Os fitopatógenos podem sobreviver em sementes, resíduos culturas e solo. Quando nos resíduos culturais, estes agem como ponte par a sobrevivência dos patógenos e infecção de novas plantas. Contudo, alguns patógenos sobrevivem apenas em tecidos vegetais vivos denominados de organismos biotróficos. As culturas que permitem a sobrevivência desses patógenos são denominadas “pontes verdes”.
Essas culturas permitem a sobrevivência dos organismos por tempo suficiente para infecção em culturas de um novo ciclo agrícola. Os patógenos foliares que utilizam das pontes verdes para sobrevivência são espalhados por insetos, ar, gota de chuva ou orvalho e de culturas de cobertura verdes ou senescentes. Dessa forma, atingem as culturas comerciais nos estádios iniciais do seu desenvolvimento prejudicando o crescimento e desenvolvimento da cultura e interferindo negativamente na produtividade da cultura.
Estudar e entender as possíveis aplicações das culturas de cobertura, plantas hospedeiras e/ou plantas daninhas voluntárias além de seu papel específico no ciclo de vida de diferentes patógenos, melhora a gestão do agrossistema.
Na figura 1, é possível observar as principais espécies utilizadas como plantas de cobertura (ou culturas de serviço) e sua distribuição em algumas regiões da Argentina.
Figura 1. Principais espécies utilizadas como plantas de cobertura em algumas regiões da Argentina.

Inúmeros patógenos podem sobreviver nas culturas de cobertura (culturas de serviço) e infectar as culturas sucessoras, principalmente quando se trata de culturas de mesma família como Poaceaes. As ferrugens do gênero Puccinia, por exemplo, são consideradas patógenos biotróficos, e dependem da presença de plantas hospedeiras para sua sobrevivência. Dentre as culturas que o patógeno utiliza como meio de sobrevivência, o trigo, cevada e centeio se destacam. O sucesso parasita da ferrugem se deve a alta capacidade do patógeno em aumentar a população rapidamente.
Verões úmidos possibilitam o maior desenvolvimento de plantas voluntárias que servem como hospedeiras para o fungo, proporcionando condições para sua sobrevivência. Diversas espécies de Puccinia podem ocorrem nas gramíneas, sendo assim é necessário buscar alternativas que auxiliem no controle da doença e resistência das plantas, tais como cultivares resistentes e destruição de plantas daninhas e voluntárias.
Além de patógenos foliares, as culturas de cobertura (serviço) podem ser hospedeiras de patógenos de solo como Fusarium e Pythium. Os resíduos culturais das culturas de cobertura podem proporcionar condições favoráveis para o desenvolvimento e sobrevivência desses patógenos de solo, podendo estes sobreviver até o próximo cultivo.
Contudo, estudos indicam que o cultivo de plantas como aveia, cevada e trigo, podem reduzir a infestação de patógenos como Sclerotinia sclerotiorum, diminuindo podridão do caule da soja.
As doenças foliares do milho, com exceção da ferrugem e do oídio, são causadas principalmente por fungos necrotrófico que sobrevivem em resíduos culturais, incluindo Exserohilum turcicum. As plantas voluntárias também são reservatório de patógenos; a murcha bacteriana (Clavibacter michiganensis), a queima das folhas (E. turcicum) e a mancha cinza (Cercospora spp) podem ser potencializadas na presença de plantas de milho voluntárias.
No quadro 1 é possível observar alguns patógenos (fungos, bactérias, vírus e oomicetos) que compartilham hospedeiros, culturas de serviço (plantas de cobertura) e extensas culturas de importância na Argentina. Cevada e trigo também são usados como culturas de cobertura. * As subespécies do fungo Puccinia graminis diferem de acordo com os hospedeiros.
Quadro 1. Alguns patógenos (fungos, bactérias, vírus e oomicetos) que compartilham hospedeiros, culturas de serviço (plantas de cobertura) e extensas culturas de importância na Argentina.

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No Brasil não é muito diferente, MILEO et al, (2006) avaliando a possibilidade de plantas de cobertura de hospedar Colletotrichum guaranicola, observaram que plantas como Crotalaria striata (Crotalária) e Mucuna aterrima (Mucuna) apresentam alta susceptibilidade ao patógeno, atuando como hospedeiras. Entretanto, uma das doenças mais preocupantes no senário brasileiro com relação direta ao cultivo de plantas de cobertura é o Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), doença que apresenta alta capacidade de sobrevivência no solo devido suas estruturas (escreródios) e que tem o Nabo-forrageiro como uma das principais plantas hospedeiras.
Conforme FELLER, (2014) o período de maior predisposição do mofo branco na cultura da soja ocorre na floração. O nabo-forrageiro é uma cultura muito utilizada na rotação de culturas com a soja, especialmente nas regiões sul do Brasil, contudo sua utilização requer cautela principalmente em áreas com histórico de mofo-branco. Entretanto, nessas áreas o nabo-forrageiro também pode ser utilizado como uma “cultura armadinha” servindo para possibilitar a propagação da doença e seu posterior controle em áreas infestadas, diminuindo a incidência da doença na cultura da soja (ELEVAGRO).
A interação entre plantas de cobertura, plantas daninhas e resíduos culturais frente ao desenvolvimento de patógenos é complicada, ainda mais tendo em vista a necessidade da realização de rotação de culturas e cobertura do solo, contudo, é necessário que se busque alternativas que possibilitam o cultivo sustentável da produção agrícola.
Referências:
ELEVAGRO. NABO FORRAGEIRO COMO PLANTA ARMADILHA EM ÁREAS COM MOFO-BRANCO. Elevagro. Disponível em: < https://elevagro.com/materiais-didaticos/nabo-forrageiro-como-planta-armadilha-em-areas-com-mofo-branco/>, acesso em: 15/06/2020.
ERREGUERENA, I; FORMENTO, N; COURETOT, L. OS PATÓEGENOS QUE AFETAM OS CULTIVOS AGRÍCOLAS, SE ESCONDEM NOS CULTIVOS DE SERVIÇO? INTA, Revista Red de Innovadores, n.184, 2020. Disponível em: <https://www.aapresid.org.ar/blog/revista-red-de-innovadores-n184/>, acesso em: 15/06/2020.
FALLER, L. A. MANEJO DA PALHADA DE CEREAIS DE INVERNO NO CONTRLE DO MOFO BRANCO DA SOJA. Unicentro, Guarapuava, 2014.
MILEO, L. J. PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO COMO HOSPEDEIRAS ALTERNATIVAS DE Colletotrichum guaranicola1. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 24, n. 4, p. 677-683, 2006.
Adaptado: ERREGUERENA; FORMENTO; COURETOT, (2020) – INTA