O uso de bioinsumos na agricultura tem se consolidado como uma estratégia eficaz para aumentar a produtividade e a sustentabilidade das lavouras. Dentre os microrganismos benéficos que contribuem para o desenvolvimento das culturas agrícolas, as bactérias do gênero Azospirillum se destacam por promover o crescimento vegetal e reduzir a necessidade de fertilizantes, especialmente em culturas como o milho.
Segundo Prando et al. (2019), Azospirillum brasilense é capaz de sintetizar fitormônios que estimulam o crescimento das plantas, com destaque para a expansão do sistema radicular. Além disso, conforme destacado por Hungria (2011), essas bactérias possuem a capacidade de realizar a fixação biológica de nitrogênio. No entanto, diferentemente do que ocorre na relação simbiótica entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e a soja, a associação entre Azospirillum e milho não garante que todo o nitrogênio fixado seja disponibilizado para a planta. Por esse motivo, a complementação com adubação nitrogenada ainda se faz necessária.
Apesar de não suprir integralmente a demanda de nitrogênio do milho, a inoculação com Azospirillum favorece o crescimento do sistema radicular, ampliando o volume de solo explorado pela planta. Esse efeito pode resultar em maior absorção de água e nutrientes, conferindo à cultura maior tolerância a períodos de déficit hídrico.
Os benefícios da inoculação do milho com Azospirillum brasilense também se refletem na produtividade da cultura. De acordo com Hungria (2011), ensaios conduzidos pela Embrapa demonstraram um incremento de até 24% na produtividade do milho inoculado em comparação ao não inoculado, evidenciando a importância dessa tecnologia para o aumento da produção a um baixo custo.
Além do Azospirillum brasilense, outra bactéria tem se destacado como uma importante ferramenta no manejo do milho, trata-se do Bacillus aryabhattai. Essa bactéria tem se popularizado devido à sua capacidade de mitigar os efeitos da seca, aumentando a tolerância das plantas a períodos de estiagem (Embrapa, 2021).
Na cultura do milho, a inoculação com Bacillus aryabhattai tem mostrado resultados promissores na redução dos impactos do déficit hídrico, proporcionando maior tolerância das plantas à seca, além de favorecer o desenvolvimento radicular e contribuir para ganhos de produtividade. Assim, seu uso se apresenta como uma alternativa estratégica em anos de estiagem.
Atualmente, o Bacillus aryabhattai constitui um bioinsumos desenvolvido pela Embrapa em parceria com a NOOA a partir de estudos desenvolvidos, analisando espécies da caatinga como a rainha da noite (Cereus jamacaru). A tecnologia é resultado de mais de 12 anos de pesquisas, e recebeu o nome comercial de Auras® (Embrapa, 2021).
Figura 1. Raízes de milho sem (testemunha) e com Bacillus aryabhattai (Auras®).
Estudos mais recentes, como o de Fuga et al. (2023), corroboram os benefícios da inoculação de sementes de milho com Bacillus aryabhattai. Avaliando o potencial da cepa CMAA 1363 na promoção do crescimento e produtividade do milho, os autores observaram aumentos significativos na massa seca das raízes e na produtividade das plantas tratadas em comparação à testemunha.
Os resultados obtidos por Fuga et al. (2023) indicam que o tratamento do milho com Bacillus aryabhattai proporcionou ganhos de produtividade variáveis conforme a região edafoclimática, oscilando entre 3,2 e 29,7 sacas ha⁻¹ (equivalente a incrementos de 5,9% a 43,7%).
Além disso, experimentos com a inoculação de bactérias não patogênicas (Bacillus sp. e Azospirillum) em campo aberto ou casa de vegetação resultaram em aumento da produtividade do milho (Kavamura et al., 2013; Rodríguez-Salazar et al., 2009) e da cana-de-açúcar (Santos et al., 2017). Rodríguez-Salazar et al. (2009) verificaram que 85% das plantas de milho inoculadas resistiram ao estresse hídrico e ainda apresentaram aumento de biomassa de 73% (May et al., 2019).
Dessa forma, tanto Azospirillum brasilense quanto Bacillus aryabhattai desempenham um papel significativo no aumento da produtividade e na sustentabilidade da cultura do milho. Quando utilizados estrategicamente de acordo com suas aptidões, esses microrganismos não apenas contribuem para o incremento da produção, mas também promovem maior estabilidade produtiva, mesmo em condições de estresse, a um custo reduzido.
Referências:
EMBRAPA. BACTÉRIA ENCONTRADA NO MANDACARU VIRA BIOPRODUTO QUE PROMOVE TOLERÂNCIA À SECA EM PLANTAS. Embrapa Notícias, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/60941801/bacteria-encontrada-no-mandacaru-vira-bioproduto-que-promove-tolerancia-a-seca-em-plantas >, acesso em: 05/03/2025.
FUGA, C. A. G. GROWTH PROMOTION IN MAIZE (Zea mays L.) BY Bacillus aryabhattai STRAIN CMAA 1363. Rev. Bras. Cienc. Agrar, v.18, n.3, 2023. Disponível em: < https://www.agraria.pro.br/ojs32/index.php/RBCA/article/view/v18i3a3340/1533 >, acesso em: 05/03/2025.
HUNGRIA, A. INOCULAÇÃO COM Azospirillum brasilense: INOVAÇÃO EM RENDIMENTO A BAIXO CUSTO. Embrapa, Documentos, n. 325, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/29676/1/Inoculacao-com-azospirillum.pdf >, acesso em: 05/03/2025.
MAY, A. et al. PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO DE MUDAS PRÉ-BROTADAS DE CANA-DE-AÇÚCAR INOCULADAS COM Bacillus Aryabhattai EM DIFERENTES FREQUÊNCIAS DE IRRIGAÇÃO. Embrapa, Boletim de Desenvolvimento e Pesquisa, n. 80, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/195294/1/boletim-80-Andre.pdf >, acesso em: 05/03/2025.
NOOA. AURAS®: REDUTOR DOS EFEITOS DE ESTRESSES. Guia Técnico sobre o Auras®. Disponível em: < https://digital.nooabrasil.com.br/auras#rd-text-joq3m2vw >, acesso em: 05/03/2025.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2018/2019 NO PARANÁ. Embrapa, Circular Técnica, n. 156, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1117312/1/Circtec156.pdf >, acesso em: 05/03/2025.
