A lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar é uma praga que pode atacar desde a emergência do milho, reduzindo o estande de plantas. Em estágios mais avançados da cultura, pode causar destruição do cartucho.
As lagartas do Complexo Spodoptera no milho são alvos da tecnologia Bt desde 2007 no Brasil, expressando a proteína Cry 1AB. A lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) é a de maior importância na cultura da gramínea, causando desde raspagens até consumo de significativas áreas foliares.
A piramidação de proteínas é uma das estratégias viáveis através da compilação de diversas proteínas a fim de evitar a evolução da resistência e melhorar a eficiência de controle quando comparamos com eventos individuais.
Figura 1. Lagarta grande de Spodoptera frugiperda.
Como ocorre o controle com Bacillus thuringienses (Bt)?
São bactérias que vivem no solo e apresentam genes de interesse, pois possuem proteínas bioinseticidas que controlam a maioria dos lepidópteros.
Esses genes são transferidos para o DNA das plantas, apresentando potencial de controle sobre as lagartas. Ao se alimentarem, as lagartas ingerem o conteúdo infectado, onde são digeridos no intestino médio. Neste local, as proteínas se ligam às células do intestino, corrompendo-as. As pragas cessam sua alimentação e morrem.
No milho, as pragas que podem ser controladas são:
- Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
- Larva-alfinete (Diabrotica speciosa);
- Lagarta-da-espiga(Helicoverpa zea);
- Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
- Broca-do-colmo (Diatraea saccharalis).
Note que os sugadores, como percevejos, cigarrinhas e pulgões, não estão incluídos no controle com a adoção da tecnologia. Desta forma, o monitoramento se torna imprescindível para detectarmos as populações logo no início da sua incidência.
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Michelotto et al. (2017), em seu trabalho intitulado “Eficácia de milho transgênico tratado com inseticida no controle da lagarta-do-cartucho no milho safrinha no estado de São Paulo”, verificaram a incidência de lagarta-do-cartucho durante o desenvolvimento da cultura semeada em épocas de segunda safra.
Como visualizamos na Figura 2, em 3 anos agrícolas e em 3 regiões estudadas, a incidência sempre foi maior onde não houve controle algum (sem pulverizações e sem tecnologia Bt).
Da mesma forma, os menores danos foram encontrados onde houve aplicações de inseticidas (de 2 a 4 aplicações) e onde foi adotado o manejo Bt, sendo considerada a melhor forma de controle da lagarta.
Quando ocorre a adoção de plantas geneticamente modificadas contendo proteínas bioinseticidas + aplicações foliares, os danos são reduzidos, impactando em preservação do rendimento e lucratividade do produtor. Esta associação é importante, principalmente, quando utilizamos da proteína Cry 1ab, considerada a menos ativa no combate às pragas.
As proteínas Cry1F, Cry1A105, e VIP3Aa20 foram as mais eficientes.
Figura 2. Danos visíveis em híbridos de milho Bt e não-Bt (Escala de Davis).

Barcelos & Angelini (2018), em seu trabalho verificaram a eficiência de controle das proteínas contra o ataque da lagarta-do-cartucho. Verificamos na Figura 3, que a porcentagem de plantas com notas acima de 3 na Escala de Davis (20% das plantas com notas ≥3 permitem a entrada de manejos) foi alta mesmo em cenários com a presença do bioinseticida.
As tecnologias associadas a diversas proteínas, chamado de pirâmide de genes, possibilitou controle eficiente de:
- Cry 1A.105 + Cry 2Ab2;
- Cry 1A.105 + Cry 2Ab2 + Cry 1F;
- VIP3Aa20.
Estes mecanismos apresentaram o melhor manejo no combate à lagarta-do-cartucho. Híbridos que expressam mais de uma proteína são menos suscetíveis aos eventos de resistência (Pitta et al., 2013).
Percebemos que outras alternativas de manejo são necessárias quando se utilizou Cry1F e Cry 1F + Cry1Ab pois apresentaram notas acima de 3 segundo a Escala de Davis em mais de 20% das plantas.
Figura 3. Porcentagem de frequência de plantas com notas acima de 3, de acordo com a escala de notas aos 7, 14, 21 e 28 DAE.

Ainda, o autor relatou que para o controle eficiente da lagarta, as associações com aplicações químicas são necessárias. Contudo, dependendo da proteína utilizada, este número pode variar:
- Cry 1F + Cry1Ab: 3 aplicações;
- Cry 1F: 2 aplicações;
- VIP3Aa20: 1 aplicação.
Para corroborar o trabalho anterior, Silva et al. (2019), determinaram que as proteínas de híbridos de milho Bt com o Cry1A105 + Cry2Ab2 e Vip3Aa20 são as que apresentam as mais baixas sobrevivência da população de S. frugiperda.
A escolha do híbrido correto irá interferir diretamente na preservação da produtividade. As utilizações das proteínas podem ultrapassar 1000 kg.ha-1 quando comparamos com milho convencional sem controle.
Como visualizamos na Tabela 1, as maiores diferenças no rendimento de produções com milho geneticamente modificado + controle químico, comparando com cenário sem manejo químico, foram:
- Cry1F+Cry1Ab + VIP3Aa20: 727,66 kg.ha-1;
- 105 + Cry2Ab2 + Cry1F: 1221,73 kg.ha-1;
- VIP3Aa20: 1.134,76 kg.ha-1.
Tabela 1. Produtividade (kg.ha-1), peso de grãos, peso de mil grãos e estande final de diferentes híbridos de milho Bt, com ou sem controle químico.

Como notamos nos trabalhos anteriores, o híbrido de milho com a tecnologia auxilia no manejo da praga, causando sua mortalidade e possibilitando à planta mostrar seu máximo potencial produtivo.
No entanto, para que as pragas sejam suprimidas, elas precisam consumir a área foliar. Observe na Figura 4, que com a utilização da proteína Vip3Aa20, ocorre o menor consumo foliar e uma maior proteção para a planta em lagartas de segunda geração.
Contudo, o milho exposto à ação contínua da proteína pode acarretar futuras gerações com alta taxa de sobrevivência. Miraldo et al. (2016), relataram que a exposição pode resultar em sobrevivência de 20% das lagartas.
Figura 4. Área foliar consumida por Spodoptera frugiperda lagartas da segunda geração alimentadas com folhas de milho Bt.

- Bônus
Não se pode utilizar simultaneamente plantas Bt e bioinseticidas a base de Bt. A exposição contínua das proteínas pode acarretar em resistência pelas pragas.
Considerações finais
A lagarta-do-cartucho é a principal praga encontrada no milho. Os seus danos podem provocar prejuízos significativos, reduzindo a área foliar e, consequentemente, a fotossíntese.
Como discutimos nos trabalhos anteriores, a adoção da tecnologia apresenta eficiência de controle, principalmente quando compilada com diversas proteínas. Contudo, a sua exposição contínua pode resultar em resistência pelas pragas e redução do controle.
A necessidade de aplicações quando se atinge o nível de controle no milho (20% das plantas com notas ≥3, recomenda-se a entrada de manejos), é uma opção viável. O nível de infestação depende da eficiência da proteína. Algumas necessitam de até 3 aplicações de inseticidas mesmo com a adoção da tecnologia.
Por isso, o monitoramento é uma ferramenta imprescindível. Quanto antes detectarmos a presença das pragas, melhor será o resultado do manejo. Além disso, a ferramenta Bt não inclui controle de sugadores, como percevejos, cigarrinhas e pulgões. Estes insetos apresentam-se com grande frequência na cultura do milho, sugerindo-se monitoramento constante.
Referências:
BARCELOS, P. H. S.; ANGELINI, M. R. CONTROLE DE Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) EM DIFERENTES TECNOLOGIAS Bts (Bacillus thuringienses) na cultura do milho. JOURNAL OF NEOTROPICAL AGRICULTURE, v. 5, n. 1, p. 35-40, 2018. Disponível em: < https://periodicosonline.uems.br/index.php/agrineo/article/view/1824 >, acesso em: 30/11/2020.
MICHELOTTO, M. D. et al. EFICÁCIA DE MILHO TRANSGÊNICO TRATADO COM INSETICIDA NO CONTROLE DA LAGARTA-DO-CARTUCHO NO MILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL. Ciência e Agrotecnologia, v. 41, n. 2, p. 128-138, 2017. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-70542017000200128&script=sci_abstract&tlng=pt >, acesso em: 30/11/2020.
Miraldo, L. L. et al. FUNCTIONAL DOMINANCE OF DIFFERENT AGED LARVAE OF BT-RESISTANT Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) ON TRANSGENIC MAIZE EXPRESSING VIP3AA20 PROTEIN. CROP PROTECTION, v.88, p.65-71, 2016. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219416301351 >, acesso em: 30/11/2020.
PITTA, R. M.; DAL’ MASO, F.; MENDES, S. M. Contra resistência. Revista Cultivar, Pelotas, RS, p. 16-17, 2013.
SCOTON, A. M. N.; DA SILVA, M. B. et al. CONTROLE DE Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae) E DESEMPENHO PRODUTIVO DE GENÓTIPOS DE MILHO Bt. Universidade da Grande Dourados, Trabalho de Conclusão de Curso, 2019. Disponível em: < http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/1775/1/AnaMariaNascimentoScoton%20-%20MarianyBalbuenodaSilva.pdf >, acesso em: 30/11/2020.
SILVA, L. B. et al. SOBREVIVÊNCIA E ÍNDICES NUTRICIONAIS DE Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) MANTIDA EM MILHO BT POR CINCO GERAÇÕES. Revista Brasileira de Ciências Agrárias (Agrária), v. 14, n. 2, p. 5629, 2019. Disponível em: < http://www.agraria.pro.br/ojs-2.4.6/index.php?journal=agraria&page=article&op=view&path%5B%5D=agraria_v14i2a5629 >, acesso em: 30/11/2020.
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Redação: Equipe Mais Soja.