Houve um tempo em que a agricultura era praticada de forma isolada em diferentes partes do mundo, desconectadas umas das outras; mas a realidade agora é outra. Hoje, os alimentos produzidos no Brasil ocupam a mesa de pessoas do outro lado do globo, e o mercado internacional tornou-se o principal modulador de preços – tanto dos produtos agrícolas, quanto dos insumos utilizados na sua produção.

Anualmente, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulga um relatório que nos ajuda a compreender melhor esse complexo cenário. No último relatório (que você pode acessar na íntegra clicando aqui) alguns pontos importantes tornaram-se evidentes. O valor agregado na agricultura, por exemplo, foi estimado em 3,5 trilhões de dólares, um aumento de 73% em relação ao ano 2000 (Figura 1). Entretanto, a participação da agricultura no PIB mundial permaneceu constante (4%), indicando que os demais setores da economia também apresentaram um crescimento expressivo durante esse período.

Figura 1. Valor agregado e participação da agricultura no PIB.

Fonte: FAO Statistical Yearbook 2021

Atualmente, 27% da mão-de-obra mundial trabalha na agricultura, equivalendo a 874 milhões de pessoas (Figura 2). Há 20 anos, esse contingente era de 40%, ou 1050 milhões de pessoas. Grande parte dessa redução é explicada pelo advento de tecnologias na área agrícola, substituindo a mão-de-obra manual pela mecânica ou automatizada. O êxodo rural também é uma realidade, de modo que os poucos trabalhadores que permanecem no meio rural precisam alimentar uma população urbana cada vez maior. Essa relação desproporcional entre população urbana e rural demanda uma agricultura cada vez mais intensiva, ou seja, gerando maior produtividade por unidade de área, uma vez que a expansão das fronteiras agrícolas mostra-se uma alternativa inviável sob a ótica ambiental.

Figura 2.  Mão de obra empregada na agricultura.

Fonte: FAO Statistical Yearbook 2021 

Outro ponto relevante é uso crescente de defensivos agrícolas entre os anos 2000 e 2012 (36% de aumento), embora esse valor tenha se mantido estável desde então (Figura 3). Também se elevou o uso de fertilizantes, particularmente dos nitrogenados, que correspondem a 57% do total utilizado no mundo (190 milhões de toneladas). Ambos os aspectos denotam uma crescente intensificação dos cultivos agrícolas, aliada a um maior poder de investimento dos produtores. Por outro lado, a sustentabilidade de longo-prazo torna-se discutível em sistemas de cultivo com tamanho aporte de insumos, principalmente quando estes são importados de outros países, como ocorre no Brasil.

Figura 3. Uso de defensivos e fertilizantes na agricultura.

Fonte: FAO Statistical Yearbook 2021 

Portanto, a agricultura mundial encontra-se em um momento de intensificação técnica e inserção crescente no mercado internacional. Esse sistema beneficia o cultivo de produtos voltados à exportação (commodities), como soja e milho, mas coloca em desvantagem países como o Brasil, que dependem da importação dos insumos necessários ao cultivo intensivo de suas áreas. Aumentos repentinos nos preços de comercialização e esgotamento dos estoques de insumos são riscos inerentes a esse cenário, algo enfrentado na prática pelos produtores brasileiros na safra 2021/22.

A despeito das desvantagens citadas, essa é forma predominante como são produzidos os alimentos que abastecem a população mundial, direta ou indiretamente – ou seja, destinados à alimentação humana ou animal. Na próxima semana, veremos em quais países é cultivada a maior parte desses alimentos.

Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Referências:

FAO. 2021. World Food and Agriculture – Statistical Yearbook 2021. Disponível em: https://doi.org/10.4060/cb4477en



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