Com o início da safra de soja é de extrema importância ficarmos atentos a quantidade correta de semente por hectare a ser utilizada, a fim de garantir o estande inicial ideal para cada cultivar, bem como a população final de plantas para que seja extraído o máximo potencial produtivo das lavouras.
Pensando nisso, temos que ter uma quantidade ideal de plantas por hectare, levando em consideração alguns fatores, como: a cultivar de soja utilizada, a época de plantio, a região edafoclimática e a fertilidade do solo.
Nesse equilíbrio entre população de plantas x produtividade, devemos ficar atentos aos problemas gerados pelo excesso de plantas, e outros fatores que podem levar ao acamamento.
Temos como definição que o acamamento de plantas de soja (imagem 1) constitui-se na queda ou no arqueamento das plantas em virtude da flexão da haste ou má ancoragem propiciada pelas raízes, o que provoca aumento do autossombreamento das folhas e maior proximidade das vagens ao solo.
Esse problema ocorre geralmente a partir do estádio de florescimento e pode estender-se até a maturação plena dos grãos. É um problema que pode reduzir a produtividade e a qualidade dos grãos, principalmente em cultivares suscetíveis e em regiões mais frias, onde o crescimento vegetativo é geralmente elevado (Balbinot Junior, 2012).

Em virtude do acamamento, a proximidade de folhas e o sombreamento da parte superior da planta sob a parte inferior é inevitável. Nesse caso, há uma menor incidência de radiação solar nas folhas do baixeiro, reduzindo a fotossíntese das partes sombreadas – diminuindo a duração de vida do dossel de folha – a fotossíntese líquida da comunidade de plantas e a disponibilidade de fotoassimilados a serem utilizados no enchimento de grãos.
A redução de produtividade de grãos ocasionada pelo acamamento de plantas tem relação direta com o estádio de desenvolvimento em que ocorre o problema e de sua intensidade. Quanto mais precoce e intenso o acamamento, maior será a redução de produtividade de grãos (Woods & Swearingin, 1977).
A formação de microclima úmido no dossel, resultante do acamamento de plantas, também pode aumentar a intensidade e a severidade de doenças do final de ciclo da soja, como Septoria glycines e Cercospora kikuchii (Knebel et aI., 2006), ocasionando a necessidade de controle químico e afetando, indiretamente, a produtividade de grãos.
Outro momento relevante que sofre com a interferência do acamamento de plantas é a colheita. Nesse caso, a proximidade e contato das vagens com o solo devido ao porte das plantas ou pelo acamamento, que também modifica a arquitetura das plantas, gera perdas e atrasos na colheita. Esse problema é agravado quando o sentido de percurso da colhedora é o mesmo da queda das plantas, dificultando ainda mais o corte e o recolhimento dasmesmas, potencializando a perda de grãos durante a operação.
No desenvolvimento de uma cultivar de soja o acamamento de plantas é uma característica de grande importância, a qual é avaliada com bastante critério, de acordo com notas de suscetibilidade (Imagem 2), onde variedades que se demonstram suscetíveis são descontinuadas.

Fatores que contribuem para o acamamento em plantas de soja
O acamamento de plantas de soja é um problema que ocorre através da interação de diversos fatores, sendo uma característica fenotípica bastante influenciada pelo ambiente. A seguir os principais fatores:
Genético
O acamamento de plantas depende do genótipo, do ambiente e da interação desses dois fatores. As cultivares que apresentam plantas altas, pequeno diâmetro da haste, baixo teor de lignina no caule e raízes superficiais, são as que apresentam maiores problemas de acamamento (Motta et al., 2002).
Ambiente
Dentre os contribuintes para o acamamento de plantas os fatores ambientais são determinantes, uma vez que eles governam o estímulo ao desenvolvimento vegetativo.
Dessa forma temos regiões de maior altitude e temperaturas amenas, propensas a desenvolverem um grau maior de acamamento do que em regiões de menor altitude.
Esse fato se agrava em safras com alta disponibilidade hídrica, já que nessa situação há condições propícias para que ocorra crescimento vegetativo elevado.
Época de semeadura
Este fator tem grande influência na ocorrência do acamamento de plantas na cultura da soja, visto que as condições climáticas serão determinantes durante os diferentes estádios de desenvolvimento da cultura.
Nas regiões de clima temperado (Sul do Brasil) as semeaduras realizadas no início do período recomendado, que é quando as temperaturas do ar e do solo estão relativamente baixas, em geral, propiciam menor crescimento vegetativo e menor acamamento.
Já nas regiões de clima tropical (Brasil Central) as semeaduras realizadas no início da janela de plantio, quando as chuvas estão se estabelecendo e as temperaturas em altos patamares, também propiciam menor crescimento vegetativo e menor acamamento.
Em semeaduras realizadas no final do período recomendado vai haver uma duração menor do período vegetativo, já que a soja responde ao fotoperíodo e à soma térmica, o que pode resultar em plantas com menor crescimento e acamamento (Motta et al., 2000).
Fertilidade do solo
O equilíbrio entre o crescimento vegetativo e a produtividade é fortemente influenciado pela disponibilidade de nutrientes do solo. Solos com altos níveis de fertilidade tendem a gerar plantas mais vigorosas e consequentemente maiores. Dessa forma a sugestão é seguir um equilíbrio ideal entre população de plantas e quantidade de nutrientes disponíveis, para evitarmos o acamamento.
Altas doses de nutrientes, principalmente fósforo e potássio, podem determinar crescimento vegetativo demasiado, favorecendo o acamamento. Outro nutriente muito relacionado ao acamamento é o manganês, pois, ele atua na síntese de Iignina que é um componente da parede celular importante para aumentar a resistência e evitar o arqueamento da haste das plantas (Mann et al., 2001).
Arranjo espacial de plantas
Outro fator que pode determinar a ocorrência do acamamento é o arranjo espacial das plantas, podendo afetar ainda a velocidade do fechamento das entre linhas, a produção de fitomassa, a arquitetura das plantas, a severidade de doenças e a produtividade da cultura.
Isso ocorre porque o arranjo afeta a competição intraespecífica e, consequentemente, a quantidade de recursos do ambiente – água, luz e nutrientes – disponíveis para cada planta.
O arranjo espacial pode ser alterado pela densidade de plantas e pelo espaçamento entre as fileiras (Balbinot Junior, 2015).
Como evitar o acamamento em plantas de soja
Algumas práticas de manejo, quando empregadas de forma integrada, podem minimizar os riscos de acamamento:
• Escolha cultivares com predisposição menor ao acamamento, pois ainda é a forma mais simples para minimizar esse problema. É evidente que durante a escolha da cultivar devemos considerar também outros atributos, como o potencial produtivo, o ciclo, a resistência às doenças e entre outras características.
• Semeie na época recomendada para cada cultivar e região e leve em consideração o ciclo da cultivar x época de plantio.
• É importante realizar uma adubação equilibrada, determinada com base em análise do solo, pois, estando o solo com um bom balanço nutricional, o ambiente fica menos propício a gerar acamamento, já que o crescimento equilibrado é importante para se obter altas produtividades de grãos e estrutura vegetativa.
• O solo sem camadas de impedimento pode reduzir o crescimento de raízes, sobretudo a pivotante. Caso haja a necessidade de correção, existem formas biológicas usando plantas de cobertura do solo ou optando por realizar de forma mecânica, com o uso de escarificadores, sendo manejos eficientes para a correção do problema.
• Use de forma correta e recomendada da densidade de plantas para cada cultivar. Nesse caso, é importante você seguir a recomedação das empresas obtentoras das cultivares.
Considerações finais
A adoção integrada dessas práticas pode reduzir substancialmente o problema de acamamento na cultura da soja, propiciando que as lavouras expressem o máximo potencial produtivo.
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Autores:
- Arquimedes de Oliveira – Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – Atualmente é Agrônomo de Campo para as marcas de sementes da Corteva Agriscience™
- Rodrigo Amaral – Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Estadual de Goiás – UEG (2014); Pós-Graduação em Proteção de Plantas pela Faculdade Federal de Viçosa – UFV – Atualmente é Agrônomo de Campo para as marcas de sementes da Corteva Agriscience™
Fonte: Agronegócio em foco