Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
A cotação da soja em Chicago, para o primeiro mês, que vinha operando em um patamar entre US$ 13,29 e US$ 13,59/bushel durante esta semana, sofreu uma forte correção altista no dia 30/06, atingindo a US$ 14,50/bushel, com um ganho superior a um dólar em três dias úteis. Já o fechamento da quinta-feira (01/07), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 14,46/bushel, contra US$ 13,71 uma semana antes.
Esta alta, que já vinha sendo alimentada pela forte recuperação do óleo de soja naquela Bolsa durante a semana (65,16 centavos de dólar por libra-peso no fechamento do dia 30/06), encontrou maior apoio nos números anunciados pelo USDA em seus relatórios de plantio definitivo e estoques trimestrais na posição 1º de junho.
Para o mercado, a maior surpresa teria sido o fato de que a área com soja, semeada nos EUA, aumentou “apenas” 5% sobre o ano de 2020, atingindo a 35,4 milhões de hectares. O mercado esperava mais do que isso e imediatamente assumiu uma postura de forte alta. Além disso, o relatório de estoques confirmou os baixos volumes para a soja, com recuo de 44% sobre o ano de 2020, nesta data, fixando os mesmos em 20,87 milhões de toneladas. Estes estoques já eram esperados, porém, sempre pesam sobre o mercado quando oficialmente são anunciados.
Soma-se a isso a especulação tradicional em relação ao clima nas regiões produtoras estadunidenses, o qual caminha relativamente normal, porém, com regiões apresentando necessidade de mais chuvas. Aliás, a partir de agora o clima será o elemento central deste mercado até a colheita, a partir de meados de setembro.
Ou seja, no curto prazo, a soja apresenta mais uma oportunidade de alta em Chicago, quando estruturalmente aponta para um reposicionamento das cotações em níveis mais baixos do que as fortes altas passadas, as quais geraram uma bolha especulativa. Neste contexto, até o dia 27/06 as condições das lavouras estadunidenses estavam com 60% entre boas a excelentes, contra 71% no mesmo período do ano passado.
Soma-se a elas, neste momento, 31% regulares e apenas 9% entre ruins a muito ruins. Cerca de 14% das lavouras, naquela data, estavam em fase de floração, contra 11% na média histórica para esta data. Em termos de exportações, na semana encerrada em 24/06 os EUA embarcaram 103.965 toneladas de soja, ficando dentro das expectativas do mercado.
Em todo o ano comercial atual o país já embarcou 57,2 milhões de toneladas, 55% acima do registrado no mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, no Brasil, as médias de preços recuaram, pois ainda não captaram esta elevação de Chicago, ao mesmo tempo em que o Real se valorizou novamente quebrando a resistência dos R$ 5,00 por dólar e oscilando, na semana, entre R$ 4,90 e R$ 4,98 por dólar, se aproximando do patamar considerado normal atualmente, pela paridade de poder de compra.
A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 137,64/saco, com perda de mais R$ 4,36/saco em relação a semana anterior, lembrando que há um ano o preço médio da soja gaúcha era de R$ 102,03/saco. Dito isso, nas demais praças nacionais, nesta virada de junho para julho os preços da soja igualmente recuaram, com os valores médios oscilando entre R$ 138,00 e R$ 146,00/saco.
Em o câmbio se estabilizando nestes níveis, os futuros preços da soja no Brasil, no restante do ano, ficam condicionados às cotações em Chicago, as quais irão depender do clima e da evolução das lavouras nos EUA, e dos prêmios nos portos brasileiros, os quais já começam a operar no campo positivo na medida em que a entressafra nacional se consolida.
Por enquanto, os valores nominais da oleaginosa brasileira voltaram a operar nos patamares vistos em dezembro passado. Em paralelo, as exportações de soja por parte do Brasil, em junho, devem ter ficado em 10,25 milhões de toneladas segundo nova estimativa da Anec. Em se confirmando este volume, haverá um recuo de 1,65 milhão de toneladas em relação a junho de 2020, segundo os registros da Associação. Já a exportação de farelo de soja deve ter somado 2,02 milhões de toneladas no mês, aumentando em relação ao volume de 1,39 milhão obtido em junho de 2020.
Enfim, a título de informação complementar, tem-se que a Cargill, a partir deste mês, inicia o pagamento de um prêmio aos produtores que comercializaram soja sustentável certificada 3S (que significa Soluções para Suprimentos Sustentáveis) na safra 2019/20 com a empresa. O volume desta soja aumentou 75% em relação ao ano 2018/19.
Segundo a empresa são 143 produtores em Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná e Rondônia que estão neste programa. São 48 produtores a mais do que o registrado no ano anterior. Os 143 produtores receberão parte de 50% do lucro líquido obtido pela Cargill com a venda de soja certificada, porém, o valor a empresa não divulga. Para obter a certificação 3S, os grãos produzidos nessas propriedades rurais devem comprovar desmatamento zero desde 2008, gestão da emissão de gases de efeito estufa, boas práticas agrícolas e o bem-estar do trabalhador rural. (cf. Notícias Agrícolas)
Fonte: Ceema Unijui