Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações do trigo em Chicago também subiram nesta semana, com o primeiro mês fechando a quinta-feira (19) em US$ 5,45/bushel, após ter atingido a US$ 5,56 no dia 17/12. Na semana anterior, o fechamento havia ficado em US$ 5,39/bushel.
Apesar do natural contágio de otimismo gerado pelo acordo parcial entre EUA e China, foi no anúncio de novas retenciones (tarifas) sobre as exportações agropecuárias, feito pelo novo governo argentino, que o mercado se concentrou. Além disso, as inspeções de exportação de trigo por parte dos EUA foram boas, encerrando a semana do 12/12 com um volume de 506.291 toneladas, ficando acima do esperado pelo mercado. Com isso, o atual ano comercial do trigo, iniciado em 1º de junho nos EUA, acumula um total de 13,6 milhões de toneladas inspecionadas, contra 11,7 milhões um ano antes.
Já as exportações líquidas de trigo, referentes ao ano 2019/20, somaram 502.700 toneladas na semana encerrada em 05/12, o que significa um aumento de 33% sobre a média das quatro semanas anteriores. Também aqui as mesmas ficaram acima do esperado pelo mercado.
O quadro se mostra positivo, com a expectativa de um aumento nas vendas externas de trigo por parte dos EUA, mesmo com a entrada da safra argentina. Neste ponto, as novas tarifas de exportação no vizinho país podem favorecer ao trigo estadunidense, além do acordo parcial entre EUA e China, ocorrido no final da semana anterior.
No Mercosul, poucas novidades, com a tonelada FOB para exportação ficando entre US$ 190,00 e US$ 200,00, enquanto a safra nova argentina subiu para US$ 200,00 na compra.
E no Brasil, os preços do trigo continuaram subindo neste semana. O balcão gaúcho voltou a romper o teto dos R$ 40,00/saco, fechando a semana em R$ 40,60/saco (no ano passado, neste mesma época, o produto gaúcho valia R$ 39,78). Isso significa que há um ganho nominal de 2,1%, porém, uma perda real de 1,4% na comparação dos preços praticados no final de ano de 2018 com o final de ano de 2019. Já os lotes ficaram em R$ 43,80/saco (R$ 48,42/saco um ano antes).
No Paraná, o balcão fecha o ano valendo entre R$ 47,50 e R$ 48,00/saco (R$ 44,50 a R$ 46,50 um ano antes) e R$ 54,00 a R$ 55,00/saco para os lotes (R$ 52,80 a R$ 54,00 um ano antes). Em Santa Catarina, o balcão ficou entre R$ 42,00 e R$ 44,00 (R$ 42,00 e R$ 43,00 um ano antes), enquanto os lotes fecharam a semana em R$ 48,90/saco na região de Campos Novos (R$ 50,40/saco um ano antes).
No curto prazo o mercado interno brasileiro fecha o ano sem grandes reajustes de preços, pressionado pela entrada da safra nacional, assim como a da Argentina, além da revalorização do Real, que chegou a R$ 4,06 em alguns momentos da semana.
Esta realidade, com o passar das semanas, sofrerá modificações, especialmente pela redução na oferta de trigo de qualidade superior no Brasil, além da constante instabilidade cambial vivida pelo país. Este quadro ficará mais nítido a partir de fevereiro. A própria paralisação do mercado em função das Festas de final de ano acomoda os preços internos.
Logo em seguida serão as importações, e o câmbio que sobre elas influirá, que definirá o rumo dos preços internos do trigo. O encarecimento das importações, pela redução na safra da Argentina, pela melhoria dos preços em Chicago e caso continue o Real nestes níveis de desvalorização, são motivos que permitem esperar uma melhoria nos preços do cereal brasileiro, particularmente o produto de qualidade superior.
Neste contexto, podem ajudar as novas tarifas impostas pelo governo argentino às suas exportações de trigo, as quais passam de 6,5% para 12%, fato que aumenta o custo de exportação para os produtores argentinos, podendo haver desestímulo na produção futura do cereal. Isso já ocorreu até quatro anos atrás (nos últimos quatro anos o governo Macri, que perdeu as eleições deste final de ano, havia reduzido muito as tarifas, estimulando a produção e levando a Argentina a ser novamente um grande exportador de trigo). Como a atual safra já está consolidada, os efeitos deste processo surgirão quando do plantio da nova safra de trigo.
Desta forma, e já preocupado com a menor oferta argentina, o governo brasileiro vem trabalhando para reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) aplicada no Mercosul para o trigo que vem de outras regiões do mundo. Isso torna mais barato o cereal, por exemplo, importado dos EUA, Canadá e outras regiões produtoras. Em isso ocorrendo, a alta de preços que possa acontecer para o trigo brasileiro tende a ficar contida por este movimento da redução da TEC.
Enquanto isso, no curto prazo, será o câmbio no Brasil que definirá o comportamento dos preços internos do cereal, pois o mesmo balizará suas importações futuras. Diante disso, e em função da quebra importante na qualidade do trigo nacional nesta última safra, mais uma vez, os moinhos tentarão, antes de importar, realizar a mistura do trigo de qualidade com o trigo inferior (mais barato) para a produção da farinha a ser consumida no país. Dito isso, os moinhos em geral estão bem abastecidos de trigo para os próximos meses, fato que tende a segurar os preços locais nos atuais níveis nas próximas semanas.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.