A área cultivada com cereais de inverno, como o trigo e a cevada, tem aumentado na região Sul do país, sendo mais uma alternativa de renda em muitas propriedades. Dentre os principais fatores que podem comprometer o desempenho produtivo destas culturas reduzindo a produtividade da lavoura, destaca-se a competição com plantas daninhas. Nesse sentido, o azevém (Lolium multiflorum) tem sido apontado como uma das principais plantas daninhas que reduzem a produtividade dos cereais de inverno e tem preocupado produtores e técnicos em algumas regiões do Rio Grande do Sul, devido à ocorrência de casos de resistência a herbicidas.

O azevém é uma gramínea (família botânica Poaceae) de ciclo anual, que tem seu estabelecimento no outono/inverno e seu maior desenvolvimento no inverno. No campo, o fluxo germinativo pode iniciar ainda em março e perdurar até novembro (RIZZARDI, 2021). Em diversos sistemas de produção, a espécie vem sendo utilizada como forrageira, com destino tanto para pastejo, como para a produção de pré-secados e feno,e também como cobertura do solo para fornecimento de palhada às lavouras. A ampla aceitação se deve a sua rusticidade e vigor desta espécie, que proporciona alta produção de biomassa (FONTANELI et al., 2012).

Apesar da importância econômica em muitas propriedades, o azevém pode interferir no estabelecimento dos cereais de inverno e prejudicar também a qualidade dos grãos colhidos. A preocupação torna-se maior em sistemas integrados que utilizam a espécie como forrageira ou planta de cobertura antes da semeadura do trigo ou cevada. Estima-se que a perda de produtividade do trigo pode chegar a 0,4% para cada planta de azevém encontrada por metro quadrado.

Somado ao potencial de redução de produtividade, a preocupação se estende devido à dificuldade de controle e ao potencial de ser hospedeiro de doenças. Em algumas regiões do estado do Rio Grande do Sul, os herbicidas que obtinham uma boa eficácia de controle desta planta daninha, já não conseguem obter a mesma eficiência. A resistência tem ocorrido aos herbicidas inibidores da ALS, ao glifosato (EPSPs) e aos herbicidas inibidores da ACCase. Nos últimos anos, têm-se encontrado algumas áreas com resistência múltipla aos herbicidas, em que as plantas de azevém resistem a aplicação de herbicidas inibidores da ACCase e EPSPs, ALS e ACCase, e EPSPs e ALS (VARGAS et al., 2018).

O manejo do azevém na cultura do trigo e da cevada deve ser feito de forma que a semeadura aconteça sem a presença de plantas daninhas. Pensando na cultura da cevada, o controle na pré-semeadura deve ser ainda mais cuidadoso, pois quando a cultura já está estabelecida existem poucos produtos registrados que possam ser aplicados em pós emergência, e em casos de resistência aos produtos que existem, o controle torna-se ainda mais difícil.

Nesse sentido, a primeira alternativa de manejo pode ser feita 20 a 30 dias após a colheita da soja com o uso de Glifosato, Diquate ou Glufosinato de amônio associado com herbicida inibidor da ACCase. Importante ressaltar que o Glufosinato de amônio tende a controlar melhor plantas de azevém com duas a três folhas. Pensando em segurar a lavoura limpa de azevém e outras plantas daninhas pode ser realizado em sequência um manejo com plantas de cobertura até a pré-semeadura do trigo, também protegendo o solo durante o vazio outonal e promovendo ciclagem de nutrientes (RIZZARDI, 2021; VARGAS, 2021).

Outra oportunidade de controle muito discutida e apontada como interessante no manejo de plantas daninhas no trigo consiste na aplicação de herbicidas pré-emergentes antes ou após a semeadura do trigo, visando diminuir o fluxo de emergência do azevém. Para esse manejo, pode ser utilizado Pendimetalina que atua inibindo a formação de microtúbulos ou Piroxasulfona que é um inibidor de ácidos graxos de cadeia muito longa. Lembrando que a aplicação destes pré-emergentes devem ser preconizadas quando houver precipitação pluviométrica logo em seguida, para proporcionar um resultado satisfatório (RIZZARDI, 2021; VARGAS, 2021).

 Em lavouras com trigo já estabelecido, é possível trabalhar com aplicações de pós-emergentes, utilizando iodosulfuron (pode ser usado na cevada também), pyroxsulam ou imazamoxi (somente em cultivares ClearField®), que são herbicidas  inibidores da ALS. Ou pode-se utilizar clodinafop, que é um herbicida inibidor da ACCase. A recomendação é que a aplicação destes herbicidas seja realizada quando o azevém estiver com somente 2 a 4 folhas e o trigo ainda no perfilhamento (RIZZARDI, 2021; VARGAS, 2021).

 A viabilidade do banco de sementes de azevém tende a ser curta, entre 2 e 3 anos, por conta disso, estas estratégias de manejo contribuem para dificultar a produção e reposição das sementes, colaborando para uma redução significativa da pressão desta planta daninha na lavoura. Além disso, um bom manejo nutricional, escolha de cultivares mais adaptadas a região de cultivo, semeadura na época recomendada e outras práticas de manejo, são importantes para favorecer o estabelecimento rápido e vigoroso dos cereais de inverno, dificultando o desenvolvimento e competição com o azevém e outras plantas daninhas.

Por: Márlon Ribeiro Feldens e Maurício Piccoli Bonatti acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.

Referências:

FONTANELI R. S., et al. Gramíneas forrageiras de inverno. Revista ILPF – Integração Lavoura – Pecuária – Floresta. [s.l: s.n.] p. 127-172. Disponível em:<http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/li/li01-forrageiras/cap4.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2023.

RIZZARDI, M.   Manejo químico – Como controlar o azevém no trigo? [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo>. Acesso em: 21 abr. 2023.

VARGAS, L., et al. Caracterização e manejo de azevém (Lolium multiflorum L.) resistente a herbicidas em áreas agrícolas. Revista Plantio Direto &: Tecnologia Agrícola – Edição 162, [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/177110/1/ID44326-2018v28n162p15PlantioDireto.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2023.

EMBRAPA TRIGO; Manejo de azevém em cereais de inverno; 18 jun. 2021 Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/63022864/manejo-de-azevem-em-cereais-de-inverno#:~:text=Sul%2C%20em%202003.-,Atualmente%2C%20os%20herbicidas%20dispon%C3%ADveis%20para%20controle%20do%20azev%C3%Am%20em%20trigo,na%20mesma%20planta%20de%20azev%C3%A9m>.  Acesso em: 21 abr. 2023.



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