Por: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e Jaciele Moreira (2)
As cotações da soja em Chicago, para o primeiro mês cotado, após recuarem para US$ 8,77/bushel no início da semana, se recuperaram um pouco e fecharam esta quinta-feira (14) em US$ 8,89. Deve-se considerar a forte baixa do farelo de soja. A tonelada curta do produto, em Chicago, chegou a bater em US$ 296,70 durante esta semana, valor que não era visto naquela Bolsa desde o dia 1º de setembro de 2017, ou seja, há quase 19 meses.
A baixa inicial foi provocada, mais uma vez, pelo desempenho ruim das exportações estadunidenses de soja. Na prática, as vendas líquidas somaram apenas 311.400 toneladas na semana encerrada em 28/02, para o ano comercial 2018/19, e 72.000 toneladas para o ano 2019/20. A soma dos dois anos ficou muito abaixo do esperado pelo mercado, que era um volume entre 600.000 e 1,2 milhão de toneladas. Já as
inspeções de exportação chegaram a 874.363 toneladas na semana encerrada em 07/03, acumulando desde 1º de setembro, quando se iniciou o atual ano comercial 2018/19, um total de 26,8 milhões de toneladas, contra 39,7 milhões em igual período do ano anterior.
A China continua comprando soja dos EUA desde o início da trégua comercial entre os dois países, porém, em volumes muito abaixo da expectativa do mercado.
Somou-se a isso o fato de ainda não ter surgido grandes novidades quanto ao encerramento do conflito comercial entre EUA e China. Neste sentido, o presidente dos
EUA declarou, no início da semana, que somente assinará um acordo se o mesmo favorecer aos EUA, dando a entender que falta muito para finalizá-lo. Todavia, no transcorrer da semana seus secretários de estado deram conta de que as negociações prosseguem, que em futura data os presidentes dos dois países se reunirão, e que um acordo final poderá sair nas próximas semanas. Estas últimas declarações melhoraram o ânimo do mercado no final da semana.
Ajudou para isso o anúncio da CONAB de que a safra brasileira será ainda menor do que as 115,3 milhões de toneladas apontadas em fevereiro. O relatório de março indica um volume final de 113,4 milhões, contra 119,3 milhões (número revisto) colhidas na safra anterior. Assim, o recuo na produção brasileira, neste momento, está estimado em 4,9% ou 5,9 milhões de toneladas. Na prática, o clima causou problemas em algumas regiões produtoras de forma mais profunda, caso da metade sul gaúcha que teria perdido mais de um milhão de toneladas.
Afora isso, tivemos o anúncio do relatório de oferta e demanda do USDA no dia 08/03. O mesmo, para a soja, poucas novidades trouxe. A produção dos EUA, colhida em novembro, foi mantida em 123,7 milhões de toneladas, porém, seus estoques finais para 2018/19 sofreram um pequeno corte, ficando agora em 24,5 milhões de toneladas. A produção brasileira foi reduzida, porém, ainda acima do esperado pelos órgãos públicos nacionais, ficando agora em 116,5 milhões de toneladas, enquanto a produção da Argentina foi mantida em 55 milhões de toneladas. Já as importações da China se mantiveram em níveis bem abaixo do auge esperado em anos anteriores, se consolidando em 88 milhões de toneladas para o atual ano comercial.
Diante disso, o relatório pouco influenciou as cotações em Chicago durante esta semana.
Aqui no Brasil, o câmbio se manteve oscilando entre R$ 3,80 e R$ 3,88, dando suporte aos preços da soja em reais. Com isso, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 71,80/saco, enquanto os lotes fecharam a semana mais baixos, entre R$ 71,50 e R$ 72,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes ficaram entre R$ 62,00/saco em Sorriso (MT) e R$ 78,00/saco em Campos Novos (SC), passando por R$ 73,50 no norte e centro do Paraná; R$ 67,50 em São Gabriel (MS); R$ 67,00 em Goiatuba (GO); R$ 69,50 em Pedro Afonso (TO); e R$ 69,00/saco em Uruçuí (PI).
Os prêmios nos portos brasileiros continuaram muito fracos, girando entre US$ 0,03 e
US$ 0,36/bushel na semana. A colheita da safra atual avança, se aproximando de 60% da área total no país, sendo que no Rio Grande do Sul, até 07/03, a mesma atingia a 8% da área, contra 4% na média histórica. Já a comercialização da atual safra, até o dia 08/03, chegava a 43% da safra total esperada, contra 50,3% na média para esta época do ano. Por Estado produtor, o comportamento das vendas da atual safra era o seguinte: Rio Grande do Sul com 22% negociado, contra 30% na média; Paraná 35% negociado, contra 38% na média; Mato Grosso 56%, contra 63%; Mato Grosso do Sul 45%, contra 48%; Goiás 47%, contra 59%; São Paulo 42%; contra 39%; Minas Gerais 37%, contra 53%; Bahia 43%, contra 59%; Santa Catarina 29%, contra 29%; o conjunto dos demais estados produtores 50%, contra 64% (destes, Maranhão com 53%, Piauí com 45% e Tocantins com 53%). (cf. Safras & Mercado)
Até o dia 10/03 as exportações brasileiras de grãos de soja atingia a 8,1 milhões de toneladas no ano comercial 2019/20, iniciado em 1º de fevereiro, contra 6,3 milhões no
ano anterior na mesma época. O volume total esperado para o ano indicado é de 70 milhões de toneladas.
De forma geral, os preços da soja continuarão a sofrer pressão baixista no curto prazo, diante da colheita que está mais acelerada neste ano, porém, a redução na produção final confirma da tendência de que os preços devam oscilar em torno das médias
atuais. Obviamente, tal quadro pode mudar especialmente em função das oscilações cambiais no Brasil. Aliás, os preços melhoraram um pouco devido, justamente, a
desvalorização do Real nestes últimos quase 30 dias, com o mesmo passando de R$ 3,71 em 20/02 para um pico de R$ 3,87 por dólar no dia 08/03 (4,3% de variação), para posteriormente voltar a R$ 3,81 no dia 12/03.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.