Combinação de: semeaduras tardias + elevada presença de plantas “guaxas” com inóculo + clima favorável + alta pressão de inóculos vindo de outros estados está formando uma combinação perigosa a produtividade da soja no Sul do Brasil.

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A maior distribuição de chuvas na região Sul do país, devido a influência do fenômeno El Niño têm favorecido a ocorrência da ferrugem-asiática em soja. Considerada a doença mais severa que acomete a cultura, a ferrugem-asiática é capaz de causar danos significativos na produtividade da soja. Os registros da safra 2023/2024, de acordo com o Consórcio Antiferrugem (2023), apontam a ocorrência de 124 casos de ferrugem-asiática, concentrando-se predominantemente na região sul do país. O estado do Paraná lidera com 86 casos, seguido pelo Rio Grande do Sul com 25 casos, enquanto Santa Catarina registra 4 casos.

Figura 1. Casos de ocorrência de ferrugem em soja, presença de esporos e ferrugem-asiática em soja voluntária (27/12/2023).

Fonte: Consórcio Antiferrugem (2023).

Em agosto de 2023, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2023) por meio da portaria 865, implementou medidas para o combate ao fungo causador da ferrugem-asiática, tais como a implementação do vazio sanitário como medida fitossanitária para o controle da doença e, a definição de um calendário de semeadura como medida complementar para a racionalização do número de aplicações de fungicida e reduzir os riscos de desenvolvimento de resistência do fungo aos fungicidas utilizados no controle da doença.

De acordo com Godoy et al. (2020), medidas de controle baseadas no escape, visam a prevenção da doença pela fuga em relação ao patógeno ou às condições ambientais mais favoráveis ao seu desenvolvimento. Nesse sentido, o escape para o controle da ferrugem da soja é realizado através da semeadura utilização de cultivares de soja precoces no início da época recomendada.

A realização da semeadura da soja no início da época recomendada é essencial para prevenir o período de incidência mais severa da ferrugem-asiática na soja. Entretanto, na safra 2023/2024, devido às condições climáticas desfavoráveis, a semeadura foi atrasada. Na figura 2, é possível observar que ao final do mês de novembro, aproximadamente 25% das áreas de cultivo ainda não haviam sido semeadas, fato que contribui para dificultar o manejo da ferrugem em soja.

Figura 2. Percentual de semeadura da soja nos diferentes estados do país.

Fonte: Conab (2023).

Conforme a Embrapa, o calendário de semeadura é definido como o “período único para as datas de início e término de semeadura de soja”. O propósito do calendário de semeadura é minimizar a necessidade de aplicações de fungicidas ao longo da safra, visando reduzir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas. Uma vez que, populações menos sensíveis a fungicidas inibidores da desmetilação (IDM), inibidores de quinona externa (IQe) e inibidores da succinato desidrogenase (ISDH) já foram identificados no campo.

As semeaduras tardias, deixam a soja suscetível a receber inóculo do fungo ainda nos estádios vegetativos, exigindo a antecipação da aplicação de fungicida e, consequentemente, demandando maior número de aplicações. É importante destacar que quanto maior o número de aplicações, maior a exposição dos fungicidas e maior a chance de acelerar o processo de seleção de populações resistentes a esses fungicidas.

Sendo assim, deve-se redobrar o cuidado com a ferrugem-asiática na safra 2023/2024, principalmente no Sul do Brasil, onde a pressão de inóculo tem aumentado, acendendo um alerta frente a ocorrência da doença em lavouras de soja, impulsionado principalmente pelas condições climáticas decorrentes da influência do fenômeno El Niño.

Estruturas reprodutivas (urédias) do fungo causador da
ferrugem-asiática visualizadas com lupa de 30 aumentos.


Para acompanhar os casos de ferrugem-asiática relatados pelo Consórcio Antiferrugem clique aqui!


Veja mais: Manchas foliares na cultura da soja



Referências:

CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM. Parceria público-privada no combate à ferrugem asiática da soja, 2023. Disponível em: < http://www.consorcioantiferrugem.net/#/main >, acesso em: 27/12/2023.

CONAB. PLANTIO E COLHEITA 20-11 A 26-11. Acompanhamento das Lavouras, Companhia Nacional de Abastecimento, 2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/progresso-de-safra/item/download/50350_299e191828eed4413377f5cc98b47b32 >, acesso em: 27/12/2023.

GODOY, C. V. et al. FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA: BASES PARA O MANEJO DA DOENÇA E ESTRATÉGIAS ANTIRRESISTENCIA. Embrapa, documentos, 428. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/213614/1/DOC-428.pdf >, acesso em: 27/12/2023.]

EMBRAPA. VAZIO SANITÁRIO E CALENDARIZAÇÃO DA SEMEADURA DA SOJA. Embrapa Soja. Disponível em: < https://www.embrapa.br/soja/ferrugem/vaziosanitariocalendarizacaosemeadura >, acesso em: 27/12/2023.

MAPA. PORTARIA SDA/MAPA Nº 865, DE 2 DE AGOSTO DE 2023. Diário Oficial da União, ed. 147, seção 1, 2023. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355202/1529289/PORTARIA+SDA_MAPA+N%C2%BA+865%2C+DE+2+DE+AGOSTO+DE+2023+-+PORTARIA+SDA_MAPA+N%C2%BA+865%2C+DE+2+DE+AGOSTO+DE+2023+-+DOU+-+Imprensa+Nacional.pdf/d924dcf7-0270-31e0-cc2e-ba2c96290d33 >, acesso em: 27/12/2023.

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