As cotações da soja se mantiveram acima dos US$ 8,00/bushel nesta semana, após terem alcançado o mais baixo valor dos últimos 12 anos em 13/05, quando o primeiro mês cotado atingiu a US$ 7,91. O fechamento, para o primeiro mês cotado, porém, indicou viés de baixa ao ficar em US$ 8,21/bushel neste dia 23/05 (quinta-feira), contra US$ 8,39 uma semana antes.
O mercado vive duas situações antagônicas. Em primeiro lugar, Chicago é pressionado para cima devido ao atraso no plantio da atual safra de verão, o qual já atinge a soja. De fato, até o dia 19/05 o referido plantio chegava a 19%, contra 47% na média histórica. O mercado esperava pelo menos 22% da área plantada, o que não se confirmou.
No milho, cuja janela preferencial se fecha neste final de maio, o atraso é mais grave, pois até a data indicada a semeadura do cereal chegava a 49% da área, contra 80% na média histórica para esta data. Com isso, a possibilidade de transferência de área para a soja se torna cada dia mais concreta.
E há previsões de mais chuvas para o restante deste mês de maio. Em segundo lugar, e caminhando em outro sentido, as exportações estadunidenses de soja continuam fracas neste ano, especialmente agora que o litígio comercial com a China se agravou e a peste suína africana faz estragos importantes neste país.
De fato, as vendas líquidas de soja por parte dos EUA, para o ano comercial 2018/19, que se encerra em 30/09, atingiram a 370.900 toneladas na semana encerrada em 9 de maio, enquanto para o ano 2019/20 as mesmas somaram 303.400 toneladas. Apesar de a soma dos dois anos ficar dentro do esperado pelo mercado, o volume total é muito baixo. Tal realidade se confirma pelo número de inspeções de exportação, as quais atingiram a 497.070 toneladas em 16/05, acumulando no atual ano comercial um total de 33,2 milhões de toneladas, contra 45,6 milhões em igual momento do ano passado.
Quanto ao conflito comercial sino-estadunidense, o mesmo não tem mais data para ser encerrado, com dirigentes norte-americanos informando que os EUA não têm planos de ir à China para retomar as negociações comerciais com a delegação chinesa. Como sabemos, a rodada anterior de reuniões, no início de maio, resultou em fracasso, com os EUA aumentando suas tarifas alfandegárias sobre produtos chineses e a China retaliando. Cogita-se que o país asiático estaria apostando levar o conflito até o final do próximo ano, quando novas eleições presidenciais nos EUA podem mudar o governo local e favorecer a um acordo que interesse aos chineses.
Neste contexto, o governo Trump está para anunciar um pacote de apoio aos produtores rurais, o qual somaria US$ 15 bilhões. O governo estaria “considerando pagamentos de cerca de US$ 2,00 por bushel para produtores de soja, US$ 0,63 por bushel para produtores de trigo e US$ 0,04/bushel para produtores de milho a fim de compensar as perdas da guerra comercial. No ano passado, foram pagos US$ 1,65 por bushel pela soja, US$ 0,14 por bushel pelo trigo e US$ 0,01 centavo por bushel pelo milho.” (cf. Safras & Mercado)
O pacote é positivo para os produtores rurais estadunidenses, porém, pode ser um indicativo de que o governo local esteja criando alternativas para enfrentar uma longa continuidade da guerra comercial com a China. Por outro lado, com tal ajuda os produtores não devem diminuir a produção dos referidos grãos, gerando um aumento na oferta dos produtos, em um momento que as vendas externas estão bastante comprometidas. Isso deve continuar a pressionar para baixo Chicago.
Quanto ao Brasil, os preços internos da soja melhoraram bastante nesta semana graças a dois fatores, já conhecidos: 1) os prêmios nos portos nacionais continuaram subindo, na esteira do recrudescimento do conflito entre EUA e China, com os mesmos fechando esta semana entre US$ 1,00 e US$ 1,15/bushel, ganhando em média 20,8% sobre a semana anterior; 2) o câmbio, apesar das intervenções do Banco Central brasileiro, se manteve acima dos R$ 4,00 por dólar, fechando a semana ao redor de R$ 4,04, fato que aquece os preços na exportação.
Neste contexto, o balcão gaúcho ganhou, na média, R$ 4,66/saco durante a semana, fechando a mesma em R$ 69,42/saco. Já os lotes chegaram a valores entre R$ 75,00 e R$ 76,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 63,00/saco em Sorriso (MT) e R$ 77,50/saco em Campos Novos (SC), passando por R$ 74,50 nas regiões produtoras do Paraná; R$ 67,50 em São Gabriel (MS) e Goiatuba (GO); R$ 68,00 em Pedro Afonso (TO); e R$ 70,00/saco em Uruçuí (PI).
Não há dúvida que, graças ao câmbio e aos prêmios, uma nova janela importante de comercialização se abriu aos produtores de soja brasileiros, os quais devem aproveitá-la em busca da melhor média possível de preços, antes que feche.
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui? Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.