Houve um tempo em que a agricultura era praticada de forma isolada em diferentes partes do mundo, desconectadas umas das outras; mas a realidade agora é outra. Hoje, os grãos e a carne produzidos no Brasil alimentam pessoas do outro lado do globo, e o mercado internacional é o principal modulador de preços – tanto dos produtos agrícolas, quanto dos insumos utilizados na sua produção.
Anualmente, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulga um relatório que nos ajuda a compreender melhor esse complexo cenário. No último relatório (que você pode acessar na íntegra clicando aqui.) alguns pontos importantes tornaram-se evidentes. Na semana passada, vimos como são produzidos os alimentos do mundo; hoje, veremos em quais países concentra-se essa produção.
Em termos de participação no PIB de cada país, a agricultura mostra-se uma atividade essencial na geração de riqueza dos países ditos subdesenvolvidos, principalmente na África, no sudeste Asiático e na maior parte da América Latina (Figura 1). Isso não significa que o setor agropecuário não desempenhe papel importante na economia dos países desenvolvidos; porém, o setor industrial dessas nações é tão forte, que acaba dominando a maior parte do PIB gerado.
Figura 1. Participação da agricultura no PIB de cada país.
Fonte: FAOSTAT
A mesma lógica aplica-se à geração de empregos ligados à agricultura, com os maiores percentuais sendo verificados na África central (Figura 2). Ocorre que, em países desenvolvidos, a crescente mecanização da agricultura tem reduzido paulatinamente a mão-de-obra empregada nesse setor, inclusive em nações com extensa área cultivada. Nesse caso, países como Brasil, Argentina, México e África do Sul encontram-se no mesmo patamar que a maioria dos países desenvolvidos.
Figura 2. Participação da agricultura no total de empregos de cada país.
Fonte: ILOSTAT (ILO Modelled Estimates)
Quando falamos em extensão de área cultivada, cinco países se destacam dos demais: EUA, Índia, China, Rússia e Brasil (Figura 3). Logo em seguida aparecem países como Argentina, México, Canadá e Austrália. Naturalmente, os países mais extensos possuem as maiores áreas disponíveis para o cultivo agrícola. Entretanto, percebe-se que alguns países relativamente menores (como França, Espanha e Alemanha) apresentam uma ampla área cultivada, proporcionalmente ao seu tamanho reduzido. Ou seja, são países que utilizam de forma intensa toda a área rural disponível em seus territórios, à custa de uma menor preservação da vegetação nativa. Comparativamente, o Brasil é um exemplo mundial de agricultura intensiva aliada à preservação ambiental.
Figura 3. Área cultivada em cada país.
Fonte: FAOSTAT
Por fim, a utilização de defensivos agrícolas segue o mesmo padrão, com os maiores volumes sendo comercializados e aplicados nos países com maior área de cultivo – entre os quais o Brasil (Figura 4). Cabe destacar a alta quantidade de defensivos utilizada na China, muito acima da utilizada nos EUA e no Brasil, por exemplo. Já a Rússia, com uma área de cultivo equiparável à da China, utilizada muito menos defensivos, devido ao clima frio que serve como um regulador natural de pragas. Novamente percebe-se um uso intensivo em países europeus com áreas de cultivo proporcionalmente menores, como França e Espanha; ao passo que nos países africanos a utilização de defensivos é quase inexistente, possivelmente devido ao baixo poder aquisitivo dos produtores.
Figura 4. Uso de defensivos agrícolas em cada país.
Fonte: FAOSTAT (https://doi.org/10.4060/cb4477en-map07)
Portanto, é possível identificar dois fatores preponderantes que determinam onde e como são cultivados os alimentos da população mundial: a área de cultivo disponível em cada país, e o poderio financeiro dos mesmos. Os países mais extensos, como EUA, Brasil, China e Rússia, respondem pela maior parcela da produção agrícola mundial. Já os países mais ricos, mesmo que não necessariamente extensos, cultivam suas terras de forma mais intensa, mecanizada e com maior aporte de insumos. De forma geral, os países desenvolvidos possuem pouca margem para expandir sua produção agrícola, ao passo que os países subdesenvolvidos devem modernizar sua agricultura nos próximos anos e conquistar um maior espaço no cenário mundial.
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Referências:
FAO. 2021. World Food and Agriculture – Statistical Yearbook 2021. Disponível em: https://doi.org/10.4060/cb4477en