10 de dezembro.
Segundo a meteorologista Ludmila Camparotto, há possibilidade de precipitações mais intensas de forma pontual, especialmente em áreas do Chaco, que deve receber volumes melhores que a região de Itapúa. Modelos indicam chance de chuva entre esta tarde e a madrugada em municípios como São Cristóvão, Santa Rita e Campo 9, com leve queda de temperatura.
As instabilidades dependerão do avanço do sistema que organiza a umidade sobre o país. Após esta janela de precipitação entre hoje e amanhã, um novo sistema deve atuar novamente entre os dias 10 e 15, principalmente no leste paraguaio.
Fonte: Pedro Diniz Carneiro – Safras News




