Por Argemiro Luís Brum
Com o início da guerra entre Israel e Irã, no dia 13/06, a soja, em Chicago, chegou a subir para US$ 10,74/bushel. A mais alta cotação desde o final de julho de 2024, exceção feita a um único dia no início de fevereiro de 2025, quando o bushel foi a US$ 10,75. Porém, este movimento altista não se consolidou, já que no dia 24/06 anunciou-se uma trégua no conflito. Mesmo que precária, esta trégua trouxe o bushel da oleaginosa para US$ 10,25 no dia 25/06. O fechamento desta quinta-feira (26) acabou recuando um pouco mais, ficando em US$ 10,22/bushel, contra US$ 10,74 uma semana antes.
Por sua vez, enquanto o óleo se manteve acima dos 50 centavos de dólar por libra-peso, embora em nível inferior ao registrado no início do conflito Israel x Irã, o farelo de soja despencou para US$ 270,90/tonelada curta, sendo esta a cotação mais baixa desde 07/04/2016, ou seja, há mais de nove anos não se via cotação tão baixa, para o primeiro mês cotado do farelo de soja em Chicago.
Ajuda para esse comportamento, além da trégua no Oriente Médio, o clima positivo para o desenvolvimento da nova safra nos EUA, praticamente semeada neste momento. Tanto é verdade que, no dia 22/06 as condições das lavouras estadunidenses se apresentavam com 66% entre boas a excelentes e apenas 7% entre ruins a muito ruins. Outro fator que vem pesando sobre o mercado é a expectativa para com o relatório de plantio, previsto para o dia 30/06. Com ele, será anunciado o relatório de estoques trimestrais na posição 1º de junho.
Dito isso, na semana encerrada em 19 de junho, os embarques de soja pelos EUA atingiram a 539.500 toneladas, ficando acima do esperado pelo mercado. No somatório de todo o ano comercial 2024/25, até o momento, os EUA já exportaram 49,1 milhões de toneladas de um total estimado de 50,35 milhões. No ano passado, na mesma época, as exportações chegavam a 44,2 milhões de toneladas. O principal ponto está no fato de que a China segue ausente de novas compras de soja nos EUA.
E no Brasil os preços seguem pressionados para baixo, já que o câmbio se mantém ao redor de R$ 5,50 a R$ 5,55 por dólar, os prêmios, embora firmes, se estabilizaram há algum tempo, e Chicago, agora, em recuo. Assim, enquanto a média gaúcha ainda indica R$ 122,18/saco, as principais praças locais voltaram a praticar R$ 119,00. Já no restante do país, os preços oscilaram entre R$ 107,00 e R$ 121,00/saco. Um ano atrás estes valores ficavam entre R$ 117,00 e R$ 129,00/saco. Temos aí uma redução no valor nominal, sem considerar ainda a inflação do período, hoje ao redor de 5,3% em 12 meses. Ou seja, em termos reais a redução do preço é ainda maior.
Em paralelo, a expectativa é que o Brasil exporte 15 milhões de toneladas de soja em junho, em dados atualizados pela Anec. Se o volume for confirmado, os embarques do país cresceriam cerca de 1,2 milhão de toneladas em relação a junho do ano passado. Já a exportação brasileira de farelo de soja deve alcançar 1,92 milhão de toneladas neste mês, ficando abaixo do registrado no mesmo período de 2024, que foi de 2,05 milhões.
De forma geral, a importante oferta brasileira de soja deverá complicar ainda mais as vendas do produto estadunidense, especialmente para a China. Na semana anterior, de um total de 26 navios de soja negociados para a China, o produto foi brasileiro e argentino, já que dos EUA não houve nenhum navio. “No ano passado, um total de 14 navios de soja dos EUA, no mês de junho, foram para a China, enquanto nenhum ainda este ano. A Argentina registrou 4,8 milhões de toneladas de soja na exportação neste ano comercial, se mantendo bem agressiva na competitividade, tendo registrado um desconto de 40 a 45 centavos de dólar por bushel.” O Brasil também segue muito competitivo, pois enquanto as tarifas de 10% sobre a soja americana continuarem, a China não teria outra opção a não ser continuar comprando do Brasil e Argentina (cf. Agrinvest Commodities).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).