O azevém (Lolium multiflorum) é uma das principais e mais preocupantes plantas daninhas da cultura do trigo. Cultivado muitas vezes com o intuito de produzir palhada para o sistema plantio direto ou como alternativa forrageiro durante o período do inverno, o azevém é frequentemente encontrado em meio a lavouras de trigo, matocompetindo com a cultura.

É considerado uma espécie de fácil dispersão e, por isso, está presente e caracteriza-se como planta daninha em praticamente todas as lavouras de inverno e em pomares da região sul do Brasil (Vargas; Gazziero; Karam, 2011). Conforme observado por Fleck (1980), dependendo do porte da cultivar de trigo e da densidade populacional do azevém, reduções de produtividade variando de 4% a 56% podem ser observadas no trigo.

Corroborando o observado por Fleck (1980), avaliando o período de interferência do azevém na cultura do trigo, Donin (2014) observou redução média de produtividade do trigo de 40% em decorrência da convivência com plantas de azevém (137 plantas m-2). Com base nos resultados obtidos por Donin (2014) para o presente estudo, o período anterior a interferência (PAI) é de 11 dias após a emergência (DAE), enquanto o período total de prevenção a interferência foi de 21 DAE.

Figura 1. Produtividade de grãos de trigo (kg.ha-1), em função dos períodos de controle (·) e de convivência (o) de azevém.

PAI: período anterior a interferência; PTPI: período total de prevenção a interferência e PCPI: período crítico de prevenção a interferência. UFFS, Campus Erechim/RS, 2013/14. Fonte: Donin (2014)

Tendo em vista a habilidade competitiva do azevém, o controle dessa planta daninha é fundamental para evitar redução da produtividade do trigo. Entretanto, além da similaridade entre ambas as plantas, (pertencentes a família Poaceae), existem relatos de populações resistentes de azevém a diferentes herbicidas e mecanismos de ação.



Segundo Heap (2022), até então, existe relatos de resistência simples do azevém aos herbicidas glifosato (EPSPs, 2003), Iodosulfuron (ALS, 2010); e casos de resistência múltipla dessa planta daninha aos herbicidas clethodim e glifosato (ACCase e EPSPs, 2010); clethodim e iodosulfuron (ACCase e ALS, 2016) e glifosato e iodosulfuron (EPSPs e ALS, 2017).

Figura 2. Evolução dos casos de relato da resistência do azevém a herbicidas no Brasil.

Fonte: Rizzardi, M. A

Tendo em vista a complexidade do controle pós-emergente do azevém em trigo, estratégias alternativas de controle necessitam ser adotadas a fim de melhorar o controle do azevém em trigo. Uma delas é o uso de herbicidas pré-emergentes, os quais podem ser aplicados no sistema “plante – aplique”.

 As alternativas de herbicidas pré-emergentes para o trigo são restritas atualmente aos herbicidas registrados pendimetalina, piroxasulfona, flumioxazina; trifluralina e s-metolacloro; ou em fase de pesquisa como: bixlozona (isoflex) e cinmetilina (Rizzardi, 2021).

Embora hajam poucas opções, se bem empregados, os herbicidas pré-emergentes podem contribuir significativamente para o manejo do azevém em trigo, reduzindo a matocompetição dessa daninha com o trigo no período inicial do desenvolvimento da cultura, e até mesmo, reduzindo os fluxos de emergência do azevém.

Figura 3. Testemunha (a esquerda), tratamento com herbicidas pré-emergente (a direita) visando o controle do azevém em trigo.

Fonte: Rede Técnica Cooperativa – RTC (2021)

Cabe destacar que diferentemente dos herbicidas pós-emergentes, os pré-emergentes demandam maior conhecimento técnico e cautela em seu uso, sendo necessário analisar as condições de solo e ambiente para seu adequado posicionamento visando evitar efeitos fitotóxico na cultura do trigo, entretanto, são importantes ferramentas para o manejo e controle do azevém no trigo.


Veja mais: Controle de plantas daninhas do trigo – Confira a eficiência de alguns herbicidas


Referências:

DONIN, E. J. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE Lolium multiflorum NA CULTURA DO TRIGO NO ALTO URUGUAI GAÚCHO. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal da Fronteira Sul, 2014. Disponível em: < https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/1070/1/DONIN.pdf >, acesso em: 03/05/2022.

FLECK, N. G. CO MP ET IÇ ÃO DE AZ EV ÉM (Lolium multiflorum L) COM DUAS CULTIVARES DE TRIGO. PLANTA DANINHA, 1980. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/Z47GnG7gLt3zZhFgMxWpqtk/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 03/05/2022.

HEAP, I. O BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS, 2022. Disponível em: < https://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 03/05/2022.

RIZZARDI, M. A. HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES EM TRIGO: UMA TENDÊNCIA QUE VEIO PARA FICAR. Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2021. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/herbicidas-pre-emergentes-em-trigo-uma-tendencia-que-veio-para-ficar#:~:text=O%20uso%20de%20herbicidas%20pr%C3%A9,na%20p%C3%B3s%2Demerg%C3%AAncia%20da%20cultura. >, acesso em: 03/05/2022.

RIZZARDI, M. A. MANEJO QUÍMICO COMO CONTROLAR O AZEVÉM NO TRIGO? Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo >, acesso em: 03/05/2022.

VARGAS, L.; GAZZIERO, D. L. P.; KARAM, D. AZEVÉM RESISTENTE AO GLIFOSATO: CARACTERÍSTICAS, MANEJO E CONTROLE. Embrapa, Comunicado Técnico, 298, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/62590/1/2011comunicadotecnicoonline298.pdf >, acesso em: 03/05/2022.

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