Após a colheita da safra de verão, muitos produtores começam os preparativos para a implantação de uma cultura de inverno. Nesse contexto, a cultura da aveia possui grande importância para o plantio direto com a produção de palha, proteção do solo, rotação de culturas e incremento de massa. Somado a isso, a aveia é uma alternativa na produção de forragem e grãos para alimentação animal.
Por outro lado, a cultura da aveia requer cuidados específicos principalmente no seu estabelecimento, visto que o ataque de lagartas na fase inicial pode gerar grandes prejuízos se não manejado corretamente. Primeiramente, é preciso entender que essas lagartas iniciais vivem protegidas na superfície do solo ou enterradas a pequenas profundidades, saindo para atacar as plântulas à noite ou em dias nublados. As principais espécies que atacam no estabelecimento da aveia são a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) e a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
A lagarta-rosca (Figura 1) permanece enterrada sob pequenas profundidades de solo durante o dia, saindo à noite para cortar as plântulas junto ao solo. Pode ser facilmente identificada pelo hábito de enrolar-se ao ser tocada. A sua presença na área antes da semeadura da aveia é um fator que ocasiona maiores populações infestantes e favorece a ocorrência de danos precoces.
Figura 1. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).
Fonte: Moreira e Aragão, 2009.
Na safra de inverno de 2019 houve relatos de alta incidência de lagarta-rosca na cultura da aveia, e na safra 2021 já são registradas elevadas incidências desde a fase inicial da cultura. Isso se deve, principalmente, à ocorrência de períodos de seca, os quais favorecem o desenvolvimento e aumento populacional dessa praga.
Figura 2. Corte de plantas de aveia junto ao solo por lagarta-rosca, em Vista Gaúcha – RS (2019).
Foto: Henrique Pozebon.
Somado a isso, a presença de populações elevadas dessa espécie antes mesmo da semeadura da aveia está relacionada às falhas de controle nas culturas de verão, visto que é uma praga polífaga e, se mal manejada, pode gerar populações remanescentes que atacarão as culturas de inverno subsequentes. Logo, em áreas com histórico de incidência da praga, recomenda-se o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos e a eliminação antecipada de plantas invasoras hospedeiras, como caruru e língua-de-vaca.
Figura 3. Redução de estande em lavoura de aveia por ataque de lagarta-rosca, em Vista Gaúcha – RS (2019).
Foto: Henrique Pozebon.
A lagarta-militar (Figura 3) apresenta um hábito semelhante ao da lagarta-rosca: são encontradas no solo ou sob restos culturais durante o dia, e se alimentam à noite ou em dias nublados das plântulas da aveia. Além disso, o controle também passa por tratamento de sementes; porém, dependendo do nível populacional, é recomendada a pulverização de inseticidas para proteger a parte aérea das plantas.
Figura 3. Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda).
Fonte: Agro Bayer. Confira a imagem original clicando aqui
A lagarta-elasmo (Figura 4) é outra lagarta com grande potencial de dano em curtos intervalos de tempo. Sua ocorrência também é maior em períodos de seca, uma vez que condições de altas temperaturas e baixa umidade favorecem sua reprodução e desenvolvimento. A incidência dessa praga no Rio Grande do Sul tem sido cíclica, justamente por ser favorecida por períodos prolongados de estiagem durante as fases iniciais e de estabelecimento das culturas.
Figura 4. Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
Fonte: Josemar Foresti. Confira a imagem original clicando aqui.
Além disso, em casos de ataques severos de lagarta-elasmo, pode haver a necessidade de ressemeadura da lavoura. Ao rasparem o tecido vegetal próximo ao colo da planta (logo abaixo do nível do solo), esses insetos abrem uma galeria para movimentar-se no interior da haste, bloqueando o sistema condutor de água e nutrientes da planta. Como consequência, ocorrem sintomas de murcha e secamento de folhas, podendo levar a planta à morte. Logo, o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, associado a um produto com ação de contato em anos de seca, é a alternativa de controle mais viável para essa praga devido ao seu hábito alimentar.
Portanto, as lagartas que ameaçam o estabelecimento da cultura da aveia têm seu manejo dificultado pelo hábito de permanecerem enterradas sob o solo ou protegidas sob a palhada, reduzindo a eficiência das pulverizações. Nesse caso, o tratamento de sementes se torna fundamental para a proteção da cultura. Quando aplicações em parte aérea forem necessárias, estas devem ser realizadas preferencialmente ao final da tarde ou à noite, quando essas lagartas emergem do solo para atacar as plantas e, assim, expõem-se ao contato com o inseticida pulverizado.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM