A presença de plantas daninhas reduz a produtividade das culturas agrícolas pela competição por recursos do meio. Por sua maior praticidade e alta eficiência, o controle químico tornou-se o principal método de controle nas lavouras, atuando como agente selecionador no meio, permanecendo as espécies mais adaptadas.
Deste modo, espécies que anteriormente não eram consideradas plantas daninhas primárias nas culturas agrícolas passam a sê-lo. Como exemplo, tem-se a buva, capim-amargoso e, mais recentemente, o capim rabo-de-burro, espécie frequente em campos nativos e áreas degradadas, e que nos últimos anos vem representando problemas aos produtores de soja do Rio Grande do Sul, principalmente por sua dificuldade de manejo.
Capim Rabo-de-Burro
As plantas conhecidas popularmente como capim rabo-de-burro são pertencentes à família Poaceae e à tribo Androponeae. As espécies desta família são nativas principalmente dos países africanos e latino-americanos, sendo o Brasil o país do continente com maior número de espécies da família.
Existem duas espécies popularmente conhecidas como capim rabo-de-burro: Andropogon bicornis e Schizachyrium microstachyum. Ambas as espécies são perenes, com estrutura reprodutiva plumosa, alta adaptabilidade e rusticidade, características que facilitam a sobrevivência e disseminação no ambiente.
São espécies propagadas por semente e rizoma, possuem altura variável, porte ereto, facilmente percebidas, principalmente após seu secamento, quando permanecem eretas, porém com coloração marrom palha.
Até o momento, acreditava-se que a espécie ocorrente nas lavouras do Estado tratava-se de Andropogon bicornis. Entretanto, após coleta de biótipos em área de campo nativo e lavoura nos municípios de Cruz Alta e Pelotas e posterior caracterização morfológica para identificação das plantas, constatou-se que a espécie ocorrente é Schizachyrium microstachyum.
De modo geral, ambas as espécies ocorrem de modo associado. Contudo, Andropogon bicornis ocorre predominantemente em locais com menor interferência humana, como beira de estradas e de açudes e em locais alagados.
Diferenciação entre as espécies
As principais características que diferenciam as espécies estão na sua estrutura reprodutiva, em que Andropogon bicornis apresenta dois ramos floríferos por espatéola, espiguetas sem aristas ou espinhos e duas flores férteis por espigueta (Figura 1).

espiguetas pediceladas desenvolvidas (destacadas em vermelho), sem a presença de arista. Fonte: Neves, 2010.
Por sua vez, Schizachyrium microstachyum apresenta um único ramo florífero por espatéola, espiguetas sésseis e aristadas, com uma única flor fértil por espigueta (Figura 2).

Na fase vegetativa é possível diferenciar a espécie por meio da lígula. Andropogon bicornis possui lígula pilosa e bifurcada (Figura 3) e Schizachyrium microstachyum não possui as pilosidades observadas na outra espécie, além de possuir lígula pequena partida ao meio (Figura 4).


Considerações
A distinção de espécies de capim rabo-de-burro que ocorrem em áreas agrícolas no Rio Grande do Sul é de extrema importância para a compreensão da sua adaptação ao ambiente, seu manejo e sensibilidade a herbicidas. Nas lavouras, poderá ocorrer resposta diferenciada aos herbicidas em virtude de possível diferença na sensibilidade entre A. bicornis e S. microstachyum. Nesse sentido, estudos são necessários para construir modelos de controle robustos e eficazes para o controle de capim rabo-de-burro nas lavouras.
Literatura Consultada
KISSMANN K.G, GROTH D. (1997) Plantas infestantes e nocivas. 2. ed. São Paulo: BASF, t. 1: Plantas inferiores e monocotiledôneas, 1997.
NEVES, B. T., Andropogoneae Dumort. (Poaceae) nativas e subespontâneas da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. 2010. 121f. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal). UFSC, Santa Catariana, 2010.
ZANIN, A.; WAGNER, H. M. L., Sinopse do gênero Andropogon L. (Poaceae-Andropogoneae) no Brasil. Revista Brasil. Botânica., v. 29, n.2, 2006.
WELKER, C. A. D.; LONGHI-WAGNER, H. M. Sinopse do gênero Schizachyrium Nees (Poaceae-Andropogoneae) no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia. Série Botânica. V. 67, n. 2, p. 199-223, 2012.
Autores:
Adriana A. do Amarante – Mestranda, PPG Fitossanidade – UFPe
Dirceu Agostinetto – Prof. Associado, Depto. Fitossanidade – UFPel
Caroline Scherer – Prof. Instituto de Botânica – UFPel
Mario Antonio Bianchi – Pesquisador da CCGL
Fonte: CCGL – Pesquisa e Tecnologia