Conhecida popularmente como trapoeraba, as espécies do gênero Commelina integram o grupo das principais espécies daninhas em culturas de verão, matocompetindo com as espécies agrícolas por recursos essenciais com água, radiação solar e nutrientes. Embora espécies como Commelina erecta e Commelina diffusa possam ser encontradas em ambientes agrícolas, a espécie Commelina benghalensis é a espécie mais comum observada em lavouras comerciais.
Considerada uma espécie de difícil controle, a Commelina benghalensis apresenta características que contribuem para uma maior sobrevivência e dispersão das plantas em ambientes agrícolas. Essas plantas apresentam estruturas reprodutivas alocadas abaixo da superfície do solo, conhecidas como sementes subterrâneas. Essas sementes originam-se de flores modificadas localizadas nos rizomas, que resultam na formação de propágulos por partenocarpia, com capacidade de germinar em subsuperfície. Esse mecanismo contribui significativamente para a persistência e a dispersão dessa planta daninha em áreas de cultivo.
Essa característica favorece o aumento dos fluxos de emergência da trapoeraba em meio às culturas agrícolas, ocorrendo em diferentes estádios de desenvolvimento das lavouras. Em razão disso, é comum a ocorrência de áreas infestadas por trapoeraba ao final de culturas como milho e/ou soja safrinha, o que compromete o adequado estabelecimento da cultura sucessora.
Figura 1. Sistema radicular da trapoeraba com sementes subterrâneas.

Na cultura da soja, os danos ocasionados pela trapoeraba, espécie C. benghalensis, estão condicionados ao período de matocompetição e densidade populacional da planta daninha. Estudos do grupo Supra Pesquisa demonstram que sob baixa infestação, os danos ocasionados pela trapoeraba em soja podem representar até 20% de perda na produtividade, enquanto que, se tratando de ambientes de alta densidade populacional da planta daninha (alta infestação), as perdas de produtividade em soja podem ser superiores a 80% (figura 2).
Figura 2. Redução da produtividade da soja em função de diferentes níveis de infestação de trapoeraba.

Considerando o impacto da trapoeraba na produtividade da soja, adotar estratégias de controle que possibilitem reduzir as infestações dessa planta daninha é determinante para a manutenção do potencial produtivo da cultura. Ainda que não haja relatos de casos de resistência de C. benghalensis a herbicidas no Brasil, sabe-se que em função de características singulares dessa espécie como a presença abundante de tricomas e cerosidade em suas folhas, a trapoeraba dificilmente é controlada pelo glifosato na pós-emergência da soja. Essas características dificultam a ação de alguns herbicidas, uma vez que os fatores supracitados reduzem a absorção e translocação desse herbicida na planta, tornando-a tolerante ao glifosato (Agro Bayer Brasil).
Sendo assim, para um controle eficiente da trapoeraba, medidas alternativas de controle devem ser adotas, atuando de forma proativa, sem limitar as opções ao controle pós-emergente da soja. Visando um controle efetivo da trapoeraba, Bianchi; Sturmer; Somavilla (2018) destacam ser importante realizar aplicações sequenciais de herbicidas. Avaliando o controle da trapoeraba por meio da utilização de diferentes herbicidas, Bianchi; Sturmer; Somavilla (2018) constataram que apenas uma aplicação de herbicidas não resulta em um controle satisfatório da trapoeraba, independentemente do herbicida avaliado (glifosato + 2,4-D e glifosato + 2,4-D + carfentrazona ou saflufenacil).
Já tratamentos que receberam uma segunda aplicação de herbicida (sequencial), proporcionaram controle eficiente das plantas de trapoeraba, independente do herbicida utilizado (Bianchi; Sturmer; Somavilla, 2018). Sendo assim, os resultados indicam que a adoção de uma segunda aplicação de herbicidas é estratégica para o manejo eficiente de Commelina benghalensis.
Entre as opções disponíveis para a aplicação sequencial, destacam-se diquat e glufosinato de amônio, aplicados de forma isolada ou em associação com herbicidas pré-emergentes, como diuron, imazetapir e flumioxazina. De acordo com Bianchi; Sturmer; Somavilla (2018) , observa-se maior eficiência de controle quando se adotam aplicações sequenciais, nas quais a primeira aplicação é composta por glifosato + 2,4-D (1458 g e.a. + 1340 g e.a. ha⁻¹), seguida de uma segunda aplicação com glufosinato de amônio (500 g ha⁻¹) ou diquat (400 g ha⁻¹), consolidando-se como uma estratégia tecnicamente consistente para a redução da infestação dessa espécie.
Confira o estudo completo desenvolvido por Bianchi; Sturmer; Somavilla (2018) clicando aqui!
Referências:
AGRO BAYER BRASIL. TRAPOERABA. Disponível em: < https://www.agro.bayer.com.br/essenciais-do-campo/alvos-e-culturas/plantas-daninhas/trapoeraba >, acesso em: 23/12/2025.
BIANCHI, M. A.; STURMER, H.; SOMAVILLA, J. C. ESTRATÉGIAS DE CONTROLE PARA TRAPOERABA. CCGL. Boletim Técnica, n. 65, 2018. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/boletim_t%C3%A9cnico_65.pdf >, acesso em: 23/12/2025.





