Em lavouras comerciais, os inseticidas químicos são amplamente utilizados para reduzir os danos causados por pragas. Apesar da existência de diversas ferramentas que podem ser integradas em programas de manejo sustentável, o controle químico ainda é o método mais recorrente em escala comercial, principalmente pela rapidez na redução das populações infestantes.

Contudo, a elevada pressão de pragas nos sistemas agrícolas, associada ao uso intensivo e inadequado dos inseticidas, tem favorecido a seleção de biótipos resistentes, resultando em casos de perda de eficiência de determinados produtos sobre algumas espécies. Do ponto de vista técnico, o controle químico deve ser adotado apenas quando a população da praga atinge o nível de controle, parâmetro previamente estabelecido para cada cultura com base no potencial de danos.

Visando um manejo eficiente das pragas em lavouras comerciais, uma das principais estratégias é segregar o ciclo da cultura em janelas de aplicação. Cada janela de aplicação deve ser o tempo necessário para a praga passar por uma geração (ovo/juvenil a adulto) ou a duração do efeito residual de uma única aplicação do inseticida usado (o que for mais longo). No entanto, nem sempre é fácil determinar o tempo de geração de um inseto. Portanto, na ausência dessas informações, o IRAC-BR recomenda o uso de uma janela de 30 dias para a maioria das pragas, mas uma janela de 15 dias para os pulgões e ácaros (IRAC-BR, s. d.).

Mesmo adotando o monitoramento frequente das áreas de cultivo e o posicionamento adequado dos inseticidas nas janelas de aplicação, é crucial atentar para o manejo da resistência das pragas aos inseticidas, possibilitando a manutenção da eficiência dos inseticidas registrados e o controle efetivo das pragas. Pensando nisso, é essencial adotar um manejo proativo, dando preferência por práticas que contribuam para o manejo da resistência das pragas aos inseticidas.

Uma das principais e mais eficiente estratégias com esse intuito, é a rotação de modos de ação dos inseticidas. Aplicações múltiplas do mesmo modo de ação dentro de uma única janela são aceitáveis, desde que os efeitos combinados das aplicações não excedam os 30 dias duração da janela (IRAC, s. d).

Figura 1. Orientações para o manejo da resistência a inseticidas em soja não Bt, Bt e áreas de refúgio.
Adaptado: IRAC-BR
Figura 2. Orientações para o manejo da resistência a inseticidas em milho não Bt, Bt e áreas de refúgio.
Adaptado: IRAC-BR

É importante destacar que, independentemente da biotecnologia empregada na cultura, seja Bt (Bacillus thuringiensis) ou não, a rotação ou alternância de modos de ação dos inseticidas entre as janelas de aplicação é um componente central no manejo da resistência das pragas (Figuras 1 e 2). Dentro de uma mesma janela, inseticidas com o mesmo modo de ação podem ser utilizados; no entanto, a associação de diferentes modos de ação pode trazer vantagens, especialmente para o controle simultâneo de múltiplas pragas ou daquelas de difícil controle. As misturas de inseticidas, quando devidamente integradas às estratégias de rotação, podem contribuir para o manejo da resistência. Contudo, não se deve basear o programa fitossanitário apenas na eficácia de uma única mistura, sob risco de acelerar a perda de eficiência das moléculas envolvidas (IRAC, s. d.).

A associação de diferentes modos de ação de inseticidas, assim como sua rotação entre janelas de aplicação, amplia o espectro de controle e possibilita a supressão de pragas remanescentes, seja por “escape” em pulverizações com produtos seletivos, seja por resistência a determinados inseticidas. Essa estratégia também favorece o uso de produtos seletivos a inimigos naturais, contribuindo para a conservação do controle biológico dentro da lavoura.

Para o manejo adequado da resistência, recomenda-se evitar o uso de inseticidas com o mesmo modo de ação ou com resistência cruzada em janelas adjacentes ou sequenciais, restringindo-os apenas a janelas alternadas. Além disso, um programa eficaz deve contemplar a utilização de múltiplos modos de ação disponíveis e comprovadamente eficazes, garantindo maior sustentabilidade e longevidade do controle químico (IRAC-BR, s. d.).

Figura 3. Programas de rotação de inseticidas em soja.
Fonte: IRAC

Nesse contexto, é fundamental adotar a rotação de modos de ação, e não apenas de subgrupos químicos. Por exemplo, os inibidores de acetilcolinesterase constituem um modo de ação, enquanto carbosulfan e organofosforados representam subgrupos dentro desse mesmo mecanismo. Embora, em alguns casos, a rotação de modos de ação possa gerar custos adicionais no programa fitossanitário, essa prática é essencial para garantir a sustentabilidade das lavouras e a longevidade da eficácia dos inseticidas. Além disso, contribui não apenas para o manejo da resistência, mas também para um melhor desempenho no controle das populações de insetos-praga.

Referências:

IRAC -BR. MANEJO DA RESISTÊNCIA DO PERCEVEJO-MARROM A INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas Brasil, s. d. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_4df4582b125f48ce990939fb0334b782.pdf >, acesso em: 29/08/2025.

IRAC. RECOMENDAÇÕES DE MANEJO DE RESISTÊNCIA A INSETICIDAS E MANEJO DE PRAGAS PARA SOJA, ALGODÃO E MILHO NO BRASIL. IRAC, s. d. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_f242d84f93a3495290d279305e66392e.pdf >, acesso em: 29/08/2025.

IRAC-BR. MILHO: ORIENTAÇÕES PARA O MANEJO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas Brasil, s. d. Disponível em:< https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_fb6f15d35444471ca2e99394bbcf8ffb.pdf >, acesso em: 29/08/2025.

IRAC-BR. SOJA: ORIENTAÇÕES PARA O MANEJO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas Brasil, s. d. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_2c723ac51efa4bf9b18fe1438470b32c.pdf >, acesso em: 29/08/2025.

 

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