O avanço da agricultura levou ao melhoramento de cereais, fundamentais para nossa alimentação
É quase impossível passarmos um dia sem a inclusão de algum produto a base de cereal na nossa dieta. Para que você tenha uma ideia, os principais cereais utilizados na alimentação humana e animal são: trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio e sorgo. Então, muitos dos alimentos que consumimos são cereais ou produtos que contenham cereais na sua composição. Afinal, eles são utilizados principalmente para a fabricação de farinhas destinadas à panificação ou como farelos para a fabricação de ração animal.
Por conterem grande quantidade de carboidratos, são considerados a principal fonte de energia ingerida pelos seres humanos. Em média, eles apresentam 12-13% de água, 9-13% de proteína, 2-5% de lipídios, 0,5-2% de fibras e 1-3% minerais.
Dada sua importância na nossa alimentação, a evolução dos cereais se mistura com a história da agricultura. Quer saber como? Continue lendo este texto.
O melhoramento genético é fator chave na evolução dos cereais no mundo
O início da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos, foi marcado pelas primeiras domesticações dos grãos de cereais, como o milho, o trigo e o arroz. Nessa época nossos ancestrais começaram a reconhecer as diferenças entre as características das plantas cultivadas, guardando as sementes das melhores lavouras para o plantio das safras seguintes. Essa forma de plantar e colher utilizando métodos de seleção deu início aos primeiros procedimentos de melhoramento de plantas, ainda que não fosse utilizado esse termo.
O milho, por exemplo, começou a ser domesticado pelos nativos do México, local de origem desse cereal. A espécie, que antes apresentava características básicas de uma gramínea, conhecida como teosinto, com processo de domesticação e a seleção natural se tornou uma planta anual de aproximadamente 4 metros de altura, folhas grandes e espaçadas alternadamente em lados opostos, caule sólido, robusto e ereto. Com a evolução das técnicas de melhoramento, características cada vez melhores foram atribuídas aos cereais. Na década de 1980 foi desenvolvido o primeiro milho transgênico resistente a insetos e tolerante a herbicidas, e desde 1995 é cultivado e comercializado em muitos países.
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Quando falamos em avanço do melhoramento genético de plantas, o trigo foi um dos grandes protagonistas. Durante a revolução verde (década de 1960), por meio de cruzamentos, foram incorporados ao genoma do trigo, genes relacionados ao tamanho e ao fotoperíodo da cultura. Assim, plantas de menor estatura e tempo de floração foram desenvolvidas, favorecendo o seu sistema de produção com aumento de produtividade. Esses genes permanecem amplamente difundidos nas cultivares de trigo utilizadas em todo o mundo. Com isso, as cultivares desenvolvidas, puderam ser adotadas pelos países em desenvolvimento, impactando diretamente a segurança alimentar.
À medida que a história agrícola foi passando por novos desafios, novas ferramentas foram sendo utilizadas no aprimoramento genético de diversos cereais, incluindo o trigo. No início deste ano, após vários estudos e discussões, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o trigo transgênico HB4 (tolerante à seca e resistente ao herbicida glufosinato) para plantio, importação e comercialização em território nacional. Em razão da maior tolerância às condições de estresse hídrico e viabilização da utilização de um importante herbicida para a cultura, a tecnologia HB4 já tem demonstrado, em média, um aumento de 19,5% na produtividade do trigo.
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Além de atribuir melhoria nas características agronômicas, o melhoramento genético dos cereais também é marcado pela melhoria da qualidade nutricional. É o caso do arroz dourado, que a partir da década de 1990 começou a ser desenvolvido com o objetivo de combater a deficiência de vitamina A. Após muitos anos de estudo, o arroz dourado, ou golden rice, como é conhecido mundialmente, é uma variedade geneticamente modificada (GM) de arroz, que passa a produzir altos níveis de betacaroteno, precursor da vitamina A.
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Outro cereal que vem ganhando espaço na produção agrícola mundial é o sorgo. De origem africana, a espécie tem sido melhorada geneticamente ao longo dos anos. Um importante avanço na produção da cultura foi motivado pelos maiores rendimentos de híbridos desenvolvidos nos Estados Unidos em meados da década de 1950. No Brasil, as pesquisas iniciaram-se em 1972, com o objetivo de melhorar o desempenho da cultura nas condições naturais das mais diversas regiões produtoras do país.
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A importância dos cereais para a segurança alimentar global
De acordo com o Agricultural Outlook 2022-2031 produzido pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) das Nações Unidas, a previsão é de que o crescimento populacional eleve o consumo de alimentos à base de cereais, principalmente em países menos desenvolvidos. Isso traduz a importância dessas culturas para a segurança alimentar global.
Segundo estudo, o trigo e o arroz, em particular, continuarão sendo componentes cruciais nas dietas na Ásia, assim como milheto, sorgo, milho e arroz se manterão como alimentos básicos na África. Projeta-se que a maior parte do excedente exportável de arroz permaneça concentrado nos países asiáticos, enquanto na América Latina e no Caribe a exportação de milho seja largamente compensada pela importação de trigo. No geral, vários países africanos e asiáticos deverão se tornar mais dependentes das importações de cereais na próxima década.
Assim, nos próximos dez anos, espera-se maior produção mundial de cereais com aumento da produtividade e intensificação do uso de terras cultiváveis. Devido aos limites de área disponível, a expectativa é de que as melhorias de rendimento resultem em variedades de sementes melhoradas e mais acessíveis, maior eficiência no uso de insumos e melhor utilização das práticas agrícolas mais sustentáveis.
Fonte: CropLife Brasil
Principais fontes:
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Cereais e grãos. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/tecnologia-de alimentos/processos/grupos-de-alimentos/cereais-e-graos Acesso em: 11 jul. 2023.
OECD/FAO (2022), OECD-FAO Agricultural Outlook 2022-2031, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/f1b0b29c-en.