Por Argimiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, recuaram nesta semana. O bom avanço do plantio nos EUA e a oferta importante vinda da América do Sul, anularam algum possível efeito da trégua dada por Trump à guerra comercial com a China e resto do mundo. E a queda só não foi maior porque em Chicago, na média de abril em relação a março, enquanto o farelo recuou 1,3% em seu valor, o óleo de soja ganhou 11,8% em valor.
Assim, o bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, fechou a quinta-feira (01/05) em US$ 10,40 (US$ 10,34 na véspera), contra US$ 10,53 uma semana antes. A média de abril ficou em US$ 10,28, representando um ganho de 2,3% sobre a média de março. Um ano antes, a média de abril de 2024 tinha sido de US$ 11,64/bushel.
Dito isso, o plantio da soja, nos EUA, atingia a 18% da área esperada no dia 27/04, contra 12% na média histórica para a data.
Por sua vez, na semana encerrada em 24/04, os embarques semanais de soja atingiram a 439.431 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial, até o momento, os embarques estadunidenses da oleaginosa atingem a 43,1 milhões de toneladas, sendo 11% acima de igual período do ano anterior.
E na Argentina, as vendas de soja, por parte dos produtores locais, continuam fracas. As mesmas estão no ritmo mais lento dos últimos 11 anos, apesar do sistema de banda cambial implantado recentemente pelo governo local. Por enquanto, as vendas chegam a 24% da recente safra de 49 milhões de toneladas colhidas em 2024/25, lembrando que a Argentina é o maior exportador mundial de óleo e farelo de soja.
Dito isso, de forma geral, o mercado mundial da soja segue atento aos acontecimentos ligados à guerra tarifária imposta pelos EUA e ao andamento da nova safra neste país. O clima no Meio Oeste estadunidense é um elemento central de atenção nesta época. Soma-se a isso a questão financeira nos EUA, a qual influi decisivamente na posição dos Fundos em Chicago. O enfraquecimento da economia estadunidense e mundial, devido ao erro de Donald Trump em taxar as importações feitas pelos EUA, atinge fortemente as commodities em geral e a soja em particular. Por enquanto, a China bem abastecida, não provoca grandes alterações positivas no mercado.
E no Brasil, com o Real se fortalecendo diante do dólar (R$ 5,67 em momentos desta semana), e mais a estabilidade dos prêmios em níveis mais baixos do que semanas atrás, a média gaúcha caiu para R$ 123,65/saco, com perdas de quase cinco reais em uma semana. As principais praças gaúchas praticaram R$ 119,00/saco, enquanto no restante do país os preços oscilaram entre R$ 105,00 e R$ 118,00/saco.
Já a colheita da soja no Brasil chegava a 95% da área. O Rio Grande do Sul havia colhido 88% de sua área, até o dia 30/04, contra 81% na média histórica. O número final da produção nacional vai se confirmando recorde, porém, abaixo do esperado inicialmente, pois as perdas foram severas no estado gaúcho, assim como no Mato Grosso do Sul.
Em tal contexto, a iniciativa privada vai consolidando a ideia de uma colheita final ao redor de 165 mihões de toneladas, enquanto a Conab estima 167,9 milhões. Havia uma expectativa inicial de um número final entre 173 e 175 milhões de toneladas. Com isso, o mercado não descarta a possibilidade de que o “volume disponível de soja para comercialização fique menor mais cedo do que o esperado no mercado brasileiro”. Lembrando que os compromissos de exportação, pelas empresas no Brasil, atingem 20% acima do que os do ano passado. Em isso se confirmando, os prêmios poderão subir no segundo semestre, puxando um pouco para cima os preços a serem pagos aos produtores rurais no interior do país. Por enquanto, a estimativa é de que os estoques finais brasileiros, em soja, encerrem 2024/25 em 3,06 milhões de toneladas, contra 1,64 milhão no ano anterior (cf. Pátria AgroNegócios).
Se o Brasil efetivamente exportar ao redor de 107 milhões de toneladas de soja neste ano, o aperto nos estoques será importante, mesmo diante de uma safra recorde. Mas, muito desta realidade dependerá do comportamento da China e suas reações em relação a guerra comercial com os EUA. Além disso, o mercado continua na expectativa de um acordo entre estes dois países.
Pelo sim ou pelo não, o fato é que já está havendo uma disputa maior entre os exportadores e as indústrias de processamento internas brasileiras, pela soja desta safra. E se as moageiras deixarem para comprar um maior volume de soja no segundo semestre, a tendência será uma pressão altista sobre os preços locais da oleaginosa. Alguns analistas (cf. Pine Agronegócio) avançam que o consumo interno de soja, no Brasil, pode passar de 55,1 para 57,5 milhões de toneladas neste ano. Além disso, com os problemas de algumas indústrias na Argentina (caso da Vicentin, já abordado em comentário passado), o Brasil poderá aumentar suas exportações de óleo e farelo, o que demandaria mais soja para esmagamento. Enfim, espera-se que a China volte a aumentar suas compras de soja nos próximos meses. Se a guerra comercial com os EUA continuar, estas compras serão realizadas especialmente no Brasil.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).