Por Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, em Chicago, após ensaiarem um recuo durante a semana, voltaram aos patamares da semana anterior, com o fechamento desta quinta-feira (12), após o anúncio do relatório de oferta e demanda do USDA, atingindo a US$ 5,63/bushel, contra US$ 5,61 uma semana antes.
Já o relatório do USDA apontou, para a safra 2024/25, uma produção total do cereal, nos EUA, de 53,9 milhões de toneladas, sem modificações em relação ao relatório de agosto. Enquanto isso, os estoques finais estadunidenses somariam 22,5 milhões de toneladas, ficando idênticos ao indicado em agosto. A produção mundial de trigo somaria 796,9 milhões de toneladas, perdendo pouco mais de um milhão de toneladas sobre agosto. E os estoques finais mundiais aumentariam um pouco mais de 600.000 toneladas, atingindo a 257,2 milhões de toneladas. Com isso, o preço médio ao produtor de trigo estadunidense, no novo ano comercial, permanece estimado em US$ 5,70/bushel, contra US$ 6,96 um ano antes. A produção brasileira é esperada em 9,5 milhões de toneladas, enquanto no Brasil as estimativas dão conta de 8,8 milhões. Já na Argentina o relatório aponta uma colheita de 18 milhões de toneladas de trigo.
Dito isso, a colheita do trigo de primavera, nos EUA, atingia a 85% da área em 08/09, contra 83% na média histórica.
E na Argentina, a Bioceres informou que serão precisos dois anos, pelo menos, para que a empresa comece a comercializar seu trigo geneticamente modificado HB4 nos EUA. Lembrando que o governo estadunidense acaba de aprovar o cultivo do produto.
Por outro lado, no Brasil, enquanto a colheita no Paraná avança lentamente, os preços do produto de qualidade superior subiram novamente. Isso se deve à constatação de que a safra paranaense terá quebra razoável, assim como novas limitações de qualidade no produto, devido às geadas de julho e agosto.
Assim, os preços nas principais praças gaúchas alcançaram R$ 68,00/saco, com a média estadual atingindo a R$ 68,94. Já no Paraná os preços do produto superior bateu em R$ 80,00/saco em Londrina e R$ 79,00 em Marechal Cândido Rondon.
Por sua vez, as importações continuam ocorrendo, mesmo com a desvalorização do Real, que torna mais cara a compra externa. Segundo a Secex, entre janeiro e agosto o país importou 4,6 milhões de toneladas de trigo, já superando em 9% o importado em todo o ano passado. Somente em agosto as compras atingiram a 545.460 toneladas, quase dobrando o total importado em agosto de 2023.
A colheita no Paraná atingia a 18% da área no final da semana passada, sendo que 33% do que restava a colher se apresentava em condições ruins. (cf. Deral) E no Rio Grande do Sul, no dia 12/09 cerca de 19% das lavouras estavam na fase de enchimento de grãos, contra 28% na média histórica para a data. A colheita deverá se iniciar no final de outubro neste Estado.
Enfim, alertas de estudos internacionais dão conta de que as mudanças climáticas mundo afora deverão favorecer o desenvolvimento da brusone, podendo reduzir em 13% a produção mundial de trigo. Nos países da América do Sul, onde o Brasil se encontra e o problema já ocorre, as áreas de trigo vulneráveis à doença passariam de 13% para 30%. E nas condições atuais, a brusone já representa ameaça a 6,4 milhões de hectares de trigo no mundo. Em um cenário de mudanças climáticas, por volta de 2050, a doença poderia afetar 13,5 milhões de hectares, com perdas que podem chegar a 69 milhões de toneladas de trigo por ano. (cf. artigo “Production vulnerability to wheat blast disease under climate change” – Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima -, publicado na Nature Climate Change).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).