O primeiro mês cotado para a soja, em Chicago, voltou a trabalhar em baixa ao atingir, no fechamento desta quinta-feira (22), o valor de US$ 9,41/bushel, após bater na mínima dos últimos tempos ao atingir US$ 9,38/bushel no dia 16/08. Lembrando que o fechamento de uma semana atrás foi de US$ 9,51/bushel.
Dito isso, o USDA manteve em 68% das lavouras estadunidenses de soja entre boas a excelentes, na data do 18/08. No ano passado, este índice era de 59%. Por sua vez, outros 24% das lavouras atuais estavam regulares naquela data e 8% em condições entre ruins a muito ruins. Além disso, 95% das lavouras encontram-se em fase de floração e 81% em fase de formação de vagens.
Destaca-se, ainda, que na semana encerrada em 15/08 os EUA exportaram 221.700 toneladas de soja da safra velha, elevando o total exportado no ano comercial atual a 45,9 milhões de toneladas, contra mais de 53 milhões no mesmo período do ano anterior.
Espera-se, para o corrente ano, uma exportação total de 46,3 milhões de toneladas, ou seja, bem abaixo do realizado no ano anterior. Já em relação a safra nova, que ainda será colhida, foram vendidas 1,34 milhão de toneladas na mesma semana, volume que superou as expectativas do mercado. Neste caso, a China foi o principal comprador.
Por outro lado, enquanto a nova safra se desenvolve muito bem nos EUA, a comercialização da mesma está atrasada naquele país, assim como no Brasil. A baixa das cotações vem segurando estas vendas. Até o momento, 40% da nova safra estadunidense teria sido vendida, enquanto o ideal para o período seria um volume superior a 50%. O problema que, nos atuais preços de Chicago, há produtores nos EUA, em algumas regiões, que já estão com prejuízos que chegam a US$ 2,00/bushel (ao câmbio de hoje, isso equivale a R$ 24,43/saco). (cf. Brandalizze Consulting)
No Brasil, o quadro não é muito diferente, porém, a vantagem é que a desvalorização do Real oferece alguma sustentação aos preços em reais da soja, estimulando um pouco as vendas antecipadas de soja. Mesmo assim, o Brasil negociou, até o momento, 17% da futura safra prevista, “quando seria normal – e até necessário – que perto de 30% e um pouco mais já estivessem comprometidos”. (cf. Brandalizze Consulting)
Neste momento, no Brasil, considerando custo total da lavoura, as margens dos produtores já estão apertadas e, em alguns casos, indicando prejuízos. Os prêmios positivos e um dólar valendo 10% mais do que deveria, vem ajudando a não piorar o quadro, porém, isso pode se reverter rapidamente, especialmente no que diz respeito ao câmbio. Pelo sim ou pelo não, os preços atuais estão desestimulando o produtor brasileiro a vender, fato que oferece espaço aos EUA conquistarem mercados. Mesmo assim, os operadores julgam difícil que os estadunidenses atinjam o volume de 50 milhões de exportação de soja em 2024/25. Entre setembro e fevereiro os EUA teriam que vender mais de 28 milhões de toneladas, meta de difícil alcance no momento. (cf. Agrinvest Commodities)
O fato é que a soja dos EUA está mais barata atualmente, levando a China a comprar mais do país norte-americano.
Vale ainda destacar que, nesta semana, “os preços da soja brasileira, da safra nova, ficaram entre R$ 121,00 e R$ 123,00/saco, base porto de Paranaguá, para os meses de março, abril, e maio do próximo ano, se mostrando quase R$ 20,00 mais baixos do que os melhores momentos que foram registrados há algumas semanas, quando os indicativos chegaram a alcançar até R$ 140,00/saco.” (cf. Brandalizze Consulting)
Lembrando que, para o final do ano, há ainda o fator eleições presidenciais nos EUA, cujo o resultado pode alterar os rumos deste mercado.
Em tal contexto, e com um câmbio que trabalhou entre R$ 5,45 e R$ 5,55, os preços no Brasil melhoraram levemente. Enquanto a média gaúcha recuou para R$ 114,86/saco, as principais praças locais se fixaram em valores entre R$ 113,50 e R$ 114,00. Nas demais regiões do país os preços oscilaram entre R$ 110,00 e R$ 120,00/saco.
Dito isso, análises privadas, levando em conta as médias dos últimos três anos em termos de esmagamento interno de soja, a partir de dados da Abiove, indicam que o Brasil teria esmagado, até o final de julho, um total de 31,7 milhões de toneladas,sendo este o segundo maior volume para os primeiros sete meses o ano desde 2017.
Em exportação, o Brasil já vendeu, no mesmo período, um total de 75,4 milhões de toneladas. Para alcançar o número final anual de 92,4 milhões, será preciso exportar, ainda, 17 milhões de toneladas no restante de 2024. Considerando tais números, chega-se a conclusão de que em 1º de agosto o país tinha ainda 44,4 milhões de toneladas de soja disponíveis. Considerando que as esmagadoras de soja, no mesmo período, já teriam comprado 40,2 milhões de toneladas da oleaginosa, tem-se que as mesmas ainda possuem 8,5 milhões a serem esmagadas. Considerando que no restante do ano outras 20,9 milhões de toneladas devem ser processadas, o setor ainda precisa 12,4 milhões para fechar a conta no final do ano.
Considerando um estoque final ao redor de 3,1 milhões de toneladas no país ao final de 2024, espera-se que haja certo aumento da demanda interna por soja nos próximos meses, fato que tenderá a pressionar um pouco para cima os preços locais. Essa elevação, mesmo que pequena, nos preços pode “tornar mais atraente para os agricultores a venda de soja para esmagamento interno do que para a exportação, sem esquecer que, se o mercado ficar muito caro, as esmagadoras podem decidir fazer sua manutenção anual durante o segundo semestre do ano para ajustar a planta e para evitar esmagar soja cara”. (cf. Hedgepoint Global Markets)
Enquanto isso, a exportação de soja brasileira aumentou nesta última semana, atingindo a um volume médio diário de 360.000 toneladas, se aproximando dos resultados obtidos em agosto de 2023, que foram de 364.650 toneladas diárias. Assim, até a terceira semana de agosto, inclusive, o país exportou 4,3 milhões de toneladas de soja, contra um total de 8,4 milhões em todo o mês de agosto do ano passado. (cf. Secex)
Lembrando que nos primeiros sete meses do ano a China importou 43,6 milhões de toneladas de soja brasileira. Isso significa 12% acima do realizado no mesmo período do ano passado. Já as compras chinesas de soja dos EUA, no mesmo período, somaram 12,6 milhões de toneladas, revelando um recuo de 25% em relação ao ano anterior.
Fonte: CEEMA UNJUÍ – Comentários referentes ao período entre 16/08/2024 e 22/08/2024
Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum