Para obter uma boa produtividade é necessário ofertar condições adequadas para o crescimento e desenvolvimento vegetal proporcionando um ambiente favorável para a planta expressar seu potencial produtivo. Dentre os principais fatores que afetam a produtividade de uma cultura, destacam-se a disponibilidade de água, radiação solar e nutrientes.
No que diz respeito as condições nutricionais, a baixa disponibilidade de algum nutriente pode limitar a produtividade da cultura, mesmo em condições de ampla disponibilidade de outros nutrientes, fato conhecido como Lei do Mínimo ou Lei de Liebig. Entretanto, em algumas situações onde não há uma boa nutrição no solo, um manejo nutricional adequado pode requerer um elevado aporte nutricional o que pode representar elevados custos de produção.
Uma das principais fontes para o fornecimento de nutrientes ao sistema de produção é por meio da utilização de fertilizantes formulados, os quais são amplamente utilizados na base de semeadura ou distribuídos a lanço como forma de complementação da adubação, especialmente se tratando do nitrogênio. Segundo Taiz et al. (2017), o nitrogênio assim como o fósforo e o potássio são macronutrientes exigidos em maiores quantidades pelas plantas. Fato esse que reflete num maior requerimento desses nutrientes, compondo esses a base dos fertilizantes utilizados em muitas cultura agrícolas e popularmente conhecidos como fertilizantes N-P-K.
Entretanto, o elevado custo de aquisição dos fertilizantes minerais torna necessária a busca por alternativas que possibilitem a manutenção e aumento da fertilidade do solo sem que sejam necessários maiores incrementos com fertilizantes comerciais. Dentre as alternativas, a rotação de cultura e a adubação verde apresentam bons resultados, proporcionando incrementos satisfatórios na fertilidade do solo. Segundo Carlos et al. (2006) a utilização da adubação verde proporciona o aumento da retenção e armazenamento de água no solo, além de melhorar atributos químicos e físicos do solo, servir como agente de controle de erosões superficiais, diminuir a variação da temperatura do solo, melhorar as condições para o desenvolvimento da fauna edáfica do solo e também em alguns casos atuar como agente de descompactação do solo.
Várias plantas podem ser utilizadas como fonte de adubação verde, dentre elas estão: a aveia, azevém, crotalária, ervilhada, feijão de porco, feijão guandu, girassol, mucuna, nabo forrageiro, tremoço, milheto, labe-labe entre outras espécies.
Cada planta apresenta certar particularidades quando aos benefícios agregados ao sistema. O nabo forrageiro pro exemplo apresenta ampla capacidade de reciclar nutrientes e descompactar o solo. Espécies de Crotalária são utilizadas como fonte de aporte de biomassa mas também apresentam alta aptidão para controle de nematoides fitopatogênicos do solo, podendo também, assim como a ervilhaca servir como fonte de umidade para a germinação de sementes quando realizada a semeadura “no verde”
Veja também: Uso de crotalária como alternativa no controle de nematoides
Figura 1. Semeadura do milho sob ervilhada.
Basicamente as plantas de cobertura que funcionam como adubo verde são capazes de agregar em sua maior parte carbono e nitrogênio ao solo, sendo determinada essa contribuição pela capacidade das plantas em fixar nitrogênio e por sua relação C/N.
Plantas leguminosas apresentam maior capacidade de fixar nitrogênio atmosférico e deixa-lo em formas assimiláveis pelas plantas, processo esse conhecido como fixação biológica de nitrogênio.
Em contra partidas, essas plantas apresentam baixa relação C/N o que proporciona uma rápida degradação dos resíduos vegetais, entretanto, quando as plantas são decompostas, a mineralização dos resíduos vegetais torna o nitrogênio fixado pelas plantas disponível no solo para a cultura sucessora. Já as gramíneas por sua vez, apresentam uma alta relação C/N o que possibilita maior tempo de cobertura do solo e duração dos resíduos culturais, além de serem fontes notáveis de carbono para o solo.
Tabela 1. Quantidade de nitrogênio fixado por espécies de leguminosas.
A definição da cultura a ser utilizada como fonte de adubação verde irá depender de fatores como a disponibilidade de sementes, a adaptabilidade das culturas a região de cultivo, o ciclo da cultura, o período disponível para cultivo, assim como o esquema de rotação de culturas.
A utilização de consórcios ou “mixers” de plantas de cobertura é cada vez mais difundido para a implementação de cultivos visando a adubação verde. O consorcio entre gramíneas e leguminosas promove o incremento de nitrogênio no solo por parte das leguminosas mas também o bom tempo de cobertura do solo em decorrência da elevada relação C/N das gramíneas, sendo ótima opção de cultivo.
Carlos et al. (2006) trazem algumas recomendações de semeadura que podem auxiliar na implementação dos cultivos visando a adubação verde (tabela 2). A diversificação de culturas com a finalidade de adubação verde proporciona uma melhora considerável em condições físico estruturais do solo, possibilitando o crescimento vegetal em condições adequadas, além de colaborar para o aumento produtivo de culturas como soja e milho em sucessão.
Tabela 2. Espaçamento e demanda de sementes em sistema de plantio exclusivo.
Entretanto, é fundamental a manutenção da rotação de culturas e o bom estabelecimento da adubação verde, tendo como reflexo a melhora nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
Tendo em vista os aspectos observados e os benefícios trazidos pela adubação verde, pode-se dizer que a prática desempenha papel fundamental para o sustentabilidade dos cultivos, trazendo benefícios diretos e indiretos a médio e longo prazo, além de servir como atenuante nos custos de produção derivados da compra e utilização de fertilizantes minerais.
Referências:
CARLOS, J. A. D. et al. ADUBAÇÃO VERDE: DO CONCEITO Á PRATICA. Universidade Federal de São Paulo, ESALQ, Série Produtor Rural, n. 30, 2006.
MULTIMÍDIA: BANCO DE IMAGENS. SEMEADURA DE MILHO EM ERVILHACA EM PÉ NO SISTEMA DE MANEJO DO SOLO. Embrapa Trigo, 2017. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-imagens/-/midia/3815001/semeadura-de-milho-em-ervilhaca-em-pe-no-sistema-de-manejo-de-solo>, acesso em: 17/08/2020.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Ed. 6, Porto Alegre, 2017.