Após anos de pesquisa, desenvolvimento e avaliações de segurança, o arroz dourado é aprovado para cultivo comercial nas Filipinas e logo deve chegar à mesa de consumidores locais. Principalmente no prato de famílias que vivem em extrema pobreza.

Idealizado na década de 1980, o arroz dourado é uma planta transgênica desenvolvida para combater a deficiência de vitamina A, especialmente na Ásia, onde o arroz é considerado um dos principais alimentos, mesmo entre as populações mais pobres.

Já imaginou um arroz que possa suprir as necessidades de populações com deficiência em vitamina A?

Aqui no Brasil a deficiência por vitamina A não é um problema de saúde pública grave e, nos últimos anos, tem sido controlada.

No entanto, em países como Bangladesh, Vietnã, Índia, Indonésia e Filipinas o número de crianças (menores de 5 anos) e mulheres grávidas que têm carência dessa vitamina é extremamente alto. Segundo a Organização Mundial da Saúde, meio milhão de crianças ficam cegas a cada ano por causa da deficiência de vitamina A e mais de 100 mil crianças menores de cinco anos morrem todos os anos por falta desse nutriente.

Solucionar esse problema foi um dos primeiros objetivos propostos para o desenvolvimento de plantas transgênicas. A pesquisa foi idealizada ao final da década de 1980 e liderada pelos cientistas alemães Ingo Potrykus e Peter Beyer. No começo dos anos 2000 foi anunciado o desenvolvimento de um arroz transgênico com maior concentração de β-caroteno (um precursor da vitamina A), o arroz dourado.

A ciência do arroz dourado

A planta de arroz convencional também produz β-caroteno, mas ele é acumulado nas folhas e não nos grãos. Os pesquisadores introduziram então, no genoma do arroz, dois novos genes: o psy1 (fitoeno sintase) de milho e o crt1 (caroteno desnaturase) da bactéria Pantoea ananatis.

Biossíntese do B-Caroteno no Arroz Dourado

Com esses genes, o arroz transgênico consegue produzir fitoeno (molécula que dá início a produção de carotenóides em plantas). A partir daí inicia a transformação em licopeno nos grãos de arroz. O licopeno é convertido em β-caroteno que ficará acumulado no próprio grão, resultando na cor amarelada ou dourada do arroz.

O arroz dourado acumula 11.4 µg/g de β-caroteno no grão, enquanto outras variedades de arroz não reservam nada. A bioconversão do β-caroteno em vitamina A pelo organismo é tão eficiente, que aproximadamente 150 g do arroz transgênico, por dia, seria suficiente para suprir as necessidades desse nutriente em crianças de 6 a 8 anos.

20 anos para aprovação do arroz transgênico

O desenvolvimento e liberação de qualquer planta transgênica é um processo extremamente caro e que pode chegar a milhões de dólares. O arroz dourado, foi desenvolvido com fins humanitários. Portanto, nunca visou lucro e ainda assim, a sua pesquisa e todo o processo de avaliação do arroz dourado sofreu fortes ataques de movimentos que se opõem à liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Inclusive, diversos campos experimentais foram destruídos pelos manifestantes. Abaixo pode-se observar na imagem, a linha do tempo do arroz dourado.

Linha do tempo do Arroz Dourado

Após uma longa batalha entre a comunidade científica e os negacionistas, os dados da ciência prevaleceram e o arroz dourado foi sendo aprovado para comércio em países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e, inclusive, Filipinas. Contudo, para que a produção de arroz dourado fosse iniciada ainda faltava a aprovação para cultivo comercial.

Arroz dourado está perto de chegar ao consumidor após 20 anos: SAIBA MAIS

Em 21 de julho de 2021 o governo Filipino concedeu tal permissão e assim os agricultores filipinos se tornarão os primeiros no mundo a cultivar o arroz dourado.

Principais fontes

Golden Rice Project: Disponível em: http://www.goldenrice.org/index.php. Acesso em: 04/08/2021.

Stokstad, E. Bangladesh could be the first to cultivate Golden Rice, genetically altered to fight blindness. Science magazine, 2019.

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