A nutrição adequada é indispensável para a obtenção de boas produtividades em culturas anuais como soja e milho. Embora naturalmente, a grande maioria dos solos agrícolas apresentem certa fertilidade natural, nem sempre os teores nutricionais presentes no solo são suficientes para suprir a demanda nutricional da cultura, para que a planta possa expressar seu potencial produtivo.
Dessa forma, o aporte nutricional via emprego de fertilizantes (adubos), torna-se necessário em lavouras agrícolas, sendo o Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), os nutrientes mais aportados ao sistema de produção, via adição de fertilizantes formulados N-P-K.
Contudo, em virtude de sua complexa dinâmica e baixa mobilidade no solo (Pereira, 2009), o Fósforo é um dos nutrientes mais difíceis de se trabalhar. Em média, são necessários cerca de 15,4 kg de P2O5 por tonelada de grãos de soja produzidos (Embrapa, 2008), sendo essa, somente a fração correspondente a extração de nutrientes pelos grãos e resíduos culturais. Somando-se a baixa fertilidade natural dos solos, significativas quantidade de P necessitam ser fornecidas, ano após ano em sistema de cultivo agrícolas.
Por apresentar baixa mobilidade no solo, tecnicamente não se recomenda a adubação fosfatada em cobertura (a lanço), por apresentar baixa eficiente de aproveitamentos pelas plantas, devendo-se, portanto, ser realizada preferencialmente via solo (sulco). Em algumas ocasiões, principalmente se tratando da adubação de correção de solos pobres, grandes volumes de fósforo podem ser necessários para adequar os níveis nutricionais do solo, dificultando ou até mesmo inviabilizando a adubação no momento da semeadura da cultura.
Visando contornar esses problema, uma das principais e mais eficientes estratégias a se adotar é a antecipação da adubação e/ou a adubação de sistema. A adubação de sistema e/ou antecipação da adubação, consiste em antecipar parcial ou totalmente a adição dos fertilizantes na lavoura, ocorrendo normalmente na cultura antecessora e/ou em um momento pré-semeadura. Dessa forma, consegue-se aumentar o rendimento operacional da semeadora, decorrente da ausência da necessidade de abastecimento do maquinário com fertilizante, sobretudo quando este é ensacado em embalagem de 50 kg (Kurihana & Hernani, 2011).
A prática é comum em sistemas extensivos de cultivo, onde é necessário maximizar o rendimento operacional na semeadura da cultura de verão para melhor aproveitamento das janelas de semeadura. Também é possível parcelar o volume adicionado dos fertilizantes, realizando a adição dos adubos em parte na cultura antecessora e o restante na pré-semeadura, ou até mesmo entre pré-semeadura e semeadura.
Além de possibilitar a melhoria do rendimento operacional na semeadura, outro benefício muito importante da adubação de sistema é o aumento da uniformidade de distribuição dos fertilizantes na lavoura, especialmente quando a adubação de sistema ocorre em culturas de outono/inverno como os cereais de inverno. Por apresentar menor espaçamento entre linhas em comparação as cultura de verão, a adução nas culturas de inverno possibilita melhor distribuição dos fertilizantes no solo.
Levando em consideração que o espaçamento entre linhas da maioria das culturas de inverno varia entre 15 a 17cm, enquanto das culturas de verão normalmente variam entre 45 a 50cm, ao realizar a aplicação de fertilizantes na semeadura das culturas de inverno tem-se uma melhor distribuição dos nutrientes no solo, podendo inclusive, possibilitam o melhor aproveitamento dos deles pela cultura sucessora.
Sobretudo, alguns cuidados necessitam se adotados ao se realiza a adubação de sistema e/ou a antecipação da adubação. Essa prática traz melhores resultados quando o foco da correção/adubação é o Fósforo, por sua baixa mobilidade no solo. Para nutrientes como Nitrogênio e Potássio, por serem facilmente lixiviados e escoados no solo, elevadas doses de fertilizantes podem não ser totalmente aproveitadas pelo sistema de cultivo, havendo significativas perdas de nutrientes em função da influência de condições climáticas e ambientais. Entretanto, esses nutrientes podem ser aplicados via lanço (em cobertura) em momentos posteriores ou antecedendo a semeadura da cultura, sem maiores prejuízos.
Pensando no ajuste nos teores de Fósforo no solo, diferentes fontes do nutriente podem ser utilizadas para adubação (tabela 1), entretanto, recomenda-se que preferencialmente a adição do fertilizante fosfatado seja realizada via solo, e não via lanço, mesmo que isso implique menor rendimento operacional.
Tabela 1. Diferentes fontes de P disponíveis no mercado e teores de P2O5 solúveis.
Referências:
EMBRAPA SOJA. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA – REGIÃO CENTRAL DO BRASIL 2009 E 2010. Embrapa Soja, Sistemas de Produção, 13, 2008. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/471536/1/Tecnol2009.pdf >, acesso em: 29/03/2023.
GITTI, D. C.; ROSCOE, R.; RIZZATO, L. A. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2018/2019, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 29/03/2023.
KURIHANA, C. H.; HERNANI, L. C. ADUBAÇÃO ANTECIPADA NO SISTEMA PLANTIO DIRETO. Embrapa, Documentos, n. 108, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/42312/1/DOC-1082011.pdf >, acesso em: 29/03/2023.
PEREIRA, H. S. FÓSFORO E POTÁSSIO EXIGEM MANEJOS DIFERENCIADOS. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Fertilidade04.pdf >, acesso em: 29/03/2023.