Para garantir a preservação da viabilidade e do vigor das sementes, é essencial realizar o beneficiamento e o armazenamento em condições ideias de temperatura e umidade relativa do ar, geralmente abaixo de 25 °C e 70% de UR. Nesse sentido, é importante atentar ao período de armazenamento ainda na planta, antes da colheita, pois a viabilidade da semente pode ser comprometida nesse período. Afinal, a qualidade da semente é definida no campo (Henning et al., 2020).
Conforme destacado por França-Neto et al. (2016), as sementes são higroscópicas, o que significa que seus teores de água tendem a se equilibrar com a umidade relativa do ar do ambiente em que estão armazenadas. Com relação às condições de armazenamento no Brasil, é recomendado manter o teor de água das sementes dentro dos seguintes níveis: 13,0% para as regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e centro sul do Paraná; entre 11,5% e 12,0% para o norte e oeste do Paraná, sul do Mato Grosso do Sul e São Paulo; e entre 11,0% e 11,5% para as demais regiões dos Cerrados (Krzyzanowski et al., 2015).
Figura 1. Graus de umidade par armazenamento de sementes de soja em função da Região.

Influência do teor de água
Smaniotto et al. (2014) destacam a influência do teor inicial de água na qualidade das sementes de soja ao longo do armazenamento. Sementes com teores iniciais de água mais elevados, como 14%, tendem a sofrer uma maior degradação ao longo do tempo de armazenamento, resultando em perdas de qualidade mais significativas.
Por outro lado, sementes com teores iniciais de água mais baixos, como 12%, demonstram uma maior capacidade de manter sua qualidade ao longo do período de armazenamento, sendo assim recomendadas para preservar o vigor das sementes de soja.
De acordo com Krzyzanowski et al. (2015), caso as sementes de soja sejam armazenadas com um teor de água superior a 14,0%, é provável que ocorra a presença do fungo Aspergillus flavus. Portanto, é essencial adotar cuidados especiais para manter o teor de água das sementes armazenadas abaixo de 13%.
Pragas de armazenamento
Além disso, a qualidade das sementes de soja durante o armazenamento pode ser comprometida devido à ação de várias pragas, incluindo os besouros Lasioderma serricorne, Oryzaephilus surinamensis e Cryptolestes ferrugineus, além da traça Ephestia elutella. Para controle dessas pragas, é necessário realizar o expurgo das sementes (Krzyzanowski et al., 2015).
O expurgo, também conhecido como fumigação, é uma prática que deve ser realizada sempre que houver infestação em lotes, silos ou armazéns de sementes. Essa técnica visa eliminar pragas infestantes através do uso de gás. Durante o expurgo, o gás liberado ou introduzido no interior do lote de sementes deve atingir uma concentração letal para as pragas.
Esse processo é realizado com o uso da fosfina (PH3, proveniente de fosfeto de alumínio ou de magnésio) que é um biocida geral e altamente tóxico, liberado na presença de umidade do ar. A fosfina é eficaz no controle de todas as fases (ovo, larva, pupa e adultos) das pragas de grãos e sementes armazenadas (França-Neto et al., 2016).
Armazenamento
Após o processo de beneficiamento, França-Neto et al. (2007) destacam que as sementes ensacadas podem ser armazenadas em armazéns convencionais ou climatizados. Uma estratégia eficaz para conservar a qualidade da semente de soja em regiões quentes e úmidas do Brasil Central é identificar microrregiões com altitudes mais elevadas, onde as temperaturas e umidade relativa do ar são naturalmente mais baixas.
Além disso, os autores afirmam que alguns produtores nesta região têm adotado alternativas como o resfriamento da semente por meio da injeção de ar frio, mantendo-a em torno de 15°C ou menos, com uma umidade relativa do ar entre 50% e 65%. Após ensacadas, as sementes são armazenadas em locais com isolamento térmico, sendo fundamental monitorar regularmente a temperatura e a umidade relativa do ar para garantir a preservação da qualidade.
Zuchi (2018) aponta que as condições de temperatura e umidade para o armazenamento de sementes no Brasil muitas vezes não atendem aos requisitos ideais. Nesse contexto, uma alternativa viável é a adoção da tecnologia de resfriamento artificial de sementes.
Outra opção destacada pelo autor é o revestimento dos armazéns convencionais, visando proporcionar um melhor isolamento térmico do ambiente de armazenagem e, consequentemente, conservar a temperatura adequada. Ele ressalta que a combinação dessas medidas, pode desempenhar um papel fundamental na preservação da qualidade fisiológica das sementes de soja.
Em suma, o objetivo principal do armazenamento de sementes é estocar a produção, assegurando a qualidade, especialmente em termos de suas características fisiológicas e sanitárias. Para isso, é essencial criar condições apropriadas que permitam manter a qualidade das sementes, através do controle adequado da temperatura e a umidade para reduzir ao máximo as taxas de deterioração ao longo do período de armazenamento.
Veja mais: Componentes primários e secundários da produtividade da soja
Referências:
FRANÇA-NETO, J. B. et al. TECNOLOGIA DA PRODUÇÃO DE SEMENTE DE SOJA DE ALTA QUALIDADE – SÉRIE SEMENTES. Embrapa, circular técnica, 40. Londrina – PR, 2007. Disponível em: < https://www.agrolink.com.br/downloads/tecnologia%20de%20produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20sementes%20de%20soja%20de%20alta%20qualidade.pdf >, acesso em: 22/03/2024.
FRANÇA-NETO, J. B. et al. TECNOLOGIA DA PRODUÇÃO DE SEMENTES DE SOJA DE ALTA QUALIDADE. Embrapa, documentos, 380. Londrina – PR, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/151223/1/Documentos-380-OL1.pdf >, acesso em: 22/03/2024.
HENNING, A. A. et al. TECNOLOGIA DE SEMENTES. Embrapa Soja, Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 13. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 22/03/2024.
KRZYZANOWSKI, F. C. et al. TECNOLOGIAS PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE SOJA. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2015. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/sites/default/files/avisos/Tecnologia%20da%20Produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20Sementes%20de%20Soja.pdf >, acesso em: 22/03/2024.
SAMANIOTTO, T. A. S. et al. QUALIDADE FISIOLOGICA DAS SEMENTES DE SOJA ARMAZENADAS EM DIFERENTES CONDIÇÕES. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 18, n. 4, p. 446-453. Campina Grande – OB, 2014. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/K8PMTxRCs7Jv3fY6Q8LKcvn/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 22/03/2024.
ZUCHI, J. ARMAZENAMENTO DE SEMENTES. Revista SEEDnews, v. 22, n. 4, 2018. Disponível em: < https://www.ifgoiano.edu.br/home/images/Polo/pdf/2018/Revista-SEEDnews_ed_JUL2018_pg34-37.pdf >, acesso em: 22/03/2024.
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