Autores: Diego Eduardo Romero Gonzaga1; Ariane Narumi Koga2; Evandro Ribeiro Machado Filho3; Geovana Gentilin Martins1, Fabiano Aparecido Rios4; Wanderley Dantas dos Santos5
Introdução
A cultura da soja no Brasil possui grande importância para o cenário econômico mundial. Além de abastecer o mercado interno para a produção de óleo, biodiesel e farelo, a soja é o principal produto de exportação (Embrapa, 2018).
Um dos principais interesses do melhoramento é a busca por variedades que apresentam hábito de crescimento indeterminado e baixas estaturas para evitar o acamamento, pois as maiores produtividade de soja são provenientes de cultivares que apresentam arquitetura compacta (Carniel et. al., 2004; Bruin & Pedersen 2008).
Um dos componentes responsável por conferir resistência ao arqueamento das plantas é o conteúdo de lignina depositado nas paredes celulares do caule. Além de atuar na resistência do caule, a lignina controla o crescimento das plantas, pois a diferenciação celular é finalizada pela lignificação e morte da célula (Zheng et al. 2017, Li et al. 2016, Liu et al. 2018; Zimmermann & Brown, 1971; Kawamura & Higuchi, 1964; Plomion et al., 2001).
A lignina encontrada no tegumento do grão de soja garante maior resistência e menor velocidade de hidratação das sementes. Os programas de melhoramento genéticos buscam desenvolver cultivares de soja com mais de 5% de teor de lignina no tegumento para garantir a produção de sementes mais resistentes (Alvarez et al., 1997; Costa et al., 2001; França Neto et al., 2007; Obando-Flor et al., 2004; Santos et al., 2007).
A mancha-alvo, doença foliar causada pelo fungo Corynespora cassicola, é responsável por apresentar evolução rápida e acometer a produtividade de soja (Ribeiro et al., 2017; Belufi; Pittelkow; Pasqualli, 2015). Os tecidos mais lignificados restringem a passagem de nutrientes e água para o hospedeiro. Além disso, os compostos fenólicos, como a lignina, são conhecidos como agentes fungitóxicos (Lo & Nicholson, 2008).
A lignina, originada através da via dos fenilpropanoides, pode ser induzida na cultura da soja pela aplicação foliar de indutores atóxicos de lignificação. Dependendo da dose e época de aplicação, as plantas de soja tratadas podem apresentar aumento de 33% de lignina em caules (Gonzaga et al., 2019a) e 31% em tegumentos dos grãos (Gonzaga et al., 2019b).
Considerando a importância em aumentar o conteúdo de lignina em plantas de soja para regular o crescimento vegetal, agir na resistência a danos mecânicos de grãos e caules e ao ataque de patógenos sem diminuir a produtividade; o objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do indutor de lignificação na produtividade da soja após a aplicação foliar no estádio de desenvolvimento R2.
Material e Métodos
O ensaio foi conduzido durante a safra 2019/2020 no Sítio Gonzaga, localizado no município de Mandaguaçu/PR. A semeadura da soja, variedade TMG 7062, foi realizada com espaçamento entrelinhas de 0,50 m e a densidade de semeadura foi composta de12 sementes por metro. Na ocasião de semeadura da soja, utilizou-se 250 kg ha-1 do formulado 02-20-18. O controle de doenças e pragas foi realizado de acordo com as recomendações da cultivar.
O experimento foi instalado em blocos inteiramente casualizados em seis repetições, constituído da seguinte forma: testemunha sem aplicação e plantas de soja com aplicação de 677,08 g ha-1 de indutor de lignificação (Propriedade Intelectual). O tratamento químico foi aplicado no estádio de desenvolvimento R2, com o auxílio de um pulverizador costal pressurizado por CO2 a 38 lb pol-2, na velocidade de 1ms-1, o que propiciou um volume de calda equivalente a 200 L ha-1. Para melhor espalhamento do indutor sobre as folhas, foi utilizado o adjuvante Aureo® (0,5% V/V).
Na colheita da soja, realizada em 13 de fevereiro de 2020, no estádio R9, foram coletadas 10 plantas em cada parcela, totalizando 60 plantas testemunhas e 60 plantas tratadas. Após a colheita, foi realizado o cálculo de produtividade em sacas por hectare através da quantidade de plantas por metro, espaçamento entrelinhas, número de vagens por planta, número de grãos por vagem e peso de mil grãos.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise para determinar a significância das diferenças entre as amostras. Para isso, utilizou-se o teste t de student, todos a 10% de probabilidade, através da utilização do programa GraphPad Prism® e os valores foram expressos como a média dos experimentos independentes ± erro padrão da média.
Resultados e Discussão
A produtividade da soja (Figura 1) foi influenciada pelo tratamento empregado de maneira consistente, obtendo-se 31,13% de aumento na quantidade de sacas de soja por hectare. O peso de mil grãos não foi influenciado pelo tratamento químico de maneira significativa (Figura 2). A quantidade de grãos por planta (Figura 3) e a quantidade de vagens por planta (Figura 4) apresentaram aumentos significativos de 32,70% e 25,26%, respectivamente.
Conclusão
De acordo com os resultados pode-se inferir que o método de aplicação foliar de indutor de lignificação em plantas de soja, nessa dose e época de aplicação, pode ser um novo artifício para contribuir com o aumento de produtividade da soja.
Referências
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Informações sobre os autores:
1 Mestrando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá. E-mail: diegoerg@hotmail.com
2 Acadêmica do Curso de Bioquímica, Universidade Estadual de Maringá.
3 Mestrando em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Maringá.
4 Doutor em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá.
5 Doutor em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá